Beyblade, os piões que encantaram crianças e jovens desde os anos 2000, foram um dos brinquedos que rodopiaram comigo durante boa parte da minha juventude. A possibilidade de trocar peças entre piões diferentes, criar novas combinações ou a simples satisfação de os colocar a rodopiar e vê-los a chocarem na arena de batalha foram motivos mais que suficientes para criar bons momentos de diversão e rivalidade entre amigos.
Infelizmente, com o avançar do tempo e da minha idade, o interesse foi-se perdendo, e pouco a pouco, estes foram deixados numa pequena caixa, a qual ainda hoje possuo guardada no fundo do meu armário. Porém, o nome “Beyblade” nunca ficou esquecido. Mesmo já crescido, tenho olhado pelo canto do olho os novos lançamentos que foram saindo. Estes passaram por novas gerações, onde a segunda geração (Metal Fusion) introduziu mais metal nos seus piões, tornando-os mais pesados e com mais algum tempo de rotação.
A terceira geração (Burst) voltou um pouco atrás na fórmula, utilizando novamente o plástico nas suas lâminas de ataque, mas agora introduzindo a mecânica “Burst”, que faz o pião rebentar caso este leve com golpes demasiado agressivos. Estas gerações, infelizmente, não foram motivo suficiente para atrair um adulto como eu a investir novamente na franquia, ficando estes Beyblades vistos como itens bonitos de exposição numa loja de supermercado.
Contudo, 2024 marcou o 25º aniversário da franquia Beyblade. E com este marco, a quarta geração de Beyblade chegou ao nosso território, pelas mãos da Hasbro. Esta nova geração pegou nos conceitos das gerações anteriores (Metal Fusion e Burst) e juntou-los num só, para criar um design mais limpo, robusto e moderno. Além desta melhoria, um novo gimmick foi também introduzido, que permite aos piões realizarem manobras radicais e agressivas quando interagem no novo Xtreme Beystadium. Este conjunto de novidades revelou-se relevante o suficiente para me convencer (um geek adulto) a pegar novamente num pião e a reviver a nostalgia adormecida de há mais de 20 anos! Com esta enorme introdução fora do caminho, vamos então conhecer melhor a geração Beyblade X?
As peças fundamentais de um Beyblade X
A nova geração Beyblade X, assim como todas as gerações anteriores, continua a contar com um sistema modular de peças. Em específico, temos 3 componentes que constituem o Beyblade: Blade (Lâmina de ataque), o Ratchet (Engrenagem) e o Bit (Ponta). Estas partes desempenham um papel crucial para que o pião consiga girar e cumprir as suas funções. Vamos então conhecer um pouco cada uma das partes:
Blade

Esta é a peça que tem mais contacto com os outros piões na arena. É a peça metálica que decidirá o tipo de impacto que vais fazer contra o teu adversário, dependendo do formato da mesma. Uns têm a função de lançar outros piões para fora da arena (atacantes), outros preocupam-se em defender-se dos impactos dos ataques do oponente (defensores) e outros simplesmente focam-se em ter uma forma que os permita rodar por mais tempo (resistentes). Além dos três tipos, temos ainda outros que possuem mais do que um atributo, podendo ser tanto dedicado para defesa ou ataque, dependendo da combinação de peças utilizada.
Ratchet

Ratchet pode ser considerado o coração do Beyblade. Esta peça é a que une as restantes peças do pião, além de definir a altura do mesmo e, consequentemente, a sua resistência ao Burst. Todos os ratchet possuem um código que identifica o número de saliências e a sua altura (ex: 3-80, significa que possui 3 saliências e possui 8mm de altura). As saliências ditam a facilidade com que o ratchet poderá destrancar-se do Beyblade. Vê isto como um puxador de gaveta, quando mais saliente, mais fácil é chegar lá. Por norma, quanto menos salientes forem melhor, mas claro que há exceções à regra. Uma delas é a utilização de lâminas com características especificas, que conseguem proteger ou ocultar essas saliências, tapando as fraquezas. Já falando na altura, quanto mais baixo for o ratchet, menos probabilidade há de o oponente bater lá em baixo e destrancá-lo. Em contrapartida, quanto mais baixo for, mais fácil é destrancá-lo quando comparado com os mais altos. Existem igualmente exceções que podem dar alguma vantagem ao utilizar-se ratchets altas ou baixas, dependendo muito do tipo de lâmina ou bit que se utilize e sobretudo do tipo de abordagem que desejado perante o Beyblade do oponente.
