Poucas sensações são tão fortes como regressar ao mundo de Jade em Beyond Good & Evil. Numa era com jogos que gostavam de ser simples, o maior forte de Beyond é mesmo esse, a forma como pega numa história simples, e lhe dá um toque familiar e acolhedor, tornando-o num título de culto, e num dos meus jogos preferidos de sempre.
Jade, uma jovem repórter, embarca numa viagem para descobrir uma conspiração sinistra que ameaça o seu planeta natal, Hillys. Mesmo mantendo-se simples, encontramos elementos de ficção científica e fantasia, escalando desde situações triviais e quotidianas de um mundo ocupado até aos grandes mistérios do cosmos. Acompanhada pelo seu tio Pey’j (um porco, mas dos bons) e outras personagens memoráveis, mesmo duas décadas depois, traz consigo uma narrativa que se destaca até dos títulos atuais. Felizmente, esta remasterização preservou a essência do enredo original, com algumas pitadas de conteúdo adicional para preparar a tão antecipada sequela, pelo que, mesmo conhecendo a história de trás para a frente, têm aqui surpresas para encontrar.
Hillys, o mundo vibrante de Beyond Good & Evil, repleto de animais humanóides e outras criaturas estranhas, traz consigo um cenário que mesmo repleto de vida alienígena, consegue criar uma sensação caseira. A revelação do mundo e dos seus recantos é complementada com várias actividades secundárias, como fotografar a vida selvagem, de forma a obtermos mais informações sobre as suas espécies, e recolher pérolas, que nos vão trazendo recompensas e tornam a exploração gratificante. A nova edição introduz ainda novas missões secundárias como preparação para a sequela. Embora não sejam imensas, estas adições proporcionam uma extensão ao mundo de Hillys, abrilhantando o passeio.
A jogabilidade foi praticamente intocada, focando-se numa mistura de ação explosiva e furtiva, e a consequente exploração do mundo, seja esta a pé ou através de veículos. A movimentação e combate levaram alguns ajustes para parecerem mais suaves, mas numa óptica geral, mantém-se intocada, como referi. Felizmente encontramos algumas conveniências modernas, como podermos inverter a câmara e podermos ajustar a sensibilidade, trazendo uma experiência significativamente melhor. No entanto, e no seguimento da consistência da fidelidade original com a remasterização, alguns problemas antigos como ângulos de câmara inesperados e a estrutura de algumas missões não tão entusiasmantes mantêm-se.
A principal mudança nesta versão é sem dúvida o modo speedrun, permitindo-nos tentar completar o jogo o mais rapidamente possível sem a possibilidade de guardar progresso. Parecendo que não, à semelhança do Boss Rush (que compreensivelmente, não se encontra aqui), o modo speedrun tem feito sucesso nos vários jogos em que se encontra, tal a popularidade e crescimento do nicho que cada vez mais popula os canais de YouTube e streams Twitch. A Ubisoft incluiu ainda conteúdo dos bastidores, dando-nos um olhar aprofundado ao desenvolvimento do jogo, com arte conceptual, storyboards e até modelos iniciais.
Visualmente, creio que a Ubisoft alcançou um equilíbrio aceitável entre a preservação da estética original e a modernização do mundo de Jade. A remasterização traz texturas e iluminação melhoradas, e modelos de personagens atualizados, no entanto, nota-se que estas “mudanças” têm o cuidado de não ofuscar o estilo artístico que caracteriza Beyond Good & Evil.
Já a experiência sonora foi também atualizada, com partes da banda sonora original a serem regravadas por uma orquestra ao vivo. A música, que já era um destaque na versão original, apresenta-se mais clara nesta edição, complementando, a meu ver, na perfeição os visuais atualizados. Os efeitos sonoros e as vozes, embora intocados, não se dão a conhecer como antigos, tendo uma qualidade aceitável e que também se equipara às atualizações audiovisuais.
Esta Anniversary Edition felizmente consegue um bom desempenho em todas as plataformas. Correndo sem problemas na maioria dos sistemas modernos, incluindo a Steam Deck, traz apenas alguns problemas menores, como bugs e falhas ocasionais no PC. Pela graça dos deuses a Ubisoft incluiu a gravação automática, uma adição mais que bem-vinda, e que nos poupa imenso tempo à procura de uma estação para podermos gravar o progresso. Embora a versão Switch esteja bloqueada a 30 fps, todas as outras plataformas correm a 4K e 60 fps estáveis.
Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition é um passeio nostálgico por um dos clássicos de culto, melhorado na quantidade certa, de forma a mostrar que mesmo com os 20 anos que passaram, a jornadade Jade mantém-se um destaque relativamente aos pares.
Um especial agradecimento à Ubisoft por nos ter fornecido uma chave do jogo para análise.