A Bayonetta destemida e sem papas na língua que tão bem conhecemos desde 2009, nem sempre foi assim tão objectiva e fatal; que o diga Hideki Kamiya, que quase 15 anos depois do primeiro lançamento, nos decidiu entregar a sua idealização já há muito pensada e contada muito discretamente nos 3 jogos anteriores das origens e moldagem de personalidade de Cereza, que a fez ser conhecida pela Bayonetta dos dias actuais.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon inicia-se com a apresentação da nossa pequena bruxa na sua plenitude da adolescência, com 15 anos. Cereza é uma menina pária, por ser fruto de um relacionamento proibido entre clãs rivais, e vive em constante angústia quando é impossibilitada de visitar a sua mãe, ainda que separada por uma jaula de aprisionamento. No desassossego dessa hipótese, a nossa pequena, mas destemida protagonista, parte com o seu peluche Cheshire numa jornada pela floresta de Avalon —uma zona perigosa e proibida pela sua mentora Morgana—, na incessante procura pela sua progenitora.
A história é contada como se de um conto de fadas se tratasse. Um folhear de páginas vibrantes de cor vão narrando a prosa, com um simpático sotaque britânico interpretado pela Jenny Lee na versão Inglesa, a qual eu joguei. A escrita é simples mas directa, explicando muito bem a jornada de transformação de personalidade da nossa protagonista, e do seu controlo das artes da bruxaria.

O universo massivo e sempre assombroso em grandes escalas que a série Bayonetta nos habituou, é substituido aqui por um mundo artístico de aquarela. Tudo é bastante entusiástico, com cores cuidadosamente pensadas, que exprimem o ambiente em que a nossa pequena bruxa se encontra. Todos os cantos suscitaram a minha curiosidade de exploração e mesmo assim fiquei muito longe dos 100%, tal é a quantidade de segredos da floresta de Avalon e arredores.
A jogabilidade pode ser desafiante nas primeiras horas, mas assim que se conhece as mecânicas e se começa a fazer experiências de sincronização entre os dedos e o cérebro, a habilidade aparece, e vai progredindo a cada hora de jogo passado. O conceito de controlarmos Cereza com o analógico esquerdo (L) e o seu demónio em simultâneo com o analógico direito (R) foi uma ideia arrojada da Platinum Games, que já tinha feito algumas destas experiências em Astral Chain, outra das suas propriedades.

As opções de combate das primeiras horas dão a ilusão que Bayonetta Origins será um jogo chato e extremamente repetitivo, mas assim que se começa a desbloquear novos golpes e habilidades, muito rapidamente se esquece esta ideia, e tudo o que queremos é mais e mais combates. É impressionante como apenas com um input de ataque de cheshire se consegue tornar um jogo tão satisfatório; algo que muitas desenvolvedoras deviam aprender.
O mapa da floresta de Avalon pode ser complexo caso queiras completar tudo o que nele é presente. A exploração é um dos elementos-chave em Bayonetta Origins e compensam-te muito bem caso o faças, tanto em termos narrativos como em upgrades para as tuas duas personagens. Pensa em Origins como um metroidvania no sentido literal do género; com áreas inalcançáveis desde a primeira hora de jogo, mais tarde desbloqueáveis com ajuda de alguns poderes especiais domados ao longo da jornada. Infelizmente a UI do mapa não é de todo a coisa mais intuitiva possível, uma vez que é apresentado de câmara fixa e confunde imenso algumas localizações de chests ou outros itens espalhados. Isto é algo que pode desmotivar os exploradores que prezam completar tudo.

Não há nenhum conto de fadas brilhante em experiência audiovisual sem uma boa banda sonora à mistura, e Bayonetta Origins não desilude nesse quesito. É refrescante, misteriosa e, ao mesmo tempo muito familiar. Os fãs de longa data da série vão ficar extremamente satisfeitos com algumas novas versões de temas já conhecidos, com um toque subtil que fazem toda a diferença nesta prequela. Também não podia deixar escapar alguns efeitos sonoros claramente inspirados na franquia Zelda, que me deixaram com um sorriso cada vez que descobria um baú, por exemplo.
Bayonetta Origins: Cereza and the Lost Demon já se encontra disponível, para a família de consolas Nintendo Switch.
A equipa Squared Potato agradece o código digital cedido gentilmente pela Nintendo Portugal.