Estamos a viver uma época em que para onde quer que olhemos vemos algo relacionado com Inteligência Artificial. Se um dos grandes impulsionadores para este tipo de visibilidade (já que a pesquisa sobre o assunto não é, de todo, de agora) têm sido empresas como a OpenAI, nos bastidores temos uma gigante tecnológica que muitos de nós olhamos como produtora de Unidades de Processamento Gráficos, nome pomposo para placas gráficas, de nome NVIDIA.

Apesar de nos últimos anos a própria NVIDIA se ter aventurado no mundo da venda directa das suas gráficas Founder Edition que provocou de certo modo um aumento de concorrência não só nos preços mas também nos pacotes oferecidos pelos seus parceiros AIB (Add-in Board Partners).

O que é então um AIB? Um AIB não é mais do que um parceiro que compra os chips de processamento gráfico à Nvidia e os utiliza nos seus desenhos customizados de placas gráficas, seguindo sempre as directrizes definidas pela NVIDIA.

O que nos deixa com uma nova pergunta: o que difere os vários parceiros?

  • O desenho do PCB (placa de circuitos impresso);
  • Embora a NVIDIA forneça um design de referência, os parceiros podem modificar o desenho do PCB para optimizar a eficiência energética, melhorar a dissipação de calor e acomodar componentes personalizados. Este tipo de alteração é muito comum em placas direcionadas para o overclock, por exemplo;
  • Qualidade e qualidades dos componentes energéticos;
  • Também os componentes que são responsáveis pela troca de energia entre o GPU a memória e toda a placa PCI, podem alterar de parceiro para parceiro. Aqui entra, por exemplo, a estabilidade da placa gráfica em situações de stress. Isto é alcançado por capacitores de melhor qualidade, VRM (módulos de regulação de voltagem) mais robustos, ou indutores para redução de ruído e estabilização de corrente elétrica;
  • Conectores e portas;
  • Aqui podemos ter alterações do número de saídas HDMI ou DisplayPort, entradas USB ou até conexões de energia extra;
  • Sistemas de refrigeração e outros extras;
  • Talvez o que mais diferencia à vista entre os vários parceiros será o sistema de refrigeração (cooler), enquanto a Nvidia opta por um sistema de refrigeração de câmara de vapor com dois eixos de ventilação, a maior parte dos parceiros usa a dissipação com um eixo de ventilação e com heatsinks maiores;
  • Relativamente a outros extras não poderia faltar a iluminação RGB ou até parceiros que injetaram ecrãs nas placas gráficas;
  • Software e BIOS;
  • Por fim, algo que muitas vezes é descurado, é o software fornecido pelos parceiros, quer seja na forma de aplicações terceiras, quer seja das próprias BIOS das placas gráficas, que podem permitir, por exemplo, overclocks de fábrica, ou vários perfis de funcionamento das placas

Pegando nestas premissas que temos sobre os parceiros, temos nas nossas mãos um dos mais antigos da NVIDIA é a ASUS, empresa fundada em 1989 em Taiwan que conhecemos bem da produção de todos os componentes informáticos, de motherboards a headphones, mas também passado por smartphones ou monitores.

No mercado das placas gráficas a Asus posiciona-se com vários modelos: ROG Strix, TUF, Proart e colaborações com a Noctua. Todos os modelos da Asus são direcionados à qualidade e têm diferentes características entre si que vão desde a capacidade de overclock e refrigeração, colocando por exemplo as Strix num patamar mais apetecível para os entusiastas do overclock e as TUF (The Ultimate Force) num patamar, vamos dizer carinhosamente, médio (nem que seja pelo preço).

Conhecendo agora a marca e o posicionamento do mercado da mesma, podemos afirmar que quando recebemos a ASUS TUF 4080 SUPER para review, a primeira impressão que tivemos foi decididamente o peso da caixa, o que nos preparou desde logo para algo em grade, em todos os sentidos.

O modelo 4080 SUPER da NVIDIA vem substituir o modelo 4080, ambas com arquitectura Ada Lovelace, posicionando-se num patamar de preço inferior mas com uma performance ligeiramente superior, posicionando a NVIDIA com uma placa no mesmo patamar da concorrente 7900 xtx, o que veio dificultar ainda mais a escolha para muitos os que procuram uma placa de gama alta para resoluções elevadas.

E aqui a ASUS não se fez rogar em rapidamente adaptar a sua excelente base TUF para nos dar uma placa gráfica com qualidade de materiais muito acima da média, e que a posiciona num patamar superior no que diz respeito às 4080 SUPER.

