Século XIX, Alentejo. O sol ibérico abrasador paira sob Alentejo. Numa terra Sem-Lei, um barão controla o negócio do vinho tinto e oprime as pessoas, mas um estranho chega à santa terrinha para enfrentar o tirano e a sua opressão. É com este mote que a Loading Studio nos apresenta o seu mais recente jogo Alentejo: Tinto’s Law (ou Alentejo: a Lei do Tinto para os amigos).

Antes de começar a análise, existe uma pergunta que ocorre na cabeça: Porque este jogo tem um enorme destaque? O jogo ganhou destaque por várias razões:

  • A primeira é que é potencialmente o primeiro jogo mais recente a ser comercializado para o Gameboy e também é compatível para o Gameboy Color e Gameboy Advance;
  • A segunda é que é um jogo 100% português feito por um estúdio sediado em Lisboa fundado em 2022;
  • A terceira ganhou destaque na imprensa nacional e internacional quando foi anunciado que ia sair para o Gameboy, 23 anos depois do último jogo para o Gameboy Color ter saído;
  • E quarta, embora o jogo seja curto, é divertido.

Alentejo foi anunciado no ano passado, e para surpresa de muitos, ganhou a atenção da imprensa não por ser mais um jogo 100% português, mas sim por sair para o Gameboy. É seguro dizer que muita (ou até toda) gente foi apanhada de surpresa com essa notícia e foi anunciado através de um trailer para o Youtube.

A Loading Studios é um estúdio português sediado em Lisboa e fundado em 2022 como já foi referido acima. Após alguma pesquisa, descobri que não só já têm algum currículo, como também já têm um jogo vencedor, o The Fisherman – A Codfish Tale, que ganhou o prémio Playstation Talents na categoria Games for Good em 2023.

O Alentejo é o sétimo jogo da Loading Studios, e de acordo com Vasco Oliveira, um dos cofundadores do estúdio, o jogo foi inspirado das séries antigas portuguesas, principalmente o Alentejo Sem Lei.

O nome dele é Mata, Gildo Mata

O jogo existe em versão ROM (que corre em qualquer emulador que suporte Gameboy) e em versão física muito limitada, a chamada “edição azul” (é chamado assim porque o cartucho é azul), que são os primeiros 20 cartuchos do Alentejo e contêm o jogo totalmente em português, e também a “edição vermelha”, com a limitação de 80 cartuchos e com a opção multilíngue, ou seja, o jogo suporta várias línguas além de português.

Alentejo passa, como o nome indica, no Alentejo em pleno século XIX. Nós somos o Gildo Mata, um «cowboy» (ou como se diz no jogo “vaqueiro”) bastante infame que acaba de chegar ao Saloon (entende-se tasca) da Aldeia do Tinto para beber um copo de Tinto e dá de caras com a corrupção e tráfico de vinho tinto na região. Perante isso, Gildo diz que só sai da aldeia após beber um copo de Tinto e começa a missão de reunir um gangue para conseguir acabar com a tirania do Baron Tinto.

O jogo é um Western Pixel Art, com “gráficos de quadradinhos” tão característicos dos jogos da era Gameboy. O jogo está divido em duas partes: exploração e ação. A exploração permite não só navegar pela cidade e ir aos pontos dos objetivos, como permite também interagir com os habitantes da cidade. E aqui deixo já um elogio ao jogo: a narrativa do jogo está tão parva que é tão boa.

Em algumas conversas parti-me de rir com as interações e digo que, de longe, a conversa com o aristocrata e com o Cristiano e com o Ronaldo (e não estou a gozar aqui, são mesmo nomes) sobre o Football é a minha favorita. A cara de “mauzão” de Gildo e as suas respostas frias consegue proporcionar algumas risadas graças ao seu sarcasmo e mau humor, ou o jogo não fosse uma sátira inspirada da famosa série portuguesa Alentejo Sem Lei como já tinha mencionado.

A parte de ação acontece dentro das localidades onde temos o objetivo ou onde há “vaqueros” espanhóis. Aqui não há muito a apontar, temos bandidos para abater e puzzles por resolver. E é nesta parte que tenho que falar sobre a jogabilidade.

YEEEEEEESSSSS!

