É algo curioso que, num ano que começa sob a ameaça da Terceira Guerra Mundial, presenciemos a estreia de dois grandes filmes, cada um representante das épocas das duas grandes guerras antecessoras. Falo de 1917 e de Jojo Rabbit, dois filmes favoritos que marcaram as corridas aos prémios em Janeiro, e que não pararam de surpreender. Foi com isto em mente que fui então ver 1917 ao cinema e, agora, resolvi trazer-te a sua análise.

1917

Antes de mais, a primeira característica deste filme que me captou a atenção, foi o facto do mesmo ser filmado em formato Long Shot. Formato, no qual, a câmara acompanha continuamente os actores no desenrolar da acção, dando ao espectador uma sensação de acompanhamento ineterrupto da acção, sem cortes nem mudanças de plano/contra-plano. A última vez que tinha visto um filme todo ele construído em redor desta técnica, foi com BirdMan. Um drama que captivou imenso na altura e mereceu ser igualmente premeado pela sua genealidade. E que vale sempre a pena rever, uma vez que haja essa oportunidade!

Em 1917, poderia então dizer-te que, desde o primeiro segundo do filme, embarcas numa aventura lado a lado com as suas personagens, quais camaradas, onde testemunhas ineterruptamente cada momento da acção desta longa metragem. E assim o é em boa verdade, embora tenhamos um corte claro a meio do filme, este não compromete em nada tanto a sua história quanto este efeito do seu conceito artístico estabelecido. 

1917

Posto isto, prepara-te para sentires-te como se estivesses a passar cerca de 24h à frente de um ecrã, a experienciar toda a adrenalina e emoção de um dia inteiro na vida quotidiana de um cabo em serviço na Primeira Guerra Mundial. Pois foi assim que me senti ao longo das duas horas de filme.

A emoção é, sem dúvida, um ponto-chave nesta história. Sobretudo, para nós espectadores. Isto porque, hoje em dia, olhamos para trás e não vemos duas frentes em Guerra, mas sim, filhos da terra, rapazes jovens e inocentes, que são acima de tudo apenas humanos, e a quem o futuro lhes foi roubado para seguirem ordens nas lutas daqueles que não se dignam a resolver os seus conflictos pelos próprios meios.

Não digo isto de ânimo leve. Aliás, basta veres um dos trailers do filme e irás aperceber-te de um detalhe: que cada pedaço de terra no cenário detém pedaços de uma miscelânea de corpos perdidos neste tumulto. Uma visão que impressiona o espectador, e que não deve fugir muito da verdade. Quanta terra revoltada deverá ter sido fertilizada com tantos restos e mais restos mortais das vidas que se perderam nestes confrontos? Esta foi uma visão que me impactou bastante, e com todas as suas cores!

1917

A associar a este cenário, temos duas personagens carismáticas que acompanhamos ao longo de 1917, e com as quais simpatizamos quase instantaneamente! Adorei absolutamente a prestação de Dean-Charles Chapman como Blake. Nem acredito que o actor que fez de Tommen na Guerra dos Tronos cresceu tanto e em tão pouco tempo! Tanto em termos físicos como artísticos, com uma grande performance neste filme.

George MacKay como Schofield também não se deixou ficar atrás. Apesar de a sua personagem parecer mais fechada, conseguimos ver todas as suas camadas e características; como tenta suprimir os sentimentos para continuar a seguir em frente, sabendo que no fundo é só mais um rapaz que se fez um homem no meio disto tudo, e que só quer voltar para os seus.

Com duas performances tão fortes, e uma história que parte de uma premissa simples, tipo side-quest à moço dos recados, como quem “Vai lá entregar esta carta”, o argumento teve aqui espaço para explorar tudo e mais alguma coisa. Os momentos de tensão e aflição, os detalhes de como os cabos se orientam com direcções no território, a acção muito bem orquestrada, compõem um argumento muito rico e equilibrado que nos transporta numa jornada emocional.

1917

Aliado ao mesmo, temos Sam Mendes a dirigir e a alimentar a nossa curiosidade, com grandes momentos e planos descritivos que nos familiarizam com toda a acção envolvente e imediações! A acção consegue ser perceptível amplamente, mesmo que uma coisa ou outra aconteça fora do ecrã, para um primeiro efeito de alienação e surpresa. 

Algo que adorei absolutamente foi a sequência em que vemos Schofield a correr pelo meio de uma aldeia em ruinas, com o inimigo no seu encalce. Nessa cena, vemos um excelente trabalho de luzes, com sombras que se mexem constantemente e que intensificam ainda mais a urgência de sairmos daquele lugar. Os planos e transições que seguem esta sequência são uma verdadeira obra prima! 

Por fim, quero falar da experiência que foi a sonoridade deste filme. De 1917, podes esperar efeitos sonoros com muito impacto, pois estamos no meio de uma guerra, por assim dizer, pelo que tal não poderia ficar em falta. De facto, esta componente consegue fazer o espectador estremecer!

Já a nível da banda sonora, se estás familiarizado com AudioMachine, então sabes que estás a embarcar numa experiência épica! Com alguns temas mais calorosos reservados para sentimentos mais humanos, e uma performance especial de I Am A Poor Wayfaring Stranger, de Jos Slovick e Craig Leon, que nos recebemos quando estamos mais que desesperados por um amparo.

CONCLUSÃO
Dos filmes de guerra mais palpáveis que alguma vez vi
9
Joana Sousa
Apaixonada pelo mundo do cinema e dos videojogos. A ficção agarrou-me e não me largou mais! A vida levou-me pelo caminho da Pós-Produção, do Marketing e da organização de Eventos de cultura pop, mas o meu tempo livre, dedico-o a ti e à Squared Potato.
1917-analiseAté podes estar a enterrar as tuas mãos nos braços da cadeira ou do sofá, mas uma coisa é certa: estarás maravilhado com a arte e o espectáculo de 1917!