Tenho enorme respeito e um tremendo apreço pela Obsidian. A forma como criam os seus universos e nos deixam imersos durante horas e horas a fio, é o resultado do seu sucesso e o porquê de serem um dos gigantes do género de RPGs. Não é de agora que esta mescla que resulta numa mistura muito complexa de design de arte, jogabilidade e sobretudo uma boa escrita, nos conquistam. Já o fizeram com tantos títulos como Alpha Protocol, Pillars of Eternity, Fallout New Vegas, South Park: The Stick of Truth e mais recentemente com The Outer Worlds, e um dos meus jogos favoritos de 2022; Pentiment.
Avowed é mais um destes títulos especiais da Obsidian, que respeita a essência de um action rpg e nos faz emergir num mundo construído com muito carinho e dedicação. A Xbox Game Studios, tem aqui uma joia de fantasia e um dos grandes títulos de 2025.
O Mundo da Fantasia
Com a base narrativa de Pillars of Eternity, o título é ambientado no mesmo mundo de Eora. Trata-se de um lugar fascinante, com uma história e mitologia rica, numa terra em que os Deuses são muito ativos e presentes no mundo, podendo influenciar eventos e até mesmo surgirem em manifestações físicas.
A narrativa principal gira em volta da Dreamscourge, uma misteriosa doença da alma que tem afectado pessoas, animais e toda a fauna. O maior dos mistérios sobre esta praga, é que ninguém sabe como ela se espalha, mas a maioria já aprendeu a reconhecer os primeiros sintomas. Primeiro, sofre-se de confusão, desorientação e alucinações. Conforme o quadro piora, o infectado passa a ter um comportamento imprevisível e errático, como se estivesse preso num pesadelo. No último estágio, pensem nos clickers de Last of Us, em que a pessoa se transforma num pesado e violento aparato terrorifico: um crescimento fúngico a tomar o seu corpo, e além de perder completamente o controlo da sua mente e alma na totalidade.
O jogo apresenta uma narrativa em constante tensão entre povos, e começa precisamente quando somos enviados como porta-voz respondendo diretamente ao imperador de Aedyr, para desvendar e tentar resolver a questão da Praga. A jornada começa em Paradis, a movimentada cidade portuária no coração das terras férteis. Este centro vibrante é também o epicentro da tensão entre as tropas de Aedyr e os habitantes locais, desconfiados da crescente presença do império nas suas terras.

A nossa personagem é extremamente misteriosa e isso cativa ainda mais a imersão, já que somos um Godlike, ou tentando explicar de outra forma; uma pessoa de alguma forma abençoada e tocada por Deus. Será nesta primeira explicação que começa a verdadeira experiência RPG desde o menu de criação, porque tal como o jogo avisa, terás a oportunidade de personalizar a tua personagem com marcas faciais, e até escolher um passado que irá moldar a forma como o mundo te vê e reage, podendo seres um nobre, aprendiz de feiticeiro, ou até herói de guerra.
Claro que a narrativa principal é apenas um grande pormenor, e como habitual no género, vai-se construindo de uma forma gradual, e algumas decisões muito definitivas terão que ser tomadas no final. No entanto, Avowed não é só a main story, é rico em histórias paralelas com criatividade, multiculturalismo, e uma riqueza vasta no que toca ao de design de arte e construção de toda a atmosfera, vivenciada no encantado mundo das terras férteis. Como é habitual da Obsidian, seguindo o seu belo trabalho de Outer Worlds, existem problemas sociais para serem resolvidos, assassinatos e mistérios com subnarrativas muito interessantes, e até bounty hunters com recompensas gratificantes como armas e armaduras únicas.
A forma como a Obsidian constrói e desenvolve os seus personagens é sublime, com foco especial para os companions, que, a meu ver; foram aprimorados em relação a The Outer Worlds. Além das suas histórias serem superabundantes em detalhes de narrativa, também durante as cerca de 50 horas passadas nos reinos de Avowed, senti que as escolhas tinham mais peso que no jogo anterior. Os companheiros de viagem sentem mais as nossas decisões, e abordam-te com temas que os incomodam, chamam-te à razão, apoiam-te, e vibram contigo nas escolhas mais acertadas.
