Situado em Mitaka, o Studio Pierrot é responsável por produzir, muito possivelmente, algumas das séries de anime mais vistas no Japão e no mundo.
As aventuras do eterno ninja laranja da vila da folha, em Naruto, as lutas frenéticas e sobrenaturais de Yuusuke em Yu Yu Hakusho e Bleach, e até o simpático Café do urso polar (Polar Bear’s Cafe) foram todas obras deste lendário estúdio de animação.
Também é sinónimo de produções cinematográficas das mesmas obras referidas, bem como de um sem fim de produções televisivas, e até para videojogos, como é o caso da duologia de Keio Flying Squadron, um jogo de culto para as consolas da Sega.
Para finalizar, o Studio Pierrot também contou já com produções ocidentais, presente nas grandes séries da Nickelodeon, como Avatar: The Last Airbender e Avatar: The Legend of Korra.
O Maior Foco do Studio Pierrot
Desde muito cedo, o Studio Pierrot focou-se em séries de acção, shounens da revista Shounen Jump, Shounen Sunday, e Mahou Shoujos, alimentando um catálogo vasto de obras que estavam a ser serializadas mensalmente nas páginas dessas revistas.
Tendo uma demografia tão abrangente, foi muito fácil para o Studio Pierrot derrubar barreiras culturais e linguísticas, invadindo, até, a indústria cinematográfica ocidental. Ao passo que o Studio Ghibli demorou décadas neste apontamento, para o Studio Pierrot a sua politica era muito simples: deixar as crianças entusiasmadas em frente ao pequeno ecrã semanalmente, em vez de estrear um filme que teríamos, talvez, uma vez por ano. Fez, desta forma, uma ponte perfeita entre manga, televisão e público.
O Seu Começo
As origens deste lendário estúdio remetem-nos até 1979, época em que a Tatsunoko Production reinava em todo o seu esplendor. Yuuji Nunokawa e alguns ex-funcionários decidem aventurar-se e criam um novo estúdio de animação, cujo conceito se centra em passar para o ecrã personagens e aventuras em larga escala, que acompanhávamos em páginas de revistas.
A origem do seu nome e logótipo simbolizam o entretenimento, não só porque tem a forma de um palhaço como também o seu nome é derivado da simbologia de qualidade. Neste país, Itália é sinónimo de arte e requinte, e Pierrot é um tipo de palhaço originário da Commedia dell’arte, fortemente inserido na interação com o público.
As Obras que o Construíram
A viagem de Nunokawa começa com um grande sucesso, quase intemporal, que já fez, continua a fazer, as delicias de vários fãs (o qual poderás ficar a conhecer melhor na rúbrica Animes Studio Pierrot). Urusei Yatsura, também conhecido simplesmente por Lum (no nosso país) foi a primeira grande adaptação, que lhe conferiu o lugar e estatuto na indústria da animação.
A adaptação da obra de Rumiko Takahashi, co-produzida entre a Kitty Films e Studio Deen, traduziu-se num enorme índice de audiências e, até durante a sua exibição, conseguiu aumentar consideravelmente o número de vendas da obra original, OVAs e até levar Lum ao grande ecrã sob a forma de seis filmes, sendo o segundo um dos mais aclamados no que toca a obras recorrentes de televisão a cinema. Convido todos a assistirem a Urusei Yatsura 2: Beautiful Dreamer.
Face ao grande sucesso da invasora do bikini tigrado, o Studio Pierrot decide também aventurar-se em adaptações shoujo, usando como molde as Mahou Shoujo. Longe estava de imaginar que se encontraria perante não só uma descoberta. como também de criar um molde que nos acompanha cada vez mais.
Mahou Shoujo
Creamy Mami, The Magic Angel, em 1983, foi a sua obra Mahou Shoujo primogénita. Pouco depois tivemos Magical Emi, The Magic Star, Magical Fairy Persia, Pastel Yumi, The Magic Idol, e Fancy Lala, The Magic Stage. (Poderás ficar a conhecer cada um deles nos nossos próximos artigos – fica atento!)
Creamy Mami ficou conhecida como a pioneira de uma nova estratégia de marketing e vendas: a “media mix”. A premissa seria usar um anime para promover e lançar uma nova cantora ídolo, menos conhecida. Essa ídolo era Takako Ohta. Em Creamy Mami, a sua personagem também tinha essa actividade, por isso foi extremamente fácil ligar os vários media.
O tema de abertura “Delicate ni Suki Shite” foi também a sua primeira iniciação musical no mundo real. Ohta não era uma seiyuu formada e treinada, mas sim uma cantora. No entanto, deu voz a Yu, materializando-se num enorme sucesso. A obra tornou-ser célebre e Ohta ganhou uma popularidade tão grande que ainda pode ser encontrada nos dias presentes.
Em 1999, a Fuji TV realizou um inquérito para decidir qual era o tema mais popular para uma demografia de 25 anos de idade, e Delicate ni Suki Shite conquistou o primeiro lugar.
Um Pioneiro na “Media Mix”
Dizer que Creamy Mami abriu as portas às cantoras ídolo em anime pode ser controverso, porque em 1978, tivemos Pink Lady Monogatari.
No entanto, temos aqui dois grandes pontos a referir. Pink Lady Monogatari é baseado num duo pop Pink Lady, bem popular nos anos 70. Tahato Ohta não era conhecida até surgir Creamy Mami, pelo que podemos assim constatar que o Studio Pierrot foi o pioneiro da técnica “Media Mix”, definindo moldes e portas para futuras obras.
Rivalidades
O sucesso do Studio Pierrot fez abalar os pilares de várias outras empresas, especialmente os da Toei Animation.
As duas empresas começaram a fazer uma corrida a obras manga mainstream (de grande sucesso), adaptando-as e tentando manter a todo o custo a sua permanência durante anos e anos. Como as adaptações ainda estavam a decorrer nas páginas da revistas, os estúdios não tiveram escolha e criaram pequenas mini-histórias que poderiam, ou não, estar impressas na obra original.
Surgem aqui os polémicos fillers: escrita fraca e com animações para lá de duvidosas. Isto porque recorreram a estúdios de animação de terceiros de forma a que a série pudesse fluir semanalmente sem quebras.
Porém, a Toei Animation ganhou a corrida no que toca adaptações com mais de cem episódios. Foram dezanove, enquanto que no caso do Studio Pierrot foram apenas sete – ou oito, se contarmos com o inevitável sucessor de Naruto, o seu filho Boruto.
Um Legado Poderoso
É incrível como um dos pontos negros desta indústria nasceu de uma disputa entre dois estúdios e que continua, de certa forma, a ser travada nos dias de hoje.
Durante a sua vida, o Studio Pierrot ganhou três vezes com distinção o prémio Animage Anime Grand Prix Award, duas com a sua obra Yu Yu Hakusho em 1994 e 1995, e uma com Saiyuki no ano de 2000.
Mesmo perdendo a corrida contra a Toei Animation, brindou-nos com obras célebres, tanto ou mais do que as da Toei, e que já fazem parte da história do anime e da animação no geral.