Se a primeira impressão da caixa era o peso, ao retirarmos a placa verificamos que não é somente o peso que temos que ter em conta, mas também o tamanho. A placa tem uma altura de 3.5 slots e as dimensões são de 348.2 x 150 x 72.6 mm. Como podemos desde já ver temos de ter em atenção o tipo de caixa onde a queremos utilizar pois a placa é um verdadeiro monstro! E a ASUS sabe disso, a prova é a inclusão de um holder ajustável para diminuir o esforço na entrada PCI provocado pelo tamanho e peso da gráfica.

Como acessórios temos ainda um suporte montável para dispormos a placa, o adaptador de 3×8-pin PCIE para 12+4 pin 12VHPWR e o manual de instruções rápido.

A placa conta com 2 saídas HDMI 2.1a e 3 saídas Displayport 1.4a.

A instalação da placa é igual a todas as placas gráficas, tirando talvez o tamanho da mesma. Numa primeira tentativa experimentamos uma caixa micro ATX onde o comprimento não era problema, contudo a altura da gráfica interferia com a refrigeração da mesma e optou-se por uma caixa  Full ATX (neste caso uma Factral Design Define 7, caixa com alguns anos e com um airflow reconhecidamente deficiente), aqui sem qualquer problema de espaço para o tamanho monstruoso da Asus TUF.

A fonte de alimentação utilizada foi uma Corsair RM850x de 850 Watts mas sem saída de 12+4 pinos, tivemos então de utilizar o adaptador fornecido pela ASUS e verificar se todas as conexões estavam bem feitas. Um fato interessante é um LED, vermelho, de controlo que a Asus colocou que fica aceso quando a placa está desligada, algo que poderá irritar quem queira um setup limpo quando não o está a utilizar. Hardware instalado, foi hora de tratar do hardware, para termos a certeza que tudo estava sem qualquer tipo de incompatibilidade de drivers, utilizámos o DDU para eliminar por completo todas as drivers NVIDIA e instalar a mais recente versão.

Uma das customizações já habitual da série TUF por parte da ASUS é a escolha de perfil na própria placa. Estes perfis são configurados através da introdução de uma DUAL BIOS que pode ser seleccionada pela alteração de uma pequena patilha por cima da conexão de energia. (esta alteração não ocorre on the fly, temos de ter a energia desligada para efectuar a alteração) Temos então um Silent Mode que coloca a placa com um consumo máximo 320 Watts e um Performance Mode nos 360 Watts. Aqui também o perfil das ventoinhas é alterado entre os dois, com o primeiro a ter um foco por volta dos 72º e o segundo nos 63º. Na nossa utilização a troca entre os perfis pouco alterou em termos de performance mensurável e mesmo em barulho pois a placa é extremamente silenciosa.

Muito deste silêncio deve-se à qualidade de construção que a ASUS introduz na sua gama TUF. A backplate ajuda um pouco na dissipação do calor, feita inteiramente em metal e com uma coloração preta dá à placa um ar premium. Mas sem dúvida que o principal responsável pelas boas temperaturas é o cooler utilizado, massivo! Associado às 3 ventoinhas e com uma protecção em tons cinza, o conjunto faz o seu trabalho de forma exímia. Com este cooler massivo (não sei se já tinha referido) as temperaturas rondaram no máximo os 60 graus em toda a utilização que demos. As ventoinhas, essas, sempre definidas com a curva por omissão pouco foram ouvidas durante as nossas sessão de jogos.

Com este cooling, quem precisa de AC?

E aqui poderíamos falar dessas mesmas sessões, mas já que estamos com as mãos numa das placas mais potentes do mercado e vivemos numa época onde a Inteligência Artificial é rainha em todas as manchetes, não poderíamos nós também deixar de lado um teste a uma LLM (Large Language Model) e fazer usufruto das excepcionais capacidades que a Nvidia oferece para termos o nosso próprio ChatGPT em casa.

Num pequeno resumo, com a utilização do WSL em Windows 11, fizemos a instalação de uma distribuição Ubuntu (altura em que muitos já me devem estar a rogar pragas) e começamos por instalar algo chamado PrivateGPT.

A partir daqui entra toda a preparação que a NVIDIA tem vindo a fazer com a adopção de LLM e a capacidade CUDA de processamento de informação. Tendo a NVIDIA drivers específicos para correr em ambientes unix para servir LLM, a utilização de um GPT no nosso computador é algo que tem o seu quê de fascinante, mas também de desilusão pois nos nossos poucos testes utilizámos um modelo com 7B de parâmetros que foi relativamente rápido no carregamento e nas respostas. Utilizando a totalidade dos 16Gb de RAM da gráfica as respostas foram sempre bastante rápidas embora muitas vezes sem nexo.