Diferente de outros jogos da desenvolvedora, em Avowed senti mais peso pelos meus actos, isto porque a nossa personagem é muito respeitada pelo seu estatuto e acima de tudo pela sua condição, assim; mais responsabilidade rcai sobre nós. Como dizia um grande filósofo chamado Peter Parker: “with great power comes great responsibility“, e é bem verdade. Algumas decisões são bem mais impactantes que The Outer Worlds e até Fallout New Vegas, jogos também com repercussões incríveis das nossas escolhas.
Jogabilidade melhor que nunca
Explorar o mundo de Eora não é tarefa fácil (sobretudo se estiveres mal equipado), ainda que esteja carregado de locais que de alguma forma chamam por ti, te incentivem à exploração. O equipamento é essencial para uma build sólida, de acordo com o teu estilo de jogo. O arsenal à disposição é imenso, e poderás combinar espada e escudo, arco e flecha, feitiços, espadas pesadas de duas mãos e martelos, e até armas de fogo. O jogo convida-te a experimentar builds novas constantemente, e faz isso com um valor baixíssimo da moeda do jogo para resetar os pontos de atributos.
Para um bom equipamento, precisamos de armas e de trabalhar um pouco com a skill tree. Para as armas, existem algumas especiais com skills passivas únicas, assim como armaduras. A qualidade do item é o já conhecido clássico comum-raro-lendário que poderás evoluir, e até trocar de passivas com alguns items que poderás obter de criaturas. É refrescante num momento ser um bárbaro focado na força e pancadaria de duas mãos, como de repente já estar na minha vibe intelectual e varinha na mão e abdicar do machado pela varinha. Quanto às habilidades, não só tu como os teus companheiros vão contar com imensas habilidades para algumas combinações explosivas activas, e outras passivas na base de buffs e healing. A árvore de habilidades é composta por 4 separadores: Fighter, Ranger, Wizard e Godlike, este último será igual para todos, e desbloqueia com o progresso do jogo.
Mas nem de equipamentos e skills viverá o progresso e defesa do teu personagem. Existem escolhas precisam que ser feitas, e só com alguns atributos poderás desbloquear algumas delas. Se já jogaste alguns títulos RPG da Bethesda ou até o mais recente The Outer Worlds da Obsidian, já conheces o sistema de atributos, que contam com umas ligeiras modificações: Força, que te dá mais percentagem de dano e capacidade de carga, Constituição, que se foca na percentagem de vida máxima e resistências, Destreza, com foco na velocidade de ataque e acção, Intelecto, ideal para fãs de builds de magia, e determinação, que ajuda na percentagem de recuperação do fôlego e energia máxima para lançar os feitiços. Estes atributos podem ter boost de acordo com os items que estejas também a utilizar, e tal como os jogos do género, podes usar a teu favor nos diálogos caso tenhas os pontos necessários para isso; Ameaçar sem distribuir pancadaria? Investe na força. Achas que o NPC de uma quest pode mudar o rumo da sua história com um pouco de coragem? Investe na determinação, e por aí vai…

Jogar Avowed é extremamente satisfatório. Nunca soube tão bem controlar um personagem da Obsidian como neste jogo. Os elementos de Parkour são incríveis, e ainda podem ser aprimorados com certos equipamentos. É uma frescura não continuar naquele modelo habitual do género, com controlos lentos, e pouca mobilidade. Aqui, o nosso godlike consegue usar o parkour a seu favor. A maior parte do jogo é percorrida a pé, e estes elementos ajudam imenso a saltar sobre obstáculos, baixar e esgueirar por espaços estreitos, subir e descer saliências e saltitar entre objetos altos. Também conseguimos nadar, e aconselho a explorarem bem os oceanos, pois podem encontrar muitas surpresas por lá, perdidas de naufrágio, entre outras curiosidades. Também existe um modo em terceira pessoa, mas honestamente acho que confunde ainda mais e a movimentação fica um pouco tresloucada. Definitivamente, Avowed não foi feito para jogar assim.
