Friends comemorou o 30.º aniversário a 22 de setembro deste ano, dia no qual, em 1994, o primeiro de 235 episódios foi para o ar. Após a estreia, a série contou com 10 temporadas, dezenas de personagens inesquecíveis e um legado que se estendeu de 1994 a 2004 e de 2004 a 2024, perpetuado pelo streaming, pelo merchandising e por uma coleção de recordações que continua a viver em todos os que assistiram às aventuras de Monica, Ross, Rachel, Chandler, Joey e Phoebe.

Friends é efetivamente uma série gigante, com uma extraordinária recepção por parte do público e com uma avaliação global que merece destaque. Agora, 30 anos após a estreia e enquanto grande fã de Friends, escrevo este artigo dedicado àquela que considero ser a melhor sitcom a que já assisti. Não é uma review, porque Friends já não precisa de reviews, por isso podemos considerar este artigo uma viagem no tempo e ao longo de tudo o que esta inesquecível série nos proporcionou.

Monica (Courtney Cox), Ross (David Schwimmer), Rachel (Jennifer Aniston), Joey (Matt LeBlanc), Phoebe (Lisa Kudrow) e Chandler (Matthew Perry), ignorem a ordem, vai sempre variar, são os protagonistas de Friends. Seis amigos com personalidades únicas e nem sempre em sintonia que formam uFm caricato e divertido grupo que vive a rotina de um modo pouco habitual, mas extremamente interessante e, a determinada altura, até desejável. Estes amigos inseparáveis vivem relativamente perto uns dos outros, chegando mesmo a partilhar casa e o ponto de encontro é quase sempre o mesmo: Central Perk, um pequeno café que serve de cenário para muitas das mais divertidas e memoráveis conversas a que a série deu palco.

Para lá das canecas de café e dos apartamentos partilhados, Friends conduz-nos pelas vidas de cada um dos seis amigos, em comum e em particular. Minuto a minuto, hora a hora e dia a dia, até porque Friends nos ocupa bastante tempo, vamos estando cada vez mais próximos de cada personagem e acabamos, pela profundidade e pela componente genuína com que a história é contada, por considerá-los nossos amigos e pessoas pelas quais nutrimos carinho e empatia. E é aqui que a magia começa.

É como estar em casa

Apesar de a série orbitar à minha volta há vários anos, desde a época em que passava na RTP 2, só há cerca de seis ou sete anos é que assisti a Friends do início ao fim de forma consistente, através da Netflix. Foi uma longa viagem que mudou consideravelmente a minha forma de encarar tantas e tão diversas situações. Durante todo esse tempo, Friends tornou-se uma casa acolhedora, onde entrava para descansar e esquecer um pouco de tudo o que acontecia no mundo real. Era e continua a ser um espaço de conforto que ensina que o melhor é sempre tomar o que nos rodeia como algo relativo, minimizar os problemas com uma piada e nunca esquecer que há sempre um amigo por perto pronto para nos ajudar.

Toda a gente com quem converso sobre Friends tem a mesma opinião: é um regresso no tempo à estética da nossa infância – olá, malta dos anos 90! – que nos traz um quentinho ao coração, não só pelo ambiente, mas por tudo o que o preenche. As cores garridas, as roupas e os elementos decorativos próprios, a simplicidade da vida longe das redes sociais e perto das pessoas, a vida em comunidade e a componente social que fomos perdendo enquanto sociedade são alguns dos muitos pontos que tornam Friends um regresso à casa onde crescemos, ao quarto onde brincámos, aos espaços que visitámos, à música que ouvimos e às pessoas que conhecemos.

Com um brilho especial, a série viveria e teria sucesso só pela energia que transmite. Com a componente humorística que a acompanha de forma constante, torna-se irresistível e combina na perfeição o lado humano e a nostalgia com a leveza e o humor, umas vezes mais doce outras vezes mais ácido (que no fundo acaba por ser o melhor). Uma receita intemporal e extraordinariamente equilibrada, que inspirou obras futuras e moldou o género sitcom.

Rir e chorar por mais

Enquanto série de humor, Friends gera opiniões distintas, como qualquer outra produção do género, mas, a meu ver, não escorrega na entrega de boas piadas e no momento de arrancar gargalhadas. O humor torna-se simples, pouco forçado e, com o impulso do carinho que vamos ganhando pelas personagens, chega a ser genuinamente divertido. Monica, Ross, Rachel, Joey, Chandler e Phoebe passam a ser os amigos que todos queremos ter, nem que seja por viverem em permanente estado de leveza e com uma piada pronta a sacar da manga. É certo que muita da abertura que existia há 25 ou 30 anos para o humor hoje em dia seria vista com maus olhos e muitas das piadas seriam hoje mal recebidas, apesar de estarem longe de ser ofensivas. Felizmente, o conteúdo mantém-se disponível sem censura e é possível rir, ver e rever momentos inesquecíveis e que nunca deixam de ter piada.