Passando ao próximo nível e a conversa já foi outra, utilizando um modelo de 70B e a instabilidade foi tanta que somente uma vez conseguimos sequer efetuar um pedido ao modelo. Não deixou de ser impressionante a facilidade em que instalámos, configurámos e utilizámos uma LLM que nos deixa, nos dias de hoje, assoberbados se pensarmos que o ChatGPT 4.0 tem 1.76T (triliões) de parâmetros.

E foi aqui que decidimos ir realmente jogar! O hardware que acompanhou a 4080 SUPER foi um AMD 7800X3D com 32GB de RAM. De notar que as resoluções que utilizámos foram de 1920×1080@144Hz (FHD) e de 3440×1440@144Hz (UWQHD) e obtivemos algumas conclusões interessantes. A primeira é que uma 4080 SUPER para a resolução HD é sem dúvida overkill para a resolução, principalmente se gostarem de jogar o VSync activado.

Full HD (1080p) com Raytracing, FrameGen e DLSS
Ultra Wide (1440p) com Raytracing, FrameGen e DLSS

Já o Ultra Wide, apesar de não ser 4K, revelou todo o poder que a 4080 SUPER tem para oferecer em performance bruta. Não utilizando somente as funcionalidades exclusivas como o DLSS 3 ou Ray Tracing, a 4080 SUPER foi por si uma evolução gigante relativamente ao que estava habituado (uma TUF da série anterior, uma 3070). Pegando no jogo de eleição, Doom Eternal, foi, no fundo, um teste sem sentido colocar em FHD com os settings no máximo, sem DLSS e sem Ray Tracing e ver os FPS a estoirar para os quase 400… Vendo que se calhar não fazia sentido, passámos então para o UW onde a performance continuou ao nível dos 300FPS.

Altura de ligar tudo a que temos direito numa placa da série 40 e eis quando a performance com DSSL 3 balanceado com Ray Tracing se mantém bem acima dos 200 FPS e foi aqui que mantivemos o patamar, onde a maior parte dos jogos que experimentamos mantiveram os mesmos valores, óbvio com excepções. Baldurs Gate 3 realmente faz uso de tudo o que a gráfica tem para dar e dependendo das zonas tivemos zonas onde estávamos acima dos 200, e outras abaixo dos 100. Também o Red Dead Redemption se revelou um desafio, onde os cento e poucos FPS foram uma constante, mas com uma fluidez e fidelidade extraordinárias. Também o Cyberpunk 2077 revelou como a integração com tecnologias NVIDIA, feita da forma correta, pode transformar por completo a experiência de jogo. Em FHD obtemos um Benchmark de 220 FPS, o UW mostrou-nos uns sólidos 141 FPS alcançados com Ray Tracing, mas com a ajuda do frame generation e DLSS 3.

Resta-nos ainda falar da integração do Armory Crate que nos permite personalizar os leds presentes na placa e também fazer toda a sincronização Aura se tivermos outros componentes com leds ASUS.

Como apreciação final sobre a placa, não temos propriamente pontos maus para apontar, obviamente que não podemos deixar de mencionar que estamos a falar de uma peça de hardware que aos preços actuais poderíamos comprar uma PS5, uma Xbox e uma Nintendo Switch pelo preço de tabela de uma 4080 SUPER (e aqui nem mencionamos somente a Asus), contudo quem for realmente amante de jogos e a sua plataforma for o computador, esta é uma das peças de hardware que deixa qualquer um de queixo caído. A atenção ao pormenor, a qualidade de construção e as funcionalidades oferecidas por esta ASUS TUF valerá a longo prazo o investimento.

+ Pontos Positivos

  • Qualidade de construção e atenção aos pormenores
  • Capacidade de utilizar todos os sinos oferecidos pela Nvidia
  • O Suporte da gráfica é um bom pormenor incluído pela Asus
  • O refrigeramento eficiente torna qualquer sistema silencioso
  • O controlo dos LED consegue ajustar a gráfica a qualquer setup

– Pontos Negativos

  • O led vermelho de low power acaba por ser irritante para quem tenha caixas com vidro temperado em ambientes escuros
  • Não é dependente da Asus TUF, mas o tamanho de toda a série 40 da Nvidia é monstruoso, e esta Asus é das maiores do mercado.