Bit

Por fim temos os Bit, a última peça que faz com que o Beyblade gire e se movimente pela arena. Cada Bit tem um propósito específico, dependendo do tipo de ponta que possui. Como nas lâminas de ataque, os Bits podem conceder diferentes tipos de movimentos ao pião, como um rápido movimento para investir com mais força contra o oponente, ficar mais estável no centro da arena ou uma combinação das duas. Claro que cada um tem os seus prós e contras, como os Bits de maior movimento (ataque) terem menos tempo giro do que os mais estáticos. E estes últimos são mais propícios a serem cuspidos para fora da arena por terem menos área de contacto e estarem bem no centro da arena. Além disso, alguns dos Bits podem ser mais grossos, concedendo ao ratchet uma maior resistência aos Bursts. Isto tem-se verificado com mais frequência nos Bits direcionados para o ataque.
Uma nova e excitante mecânica
Como já mencionei, esta nova geração acompanha uma nova mecânica (ou gimmick se assim o quisermos chamar) que envolve a arena Xtreme Beystadium. Os Bits do Beyblade possuem uma engrenagem ao seu redor que, ao encaixarem cremalheira lateral da arena (chamada de X-Celerator Rail), concedem um sprint veloz e quase preciso, investindo a todo o gás contra qualquer pião que encontre pelo caminho. Esta mecânica foi a solução perfeita para criar batalhas mais rápidas e intensas, reduzindo drasticamente os momentos monótonos de assistir a dois piões dançando à volta um do outro à espera de contacto. Confesso que ainda fico surpreso quando assisto a grandes investidas dos piões, resultando que grandes impactos entre eles ou a algum destes ser cuspido para fora da arena.
Para acompanhar esta mecânica, foram também atualizadas as regras de jogo, sendo que temos uma nova condição de vitória: os Xtreme Finish. O novo Xtreme Beystadium conta com uma nova bolsa maior no lado central, além das duas que se situam nos cantos. Quando um pião é lançado para dentro dessa bolsa, são pontuados 3 pontos, em vez dos típicos 2 quando inseridos nas bolsas mais pequenas. Não coincidentemente, a posição desta bolsa foi colocada na zona a favor dos Xtreme Dash, então qualquer pião no meio da arena tem o risco de se tornar numa bola de futebol, pronta a ser chutada para a baliza pelo pião ganhar boleia da X-Celerator Rail. No entanto, o tiro pode sair pela culatra, pois se o pião atacante for demasiado rápido e falhar acertar o pião do oponente com o Xtreme Dash, este poderá fazer um auto-Xtreme Finish, custando-lhe 3 pontos. É aqui que as peças usadas e as técnicas de lançamento têm um papel importante no espectro competitivo, sendo necessário conhecer que tipo de pião vamos enfrentar e que propósito este tem na arena. Atacar, defender, resistir mais tempo? É isto que torna Beyblade X emocionante, profundo e, principalmente, divertido!
Qualidade assegurada e arenas exclusivas
Conforme reportado por fãs da franquia, nas gerações anteriores verificou-se um grau de qualidade inferior por parte da Hasbro, quando comparada com os da Takara Tomy, empresa produtora de Beyblade no Japão. Estas passavam por ligeiras modificações dos piões e fraca pintura dos mesmos. Ainda mais, na geração Beyblade Burst, o próprio mecanismo que fazia um pião explodir eram ligeiramente diferentes entre as duas marcas, havendo problemas de compatibilidade ao tentar trocar as peças entre estes. Felizmente, este já não é mais o caso com Beyblade X, pois agora os moldes são totalmente idênticos entre ambas produtoras. Isto são excelentes novidades tanto para os que sempre desejaram obter um produto com a qualidade da Takara Tomy, como também para o cenário competitivo, pois não haverá diferenças entre piões de regiões diferentes, sendo mais viável a participação destes em torneios não oficiais. Sim, apesar de serem idênticos, a Hasbro ainda proíbe o uso de Beyblades importados da marca Takara Tomy nos seus torneios oficiais (mesmo que estes já estejam à venda em ambos os territórios), algo que me faz um pouco de confusão, pois são os mesmos piões, com o mesmo peso e aparência.
No que toca aos lançadores, a Hasbro cortou custos e decidiu dar-nos pequenos lançadores baratos, comparados aos que a Takara Tomy entrega nos seus. Estes mini lançadores dão para desenrascar, mas não servem de todo para o espectro competitivo. Se tiveres oportunidade, adquire o Kit Premium do Soar Phoenix 9-60GF que acompanha um lançador de corda muito bom e ainda um Pião que é atualmente bastante competitivo ou, quando estiver por cá disponível, o Beyblade X Winder Launcher.