Felizmente, Friends é mais do que apenas comédia. Apesar de por vezes se distanciar daquilo que é a rotina do espectador comum, Friends oferece uma abordagem extremamente humana a uma série de questões mais ou menos sensíveis. Esta leitura e escrita de situações é o ingrediente-chave que permite a proximidade entre personagens e espectadores, gerando carinho e empatia e arrancando sorrisos e lágrimas. Um toque que faz toda a diferença e que torna a história mais realista e mais completa e complexa do que uma simples compilação de sketches divertidos.

Entre piadas e brincadeiras, guardamos frases e expressões inesquecíveis, como os convictos ou entusiasmados “I know!” da Monica e os dolorosos “No!” da Rachel. O (supostamente) sedutor “How you doin’?” do Joey e o “Could it be any more…?” do Chandler, que se adapta a qualquer situação. Não podemos passar por aqui sem esquecer “Smelly Cat”, o êxito da Phoebe, e o estridente “Pivot!” desesperado do Ross. Numa montanha russa de emoções, Friends prende-nos à televisão e mergulha-nos num universo simples, mas carregado de referências e de conteúdo entregue à boleia de um enredo que cresce sempre com base no humor e numa visão positiva do mundo.

Como é óbvio, não vou avançar com spoilers, até porque muitos dos que estão a ler este artigo se calhar não viram a série ou não terminaram de a ver, mas garanto-vos que Friends tem de tudo: casamentos, namoros, funerais, festas de aniversário, negócios de catering, partidas de rugby, guitarras e teclados, idas à praia, poltronas extensíveis, massagens suecas, loiça partida, cortes de cabelo duvidosos e até confusões dramáticas no aeroporto. Uma lista que, fora de contexto, tem piada, mas muito menos do que a piada que tem dentro de contexto. Para além dos protagonistas, Friends apresentou-nos ainda Judy e Jack, os pais de Ross e Monica, Gunther, funcionário do Central Perk, Janice, Mike, Carol, Susan e Emily, entre tantas outras personagens inesquecíveis que marcaram momentos-chave da série.

Friends para os amigos

Melhor do que ver Friends só mesmo ver Friends com amigos… e recomendar a série a amigos que passam a gostar! Aconteceu comigo e, por mais simples que pareça, é algo de que me orgulho bastante, não só por ter amigos com bom gosto como por ter contribuído para que eles pudessem viver a série e sentir o impacto que ela tem da mesma forma que eu vivi e senti. Isto para não falar de todas as referências e todos os diálogos que recheiam os mais de 200 episódios de Friends e que podemos usar em conversa e em quase todas as situações. Na verdade, o que pude ir descobrindo ao longo do tempo foi que, mais do que uma série de comédia, Friends é uma série sobre amigos, com amigos e para amigos. E só por isso vale todos os minutos que nos ocupa com gargalhadas e boas memórias.

Há muito que se pode escrever sobre uma série que influenciou o género e marcou gerações, sobretudo de quem nasceu e cresceu nos anos 80 e 90. Tudo o que Friends nos dá, da estética e da vibe dos anos 90 à fantasia de uma vida atribulada com amigos inseparáveis que vivem do outro lado do corredor, aponta no sentido de uma realidade leve, mas quase inatingível. Ainda assim, traz-nos um sentido de nostalgia e conforto que nos leva a acreditar que simples personagens são pessoas reais e que conhecemos, praticamente amigos dos quais queremos ser próximos. Friends não vende uma vida de sonho, mas torna a vida de todos os que assistem à série consideravelmente melhor.

Se nunca viram, acreditem que vale a pena, até porque não conheço ninguém que tenha visto Friends e se tenha arrependido. Passado tanto tempo, continua a ser a minha série preferida. Um espaço seguro, no qual os problemas ficam guardados no armário de desarrumação da Monica, antes de seguirmos para um almoço com amigos, um serão em frente à televisão ou uma tarde de quizz. Friends é uma série única, da qual nunca nos conseguimos separar. Na pior das hipóteses, vá… fazemos uma pausa.