Tendo em consideração o passatempo que carrego entusiasmadamente é raro o momento onde não consiga traduzir, em belo português, dentro das minhas possibilidades, os sentimentos que percorrem desenfreadamente a minha alma. Afinal de contas, sendo-vos honesto, faz parte da profissão (palavra utilizada aqui com muita leviandade) conseguir vocabularizar emoções. Age of Empires II: Definitive Edition, com o seu esquema completamente adaptado para as consolas disse “segurem o meu Wololo” e esforçou-se para atingir essa façanha. Não pelo facto do videojogo ser fantástico e intemporal, um verdadeiro colosso que definiu o género da estratégia em tempo real, mas por ser um elemento valioso da minha nostalgia. Nunca pensei que este port fosse possível, porém aqui estamos em 2023.
Desenganem-se, no entanto. Não colocarei o coração frente ao profissionalismo, por muito subjetiva que uma análise seja sempre. Porém, não consigo esconder (nem devo!) o quanto Age of Empires (AoE) significa para mim. Esta franquia, e em especial a segunda iteração, no início dos anos 2000, foi o alicerce da minha ligação paterna em volta do tema videojogos. É certo que já existia Commandos: Behind Enemy Lines ou até StarCraft nas nossas discussões, mas AoE foi outro bicho, aliás continua a ser. Portanto, esta crítica é dedicada a ti, Pai.
Age of Empires II: Definitive Edition continua um legado peculiar, passado de tocha em tocha como o clássico que é. Inicialmente desenvolvido pela Ensemble Studios (Age of Mythology, Halo Wars) em 1999, recebeu uma expansão em 2000 (The Conquerors) e desde então marinou na maionese até 2012. Aqui passou para a Hidden Path Entertainment (CS:GO, Defense Grid) como um remake de alta definição em 2013 na Steam, reacendendo a paixão por um dos títulos mais jogados em LAN, trazendo consigo três expansões (The Forgotten, no mesmo ano, The African Kingdoms, em 2015 e Rise of the Rajas, em 2016).
Finalmente, em 2019, é lançada esta edição definitiva desenvolvida pela Forgotten Empires e publicada pela Xbox Game Studios, com todo o conteúdo lançado anteriormente e ainda quatro novas civilizações, acompanhadas por novas estórias e gráficos em 4K. No entanto, para surpresa de uma comunidade já bafejada com Age of Empires III: Definitive Edition, Age of Empires IV e até Age of Empires Definitive Edition, três novas expansões intituladas Lords of the West (2021) Dawn of the Dukes (2021 e Dynasties of India (2022) prolongam cada vez mais a longevidade deste título.


Ter conhecimento deste contexto é importante porque, em parte, justifica a ideia de adicionar um esquema de controlo, criado de raiz, para um título cujo núcleo já tem mais de vinte anos, não obstante as constantes remasterizações. É uma aposta que visa colmatar a percepção errónea, de uma vez por todas, que RTS (Real Time Strategy) não tem lugar nas consolas, apesar de já existirem ótimos esforços como Crusader Kings 3, The Colonists ou até Halo Wars 2. Age of Empires II: Definitive Edition, na consola, traz consigo a possibilidade de apresentar um clássico a novas audiências, graças à ingenuidade de transpor algo criado com teclado e rato em mente num comando. Algo que, adianto já, funciona muito bem.
Antes de avançar preciso, obrigatoriamente, de escrever esta adenda: Age of Empires II é um videojogo do género RTS, onde a tua estratégia e destreza manusearão quarenta e duas civilizações (até agora) pela era pós-clássica, transformando a tua pequena cidade até esta se tornar num império sobrepor-se ao do inimigo. Um objetivo atingido ao gerir, inteligentemente, recursos como comida, madeira, ouro e pedra, assim como ter consciência dos pontos fortes e fracos de cada civilização. Os Portugueses, cuja história baseia-se nos feitos de Francisco de Almeida, são uma civilização mediterrânica com foco na sua marinha e soldados que disparam projéteis de pólvora, dispondo de uma economia forte tanto no início como no fim da partida.