Atualmente existem 2 Beystadium que podem ser adquiridos. O primeiro é o Xtreme Beystadium, uma arena preta, com uma cúpula transparente e uma X-Celerator Rail verde, que faz parte de um kit inicial, acompanhado de dois piões (Tusk Mammoth 3-60T e Dran Dagger 4-60R). Esta será a minha e única sugestão de compra se alguma vez tiveres interesse em entrar nesta nova geração de Beyblade X. Já a segunda arena, apenas chamada de Beystadium, é uma arena verde, cujo X-Celerator Rail está embutido no próprio molde. Mas o grande problema que vejo aqui é a ausência da bolsa maior, sendo substituída por mais 2 bolsas nos cantos. Também, ao contrário do Xtreme Beystadium, esta arena não tem uma área semi-coberta, havendo mais suscetibilidade de algum pião sair disparado para fora da arena. O peso também não ajuda, sendo visíveis mais oscilações quando as batalhas ficam mais intensas.
No entanto, fiquei um pouco triste que, apesar de não existirem diferenças entre Beyblades da Hasbro e Takara Tomy, o Xtreme Beystadium da Takara Tomy aparenta ser mais largo que o da Habro, dando espaço para manobras mais controladas, ao contrário da arena da Hasbro, que acaba por ser mais compacto, obrigando os piões a confrontar-se rapidamente, mas com a forte probabilidade de algum sair para fora da arena. Enfim, são gostos e preferências de cada um.
Os perigos acrescidos que devem ter-se em conta
Com a nova presença de metal e o gimmick dos X-Treme Dash, é normal levantar alguma preocupação acerca dos perigos que um objeto metálico a movimentar-se a alta velocidade pode ter. Sendo um produto para crianças a partir dos 8 anos, é importante que haja supervisão de um adulto, para que situações infortunas não aconteçam. Como suporte, a Hasbro tem o seu próprio guide-line de como devemos batalhar na arena, inserido em todos os seus produtos Beyblade X. Desta forma, estes salvaguardam-se de eventuais queixas e críticas por parte dos consumidores.
Beyblade X como desporto oficial?
Beyblade X conseguiu transformar-se num produto mais refinado, distanciando-se cada vez mais da aparência de brinquedo, tornando-se em algo direcionado para um público mais crescido. Sou a prova viva de que estes piões têm-me atraído cada vez mais a cada novo lançamento. À semelhança das outras gerações, esta está em constante evolução, mostrando designs cada vez mais apelativos para os fãs, como algumas gimmicks embutidas nos próprios Beyblades.
A Asia é a região onde há forte presença de torneios de Beyblade, com uma escala de idades bem abrangente. Desde miúdos a avós, todos participam e se divertem, apresentando as suas combinações favoritas e competindo na arena na busca da vitória, ou simples diversão. Por outros territórios, temos também algumas presenças em torneios, contudo, estes maioritariamente não oficiais, com faixas etárias igualmente diversificadas. Em Portugal, este ainda não está forte o suficiente, merecendo alguns conjuntos de torneios oficiais, realizados em centros comerciais e em nas lojas de brinquedos, como a Centroxogo. Infelizmente, nestes torneios oficiais, só foram aceites participantes de faixas etárias entre os 8 e os 14 anos. Isto deixa-me a questionar se no futuro não haverá o levantamento destas restrições etárias, havendo assim lugar a mais participantes. Enfim, por agora é isto que temos ao nível oficial, sendo os torneios não oficiais os mais convidativos para os amantes da franquia, independentemente da idade.
Com tudo isto em mente, não podemos pensar no Beyblade como um desporto? A resposta a isto não é positiva, mas desde o seu legado original que muitos têm imaginado como seria introduzir este produto como o próximo desporto dos Jogos Olímpicos. A verdade é que isso está ainda muito longe de acontecer. No entanto, pouco a pouco, podemos observar as evoluções ao longo destes 25 anos, mostrando bom rumo ao objetivo de se tornar em algo mais sério, tático, profissional. Por agora, este mantém-se como um produto semi-competitivo, com algum grau de complexidade tática, que diverte miúdos e graúdos.
Para concluir, quero dizer que, se és um fã de Beyblade, esta geração é um óptimo ponto de regresso à franquia. Até atrevo-me a dizer que esta possa ser uma das, senão a melhor, geração de Beyblade de sempre. Mesmo que não sejas fã ou nunca tenhas ouvido falar, não recuses o convite de alguém para experimentares esta experiência de diversão. Pensa fora da caixa e adere à febre do Beyblade!