O novo grupo K-pop Aespa, da agência sul-coreana SM Entertainment, estreou-se esta semana e já fez furor nas redes sociais. Mas não apenas pela sua música: o seu conceito envolve uma história entre os membros humanos e os seus respectivos avatars (ou alter-egos).
Aespa
O nome Aespa é uma amálgama entre as palavras “avatar”, “experiência” e “aspecto”, aludindo à relação entre os membros e os seus alter-egos, e à inovação do conceito. É constituído por Karina, Winter, Giselle e Ningning. As suas avatars têm o mesmo nome, mas precedido pelo prefixo “ae-“: ae-Karina, ae-Winter, ae-Giselle e ae-Ningning.
As membros humanas comunicam com as virtuais através de uma aplicação chamada Synk, que, possivelmente, ficará acessível aos fãs (apelidados de MY) para puderem interagir com as ídolos no futuro.
Black Mamba
O primeiro single de Aespa, Black Mamba, bateu o recorde de maior número de visualizações no YouTube durante as primeiras 24h para estreias de K-pop (21.4 milhões). O record anterior (17.1 milhões) tinha sido obtido pelo grupo ITZY com a estreia Dalla Dalla.
Black Mamba transporta o espectador para um mundo virtual onde uma vilã, Black Mamba, bloqueia a conexão entre as raparigas e os seus avatars, e ameaça destruir tudo o que estas conhecem. Entre panos de fundo cheios de cor, efeitos visuais estonteantes, música com um beat viciante, e coreografias de tirar o folgo, não admira que Black Mamba tenha hipnotizado o mundo. Podes também ver a estreia ao vivo aqui.
Mas a indústria da música não é alheia à realidade virtual: em 2018, o grupo K/DA, constituído por personagens do jogo League of Legends, obteve imenso sucesso, em grande parte devido à novidade dos membros virtuais. Estas interagiam com as cantoras em palco, e podiam ser vistas a dançar e cantar ao mesmo tempo. Talvez daqui tenha surgido a ideia para Aespa.
K-pop e AI
K/DA, entretanto, deve ter sido inspirada por vocaloids como Hatsune Miku, uma personalidade virtual feita em 3D que usa voz gerada por computador, que veio a quebrar imensas barreiras na indústria da música.
Mas Aespa é, oficialmente, o primeiro grupo de K-pop metade-humano, metade-virtual. As quatro raparigas de Aespa actuarão no palco, mas os seus avatars poderão também participar nas suas próprias actividades, digitalmente. Por exemplo, substituindo um membro humano se este estiver incapacitado ou ausente.
Um conceito problemático?
Até agora, a recepção do grupo tem sido mista: por um lado, obteve uma legião de fãs fascinada pelo seu conceito, visuais e som; por outro, muitos têm expressado preocupação em relação a um conceito que poderá ser problemático (e muito ao estilo Black Mirror).
Esta preocupação surgiu depois de o fundador da SM Entertainment, Lee SooMan, ter dito numa entrevista que a sua visão do futuro incluía as celebridades a viverem com os seus avatars customizados, através de tecnologia AI. O seu objectivo é que os avatars se tornem nos ídolos favoritos dos fãs, com os quais poderão interagir, trazer o ídolo até às suas casas, etc. Algo que antes não era possível. Uma visão, à primeira vista, com boas intenções, mas que poderá alimentar uma já crescente relação tóxica entre fãs e celebridades, cujos conceitos de “respeito pela privacidade” e “separação entre realidade e ficção” já são, por vezes, muito vagos.
O que era, anteriormente, uma relação puramente parasocial (gerada inteiramente do lado dos fãs, que formam uma ligação com a sua celebridade favorita) poderá vir a tornar-se legítima. Muitas pessoas poderão vir a ter a oportunidade de realizar as suas fantasias mais obscuras, manipulando a realidade virtual à sua maneira, e isso pode representar um perigo para os ídolos.
No entanto, tudo não passa de pura especulação, uma vez que, até agora, nada mais foi revelado em relação ao futuro de Aespa.