Quase um ano depois de chegar ao PC, Back Then chega à plataforma da Playstation. Uma experiência “videojogável” que tem como bandeira a sensibilização de uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo.
Composta por uma equipa de cinco pessoas, a primeira proposta do estúdio indie português Octopus Embrace é um, de facto, um título sui-generis: Back Then apresenta-se como um jogo narrativo na primeira pessoa do qual controlamos Thomas Eilian, um escritor idoso e debilitado pela doença de Alzheimer.
Antes de me incidir sobre o jogo, tenho a necessidade de esclarecer (ou relembrar), um aspeto crucial: mas afinal que doença é esta? De acordo a Associação Alzeheimer Portugal, a mesma é definida como “um tipo de demência que provoca uma deterioração global, progressiva e irreversível de diversas funções cognitivas (memória, atenção, concentração, linguagem, pensamento, entre outras)”. Esta deterioração, por sua vez, provoca “alterações no comportamento, na personalidade e na capacidade funcional da pessoa, dificultando a realização das suas atividades de vida diária”.
Mal carregamos o botão para iniciar este jogo, os desenvolvedores sublinham que o objetivo de Back Then é de realçar o impacto da doença de Alzheimer, que, afeta, mais de 50 milhões de pessoas à escala mundial. Como já referido, nós controlamos Thomas Eilian que se movimenta através de uma cadeira de rodas. A jogabilidade tem como foco a a exploração dos cenários, interagimos com determinados objetos com intuito de resolver quebra-cabeças e desvendar a trama no seio familiar do qual Thomas está inserido.
De forma muito redutora, Back Then pode ser resumido como sendo um “walk simulator”, mas a narrativa faz superar qualquer rótulo. De que forma? Através dos diálogos dos familiares de Thomas e até dos próprios monólogos do personagem principal. É uma reflexão introspetiva sobre a condição humana e sobre a noção da passagem do tempo. Isto referindo-me em termos narrativos. Em relação à parte “jogável”, não é o mais desafiante. Tem alguns quebra-cabeças que envolvem combinações para acertar e labirintos para percorrer, mas nada de muito desafiante para o jogador.
A forma como abrimos as portas é também um “desafio”. Para fazê-lo temos de carregar o R1 em conjugação com o analógico esquerdo. Apesar da desnecessária, creio que sua implementação estará relacionada com a própria dificuldade motora do personagem principal.
A banda sonora, que acompanha a nossa “jornada” de alguém que vive isolado com a doença de Alzheimer, excede as expetativas. Consegue transmitir o sentimento de solidão que Thomas possui, para o jogador. As composições tocadas ao piano estimulam os nossos sentidos e fortalece aços de ligação às estórias de vida do protagonista ouvidas
Sensibilizar é o foco principal
Noticiado pelo Squared Potato em 2019, Back Then foi premiado no PlayStation® Talents como “Melhor Jogo de 2019” e foi também laureado com o Prémio PlayStation® Talents Especial Games for Good, por ter sido um jogo “que melhor incorporou temáticas de responsabilidade social no seu conceito, contribuindo para um diálogo aberto sobre problemas reais da nossa sociedade e do nosso mundo”.
E é nesse aspeto que me quero focar. Na minha perspetiva, o ponto forte de Back Then é de sensibilizar uma doença que afeta milhões de pessoas em todo o mundo, assim como dos seus respetivos familiares. Se pudesse resumir numa frase, Back Then é um PSA (Public Service Announcement; em português, anúncio de serviço público) apresentado sob a forma de um videojogo. Muito simples e muito curto, é certo, mas impactante em termos narrativos. Foi, de facto, uma experiência sui generis, que me tocou.
Back Then já está disponível para a PlayStation 5 e PC.
Agradecemos à Octopus Embrace a cedência de uma cópia para análise na Playstation 5.