Quem diria que a saga Atelier conseguisse captar a atenção de tanta gente e inclusive converter novos fãs. Foi, nada mais nada menos, o que Atelier Ryza (1): Ever Darkness and the Secret Hideout conseguiu fazer.
Pegando no que melhor caracteriza a saga, adicionando algumas melhorias e facilidades e com alguma melhoria nos visuais e bum, tivemos uma entrega que bateu recorde de vendas e deu direito à primeira sequela direta da saga principal nos seus 23 anos de saga (mais de 25 à data da análise).
Estas melhorias poderiam não ter servido para nada se, inicialmente, não tivesse havido o buzz que houve em redor da entrega. Buzz conseguido graças ao design da protagonista Ryza.
A Gust conseguiu acertar em cheio e agora tem a oportunidade única de estabelecer a saga Atelier como um referente dentro do género. Conseguirá esta nova entrega manter a qualidade que o primeiro Ryza nos trouxe? Fiquem para descobrir.
História
Três anos decorreram desde o emotivo final de Atelier Ryza. A nossa protagonista já não é a “problemática” Ryza, mas sim uma professora na sua ilha e uma grande Alquimista. Os dias decorrem lentamente, agora longe de todos os amigos que partiram, em busca de alcançar os seus sonhos. Ryza começa a aperceber-se que lhe falta algo. Não só não consegue evoluir mais como alquimista, como sente saudade dessa tão especial aventura de verão que viveu com todos os seus companheiros, guardado-a a sete chaves no seu coração ofegante. Certo dia é-lhe apresentada uma oportunidade, de transportar uma misteriosa pedra à capital Asha-am Baird. Ryza nem dúvida e, com o bastão em mão, parte para uma nova aventura.
Os Ateliers dão maior atenção ao dia a dia dos personagens do que a uma grande história no cômputo global. Em Ryza 2 não é diferente. Desde os primeiros momentos do jogo teremos que descobrir os mistérios da criatura Fi que apareceu da “pedra” entregue a Ryza, no início do jogo, enquanto investiga, juntamente aos seus companheiros, os mistérios das ruínas que envolvem as imediações. Estas ruínas, por si só, também contam histórias do mundo que as rodeia, tanto por visões como pelos cenários.
Tudo tem uma progressão bem calma, estando constantemente a aparecer cenas estilo slice of life de Ryza e seus amigos e conhecidos. A história começa bem calminha na primeira metade, mas vai ganhando relevância pouco a pouco, enquadrando-se perfeitamente no feeling que esta saga nos habituou.
Da entrega anterior temos Ryza, Tao, Klaudia e Lent de volta como personagens jogáveis, tal como o rival do grupo Bos que, entre meados do jogo anterior e este, teve uma grande evolução, ajudando constantemente Ryza (e é uma pena não ser jogável). Além destes, teremos também novos colegas como Patricia, uma jovem nobre e com uma paixoneta por Tao e Cliff, um caçador de tesouros. Os personagens da anterior entrega continuam a evoluir na sua caracterização enquanto os novos são introduzidos e evoluídos de forma similar.
Jogabilidade
Vou resumir já desde o início. Não existem grandes mudanças relativamente à primeira entrega, é mais do mesmo, mas se esse mesmo é excelente e agora está ainda melhor, pois não tenho nada que objetar.
O sistema de combate segue a tónica de um combate por turnos em que controlamos um personagem que, quando a sua barra está cheia, pode realizar a sua ação, enquanto os outros dois companheiros atuam por sua conta. Temos um indicador AP que se enche ao realizar ataques normais e algumas habilidades especiais. Ao acumular AP o tactics level aumenta, o que nos permitirá acumular ainda mais e usar técnicas mais poderosas.
Podemos mudar e controlar o companheiro, mas o tempo continua a passar e não teremos muito tempo de reação, logo convém ficar focado em controlar apenas um.
Uma das novidades em Ryza 2 é a possibilidade de usar um botão para defender, isto permite reduzir o dano e se usado no momento certo, ganhar AP. Ao usar esta defesa, a barra de turno deixa de se mover pelo que, enquanto o usemos, o nosso turno não chegará.