Um dos grandes pontos atrativos de Age of Empires, e aquele que sempre gostei, foi um foco valoroso na vertente de contador de estórias. Cada civilização, aproximadamente, tem em destaque várias batalhas, frequentemente educativas, com sequências cinemáticas simples e vários elementos narrativos, assim como unidades únicas e objetivos especiais durante os níveis. Cobrir quase mil anos de história humana não será pêra doce, mas a tarefa proposta consegue ser tão divertida e viciante, mais ainda com um menu chamado History que detalha, resumidamente, cada uma das civilizações! Por outras palavras, pensa no canal História, mas com mais interação e menos sono.
Nesta versão definitiva em específico, em muitas partes igual à lançada em 2019, fora o esquema de controlo renovado, o grande chamariz é audio todo remasterizado, com novidades específicas à versão Xbox, e a muito badalada resolução de 4K. Foi curioso encontrar várias opções gráficas como se de um PC tratasse: ligar ou desligar anti-aliasing é uma delas, por exemplo. Dito isto, é refrescante conferir que, cada vez mais, proporcionamos aos jogadores maneiras de personalizar a sua experiência, embora, no meu caso com a Xbox Series S, não encontrei quedas de desempenho apesar dos testes efetuados. De referir e destacar também algumas opções de acessibilidade, como um narrador ativo automaticamente nos primeiros momentos do videojogo.





Como autêntica surpresa, pelo menos para mim, foi encontrar a capacidade de instalar mods, embora até ao momento só estejam disponíveis “Small Trees”, “2019 Winter Celebration Mod”, “No Snow” e “[Anniversary2020] Research Complete Confetti FX”. Não é uma lista muito comprida, algo criticável, mas poderá vir a ser mais extensa no futuro. No mesmo verso da moeda encontra-se indisponível a funcionalidade de criar mapas ou estórias. É infeliz, especialmente para os indivíduos mais criativos, mas é uma niquice considerando o que foi aqui construído.
Em meu ver, já estou a esticar demasiado a corda. Balbuceio sobre tudo menos o que realmente interessa. Deixemos de rodeios e passemos para o que vieram saber: como é jogar Age of Empires II: Definitive Edition na consola com um comando? Com uma surpreendente facilidade por acaso. É tão engenhoso, na verdade, que vejo com bons olhos vários RTS nas consolas num futuro breve! Passo a explicar.
A solução encontrada para manusear tanta interface diferente com inputs limitados passou por delinear prioridades. Dentro dessas prioridades, alguns botões assumem as funções mais importantes. Clicar no D-PAD para cima, por exemplo, seleciona o próximo aldeão desocupado e, caso não seja possível, seleciona um aleatório. Clicar no analógico direito presta acesso a alguns presets que ordenam todos os aldeões a preencher várias tarefas como reunir comida, ou uma mistura de recursos com um determinado objetivo em mente. O gatilho direito acede a menus radiais dependendo de onde está o cursor, e o esquerdo permite criar sequências de ordens para a unidade selecionado como, por exemplo, construir múltiplas casas em sucessão.
Parece complexo, mas é muito mais intuitivo do que parece, e esta versão em específico inclui um excelente tutorial com o intuito de facilitar a transição para o comando. Na hipótese que ainda assim este esquema não funcione de todo convosco não desanimem. Age of Empires II: Definitive Edition na Xbox permite que utilizes o teu rato e teclado como alternativa, com toda a interface a acomodar a mudança.
Admito, no entanto, que em todos os meus testes pequei por não experimentar partidas online, fossem elas ranked, quick play, custom ou até os níveis de estória cooperativos. Age of Empires é um videojogo cuja opção multiplayer nunca gostei, em parte porque o meu estilo de jogo é demasiado relaxado e quebrado em várias partes (nunca faço missões de seguida, por exemplo). Peço desculpa por essa falha.
Um agradecimento especial à Xbox Portugal pela cedência generosa de um código Xbox Game Pass Ultimate que permitisse aceder a este título e tantos outros mais.
Age of Empires II: Definitive Edition já está disponível para Xbox One e Xbox Series X|S.