Já o combate, na versão Xbox Series (a qual eu testei) não é perfeito, e com a sensibilidade standard pode até dificultar às vezes no corpo a corpo, devido ao autoaim do comando que atrapalha mais do que ajuda, mas depois de apanhar o jeito das mecânicas, fica muito interessante. Uma das novidades implementadas são golpes de stealth, com um dano absurdo, que te dão um pouco mais de liberdade de abordar alguns cenários. Também te podes desviar dos ataques caso seja impossível de defender com a tua arma ou escudo, numa espécie de dodge rápido, o que facilita alguns encontros massivos. Além das habilidades que podes adquirir, tens o golpe de charge, que tal como o anglicismo indica, permite carregar um ataque poderoso e soltar, para um dano extra. Também pode ser usado para te transportares de alguns locais curtos sem possibilidade de salto.
Parabenizo a Obsidian por lançar um jogo bastante polido. Recordo-me de jogar Fallout 76 numa build de review ou até The Outer Worlds depois do lançamento, e apanhar alguns bugs pelo caminho, mas aqui, apenas tive problemas com um NPC que não aparecia, obrigando-me a dar reload do checkpoint, e as vozes do jogo, que estão ausentes se estiveres com a consola em Português de Portugal, algo corrigido ao trocar o idioma. No entanto, será algo facilmente corrigível no lançamento.
Mundo Vivo
É incrível como na primeira vez que vi elementos do jogo, não gostei do visual, mas bastou algumas horas para ficar apaixonado pela direção de arte apresentada aqui. Avowed apresenta um grafismo que me surpreendeu, mesmo numa Xbox Series S. Com uma variedade de espécies que povoam o mundo do jogo, e a sua fauna vibrante que parece ganhar vida a cada interação. Os visuais contam com cores vibrantes que saltam aos olhos imediatamente, e os personagens – mesmo os NPCS -, exibem texturas incrivelmente detalhadas, realistas, e com movimentação fluida e natural, adicionando um toque de dinamismo e evoluindo imenso o quesito visual no género de action rpg.
A banda sonora está na maior parte do tempo, discreta e misteriosa, criando uma atmosfera relaxante que me faz lembrar Assassins Creed Odyssey, não me perguntem o porquê. No entanto, quando a ocasião exige, entrega temas poderosos que se encaixam na intensidade dos combates, por exemplo. É uma banda sonora que faz jus ao mundo de Eora, e um complemento perfeito quer seja para exploração com o nosso personagem, como para embates mais intensos.

O jogo foi testado numa Xbox Series S, que conta com Ray Tracing e uns estáveis 30 quadros por segundo no modo qualidade e uma resolução de 1080p, e existe um modo para quem tem televisões de 120hz, que faz o jogo suportar 40 quadros por segundo, mas não tive a oportunidade de testar. As primeiras impressões fizeram-me estranhar, porque já não estava habituado a jogar um fps a 30 quadros por segundo, mas rapidamente me habituei.
Já se tiveres uma Xbox Series X, tens 3 modos à tua escolha: modo qualidade, com resolução de 4K e 30 quadros, o modo desempenho, com uns sólidos 60 quadros numa resolução de 1800p, e por fim o modo balanceado, que uma vez mais, te obriga a ter uma televisão de 120hz, rodando assim em 4K e 40 quadros. Para a malta do PC Master Race, as possibilidades são infinitas, desde que cumpras os requisitos minimos estipulados:
- CPU: AMD Ryzen 5 2600 / Intel i5-8400
- GPU: AMD RX 5700 / Nvidia GTX 1070 / Intel Arc
A580 - Memory: 16GB
- Storage: SSD required (75GB install size)
- DirectX: Version 12
Agradecemos à Xbox Portugal por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma Xbox Series X/S.