Outra novidade é permitir usar habilidades dos companheiros sem ter que mudar de personagem. Também temos um personagem em reserva que, com um toque de um botão, facilmente entrará em combate.
Podemos usar objetos através do uso de CC. Estes objetos podem ser utilizados sem se gastar, desde que tenham CC.
Os inimigos estão presentes em campo e o combate iniciará quando entramos em contacto com eles, ganhando vantagem se os atacarmos com algumas das nossas ferramentas.
Fora do combate também segue semelhante. A alquimia continua a parte central do título (e ainda bem). Juntamos diversos objetos para obter outros. Existem habilidades próprias de cada objeto e outras que se podem passar entre objetos. O sistema de alquimia desta entrega contínua relativamente simples para fazer o básico, mas permite muitas opções para quem queira exprimir o sistema, permitindo experimentar livremente.
Como Ryza já é uma alquimista experiente, em vez de subir de nível e aprender a maioria das receitas de livros, tem uma skill tree que, resumidamente, permite “lembrar-se” de técnicas de alquimia e receitas de objetos anteriormente feitos. Ela lembra-se através dos SP, que se obtêm ao fazer alquimia e ao cumprir missões secundárias.
Os objetos (ou produtos) obtêm-se no campo ao recolher tanto com as mãos como com diversas ferramentas que iremos desenvolvendo (como um machado, cana de pesca, entre outros) e ao derrotar monstros em combate. Temos também à disposição formas de duplicar e fortalecer objetos.
Existem diversas missões/objetivos secundários tanto com personagens da equipa e conhecidos como através do quadro de missões. As missões com personagens permitem evoluir nas histórias destes.
Um novo sistema jogável desta aventura é o Compass of Recollection e o Exploration Diary. Ao entrar nas ruínas teremos que preencher este Diary com a ajuda do Compass. Teremos que realizar diversas ações que podem ser recolher algo ou derrotar algum inimigo, além de que teremos que encontrar umas “visões” espalhadas por cada uma das ruínas. Tudo isto permite avançar na história e descobrir novas receitas e objetos.
Também existem novas formas de interatuar com o que nos rodeia. Podemos explorar montado num animal, saltar por precipícios, nadar, entre outras. Pode não ser nada revolucionário, mas dá uma sensação de aventura bem acentuado, especialmente o poder mergulhar e explorar a profundidade aquática.
Visuais
Continuamos com os belos visuais introduzidos na primeira entrega, com cenários divididos por zonas, detalhados e com umas texturas melhoradas. Os modelados dos personagens e NPC principais ficou ainda melhor, carregados de pequenos detalhes e com mais animações. A arte continua magnifica. Existe certa repetição de modelados de NPCs e inimigos durante todo o jogo.
Temos diversos locais a explorar, destacando as diferentes ruínas congeladas no tempo e diferenciadas que ajudam a transmitir melhor a história. A cidade principal apresenta um bom tamanho e está surpreendentemente cheia de detalhes.
Na PS5 o jogo aponta para os 4k e 60fps, mas apresenta quedas de framerate em diversas partes, mas nada que prejudique a jogabilidade. Na Switch o jogo segue a tónica da primeira parte, correndo muito bem no hardware da Nintendo, com umas pequenas quedas, destacando-se dentro do catálogo.
Som
Novamente, a Gust sempre se destacou pelas suas bandas sonoras. Ryza 2 continua o legado da saga e, mais especificamente, da sua anterior entrega com a “ligeira” mudança que houve no tipo de músicas, voltando a apresentar muita qualidade e menos quantidade, no geral. Gosto sempre quando existe distinção entre os temas durante o dia e noite, estando uns com mais potências e os outros com toques mais relaxantes.
Alguns dos meus temas favoritos foram os de batalha “Balmy Summer Breez” e “White Dew, Windswept Grass” que ouvimos constantemente e mostram perfeitamente a personalidade do jogo, tal como o tema principal “A New Experience Summer Adventures“.
Pessoalmente, não gostei nada do tema de abertura, de longe o mais fraco de toda a saga.
As vozes estão apenas em japonês, mantendo a qualidade anteriormente apresentada. Sinto muita falta das vozes em inglês na saga.