Quando comecei a ver este filme, não sabia com total certeza o que deveria esperar: um filme interactivo ou um filme com temática de desenvolvimento de videojogos? Tendo visto anteriormente alguns dos episódios da serie de Black Mirror, sabia que iria assistir a algo focado em tecnologia, mas nunca pensei que acabaria por ser o que na realidade é. Bandersnatch é o único “episódio” de Black Mirror, que na verdade consegue ser ao mesmo tempo um filme de hora e meia e um jogo interactivo, que nos leva aos velhos tempos dos videojogos, tanto nas temáticas e na sua história.
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A história argumentada por Charlie Brooker, foca-se nos anos 80, quando a Commodore era considerada a rainha dos jogos de computador, e assistia-se ao início da mania dos videojogos. A narrativa segue Stefan Butler (Fionn Whitehead), um criador amador de videojogos com o objectivo de trazer o seu livro favorito para um jogo de escolhas. Durante o decorrer da história, encontramos-nos com vários outros personagens, mas há que salientar Colin Ritman (Will Poulter). O Colin é nos retratado como um Deus na criação dos videojogos, com vários best sellers e uma capacidade de criação incrível, mas algo parece estar errado com ele…
O filme tem vários fins, muito semelhante aos livros de escolha de aventuras, ou até mesmo aos videojogos. Com o passar de cada “fim”, o filme tenta sempre incentivar o espectador a experimentar todas as possibilidades, e tentar de novo.
O trabalho de câmara e actuação do filme está incrível! Os atores conseguem vender os seus papéis como profissionais. A cada cena do Stefan, conseguimos sentir que na verdade algo está mal, que ele não está completamente presente no momento, e a melhor altura vem sem dúvida nos momentos de escolha. A cada ponto de escolha, o Stefan fica quase parado como um robô à espera do próximo input vindo de algo superior a ele. A câmara salta entre cenas, criando um sentido de pressão maior, enquanto que pequenos movimentos como aproximações lentas na cara do Steffan, mostram o pânico que ele sente nos vários pontos de escolha. Vários objectos ou cenas que apareceram no decorrer do filme, e que pareciam meros detalhes, são de novo realçados, mostrando a quem o vê, que na verdade várias peças fundamentais no decorrer da acção sempre estiveram ali. Sem duvida, é necessário dar os parabéns a David Slade por uma excepcional direcção.
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Os efeitos visuais são poucos e simples, mas existe uma cena em específico que me surpreendeu e espantou na sua fluidez. Quando o Stefan toca em várias pinturas numa parede, parece que ele mexe na tinta com os dedos, como se estivessem a flutuar em água. Essa fluidez num efeito tão simples deixou-me simplesmente espantado.
Existem vários easter eggs no filme, e momentos em que o real se junta com o fictício. De salientar, aquele após o que eu considero o verdadeiro fim. Para não entrar em detalhes, digamos que para descobrir o easter egg foi necessário usar um emulador de ZX Spectrum, o que me leva-me ao próximo ponto.
O filme apesar de estar bem produzido, poderá não ser acessível para todos. Com bastante calão na criação de jogos, fortes temáticas relacionadas com os mesmos e pensamento lateral, a sua forma de apresentação e o facto do andamento ser um pouco lento ou repetitivo, sem dúvida afastará quem não tem um fascínio por um belo videojogo ou por histórias que retratam problemas psiquiátricos.