O jogo tem tudo o que é padrão de um jogo de Gameboy, ou seja, na exploração temos um botão para interagir com as pessoas e objetos e um botão para o mapa. O mapa mostra a Aldeia do Tinto toda, que, como um bom clássico jogo de Gameboy nos tempos iniciais, não tem um ponto a assinalar onde estamos, e acredito mesmo que tal coisa não foi incluída por causa da capacidade de memória do cartucho que só tem 8Mb de memória.

Mas o maior foco está nas partes de ação. Temos um botão para interagir com os objetos tal como na exploração e um botão para disparar e temos que ter em conta, que, como em qualquer outra boa «cowboyada», o revólver é de seis tiros, e quando acabam os tiros o jogo trata de recarregar a arma automaticamente.

Os puzzles são fáceis inicialmente, mas confesso que me deram luta lá mais para o fim. Felizmente tenho que dar um grande destaque à inclusão de um botão para conseguir reiniciar o puzzle. Graças a isso evitou-se ter que sair da sala e voltar a entrar para reiniciar o puzzle e isso era uma coisa que odiava mesmo neste tipo de jogos antigamente.

Gastei um bom tempo a tentar perceber a solução e eventualmente consegui passar e acabar o jogo, e digo que só por ter dado luta e fazer-me pensar o jogo ganhou alguns pontos.

Como partes negativas o principal é mesmo a ausência de opção de gravar o jogo, mas para “compensar”, se morrermos em algum momento reiniciamos na sala onde morremos e digo que é o menos mal pois evita ter que reiniciar a zona toda de novo. A minha maior frustração tem a haver com a mecânica de tiros. Nós temos de virar cara a cara com o bandido para poder acertar dele, mas, houve em maior parte das situações em que isso se torna impossível porque os bandidos conseguem disparar “balas mágicas” como se tivessem GPS e acertam sempre em nós exceto se estivermos protegidos atrás de um obstáculo. Ainda morri um bom par de vezes por causa dos tiros dos bandidos que nos perseguem e já me fez falhar tiros também.

MATARAM-ME! – Gildo Mata

Sobre o som para começar não tem música na introdução. No geral tem 3-4 músicas que tocam dependendo da situação, e como se costuma dizer, “são poucas mas são boas”. Gostei mesmo de ouvir as velhas melodias 8 bits de um jogo de Gameboy e aqui tenho que elogiar o trabalho do estúdio, mas tenho que criticar também pela ausência de qualquer efeito sonoro como tiros ou nós ou o bandido morrer e isso faz sentir o jogo algo vazio em alguns momentos.

Outra coisa que não posso deixar de destacar também e elogiar mais uma vez o Loading Studio é termos a opção de jogar com um comando ou teclado na versão digital.

Em nota final, tenho que apontar que o jogo é bastante curto, acabando por volta de 1-2 horas dependendo de querer conversar com os habitantes da aldeia ou a velocidade em que conseguimos resolver os puzzles, mas isso não impede de elogiar o esforço do estúdio que está de parabéns e de desfrutar de uma boa sátira de faroeste que faz lembrar as séries portuguesas antigas que passavam na RTP.

YYEEEHHAAWW!!

Honestly. Can someone tell me, what the f*** is Tinto?

Agradecimento à Loading Studio por ter dado gentilmente a oportunidade de poder analisar o jogo.

Alentejo: Tinto’s Law já disponível digitalmente aqui e em cartucho para o Gameboy através do site da Teknamic Software aqui.

CONCLUSÃO
Bang Bang Compadre
6
Hugo Campos
Tendo o Mortal Kombat II como o 1º jogo que jogou desde os 5 anos, teve todos os PCs até ao Pentium 3 e mudou para as consolas quando consegiu ter dinheiro. Grande viciado de jogos de corridas, luta, RPGs e musicais, tem uma grande de coleção de jogos de ps2 até ao 5. É cofundador do canal da Twitch dos Team Squil.
alentejo-tintos-law-analisePessoalmente digo que, embora curto, diverti-me bastante com o humor e a sátira do Alentejo. Os controlos estão dentro do expectável para um jogo para o Gameboy e está simples e bom. Felizmente a parte 2 das aventuras de Gildo e o seu gangue já está em andamento e já tenho um boa expectativa para a sequela que vem.