Hoje vamos falar de Alice Nova Iorque e Outras Histórias, um filme luso-americano que se tem sagrado em festivais internacionais, como o Roma Prisma Independent Film Awards, o Diamond Film Awards, Kalajoki Film Festival, entre outros, colocando novamente os holofotes numa produção onde se fala a língua de Camões.
O mesmo filme conta com a realização de Tiago Durão, enquanto a produção esteve a cargo de Sofia Mirpuri que também aqui interpreta o papel de Alice, personagem principal no filme. Desde já, e antes de mergulharmos nesta análise ao filme, gostaria de deixar uma nota de agradecimento à NOS Cinemas por proporcionar à Squared Potato a oportunidade de visionamento e consequentemente de análise a esta obra. Enfim, luzes, câmara, acção!
Alice Nova Iorque e Outras Histórias começa por nos introduzir à trama da nossa personagem principal, que após grande infortúnio, se vê a tomar a decisão de mudar de ares, e a viajar para Nova Iorque em busca de uma vida nova. A partir daqui, é algo delicioso de se testemunhar as voltas que a vida dá na história desta grande mulher. No entanto, desengana-te se pensas que o foco desta obra é só a sua história.
Este é um filme sobre todas as Alices, Anas, Ritas, Palomas, Victors, Franks, Richards, e Joshuas deste planeta. Um filme multi-cultural onde mal se distingue a história principal, no mar de estórias que aqui se cruzam e colidem, com cada personagem a crescer, se desenvolver individualmente e a se encontrar internamente. Tudo sobre um véu satírico, com uma forte inspiração nas obras de Woody Allen, e pulverizado com grandes referências a clássicos do cinema.
Não quer, contudo, isto dizer que todas as personagens presentes neste enredo sejam interessantes ao espectador de acompanhar. De facto, depende um pouco dos gostos de cada um, quase como que se estivesses aqui a escolher novos amigos. Alice e Victor, foram as personagens que mais genuinamente senti prazer em acompanhar, (para além do Narrador, cuja pequena participação foi mais vivida que certos papéis de destaque no filme). Estes pareceram-me ser a dupla de personagens com personalidades mais aprofundadas no filme, e cujo ritmo de desenvolvimento da história é mais energético e cativante que os demais mais repetitivos ou deambulantes.
Temos, por exemplo, a trama do casal Rita e George que muito sinceramente partia-me o coração a assistir ao abuso psicológico de Rita sobre George, embora este último não fosse de todo um anjinho. Para bem e para mal das interpretações dos actores, era sufocante testemunhar os conflitos entre eles. E cena após cena, o espectador exasperava: “outra vez arroz…”
Mas que havia qualquer coisa de curioso e interessante na personagem de George, havia. E tal sinto que ficou muito perto de chegar ao clímax do seu próprio desenvolvimento. O seu papel final no filme, desenrolou-se como se o espectador tivesse perdido alguma parte importante no meio da sua história. Outra personagem interessante que teve pouco desenvolvimento foi sem dúvida Richard, que rouba completamente a atenção do público cada vez que entra em cena. Teve pouquíssimas cenas no plateau, infelizmente.
Na perspectiva da direcção, senti sempre uma estranha sensação de estarmos demasiado perto das personagens nos grandes planos, como se uma leve abertura do plano, pudesse ter levado os enquadramentos a respirarem melhor em termos de composição. Focando mais o ponto de vista fotográfico, teríamos sem dúvida caminho para alguns melhoramentos nesta obra.
No entanto, em termos estéticos, é notável um forte empenho na construção de paletas cromáticas relevantes. Os tons sentem-se sobretudo frios, mas harmonizantes, conversando com as personagens e os seus estados de espírito, de forma a novamente aproximarem-nos destas. Um detalhe que vemos ser transposto para um guarda-roupa que também comunica connosco.
Sinto, no entanto, que a luz poderia ser melhor trabalhada nos cenários interiores. Pois apesar de perceber a visão do aspecto mais natural com que a luminosidade das cenas foram trabalhadas, assistimos a uma leve contradição com a presença permanente da vinheta que escurece os planos do filme.
Alice Nova Iorque e Outras Histórias conta com uma certa ausência de em grande parte das cenas, e embora os efeitos sonoros até estejam no ponto quando existem, o ruído ambiente sobressai mais que o que seria desejável.
Alice Nova Iorque e Outras Histórias já está disponível nas salas de cinema nacionais.