A Focus Entertainment resolveu acabar o ano de 2022 em grande, com mais uma aposta na indústria indie: Blacktail, um jogo desenvolvido pelo estúdio polaco The Parasight. Esta trata-se de uma aventura com um maravilhoso mundo-aberto, inspirado pelos contos de folclore provenientes dos países nórdicos europeus, incluindo-se a própria Polónia. Blacktail segue a história de Yaga, uma adolescente que é expulsa de uma aldeia medieval, depois de ser acusada de bruxaria. Ao ser atormentada continuamente pelos espíritos que lhe relembram o seu tumultuoso passado, ela decide, com o seu arco e flecha, caçá-los.

Sendo assim, jogamos numa perspetiva de 1ª. pessoa, onde apenas vemos o nosso arco e flecha mágicos e o fantástico mundo ao nosso redor, onde encontramos inimigos e NPC’s, todos provenientes de fábulas e lendas eslávicas, que dão uma variedade enormíssima a um mundo que, sem eles, seria apenas composto por florestas sem nada de interessante para explorar. Cada um dos NPC’s que encontramos tem uma personalidade inconfundível, apesar de muitas vezes nos atribuírem quests absolutamente simples, que nada fazem evoluir o mundo à nossa volta, nem mesmo o desenvolvimento da própria Yaga enquanto protagonista.

Se és um grande fã de mitologia e de lendas medievais sobre a caça às bruxas, digo já de início que este jogo é perfeito para ti. Não só segue a história do desenvolvimento de uma das bruxas mais famosas dos contos, Baba Yaga, como também implementa todos estes conceitos e personagens de uma forma sublime, que não deixa nada a desejar. Mesmo para mim, que apesar de gostar de uma boa história deste género, não sou um aficionado por contos eslávicos, senti-me imediatamente imerso neste mundo, devido a todos os elementos que ele contém.

Para os fãs da franquia Far Cry, ou de outros jogos que misturam ação com sobrevivência, este género de videojogo também não é desconhecido, já que Blacktail incorpora todos os elementos de crafting, como a simples necessidade de criar flechas com materiais colhidos no mundo, como galhos de árvores, ou penas de aves. Além disso, existe também uma árvore de habilidades, que, francamente, só veio trazer mais elementos RPG para um jogo que não necessitava deles para ser grandioso. É sempre interessante ter um jogo que contém habilidades como aquelas, mas que depois apresente diferentes formas de o abordar.

Isto porque Blacktail não oferece praticamente nenhuma variedade de jogabilidade. As únicas armas e recursos a teu dispor para te livrares das ameaças que encontras pelo mundo, são o teu fiel arco e flechas, bem como alguns poderes mágicos que vais desbloqueando ao longo da tua aventura. De resto, não existe a adição de qualquer tipo de jogabilidade “stealth”, ou mesmo de outros tipos de armas, e para quem necessita de variedade numa experiência como esta, pode não gostar desta limitação imposta logo no início da história. Por outro lado, este combate foi realizado de uma forma soberba, com elementos extremamente bem “polidos”.

Felizmente, este estilo de combate não é cansativo, devido não só à duração do jogo, que anda à volta das 6 a 7 horas para completar a história principal, mas também à forma como o mundo e o sistema de “questing” está construído. Todo o jogo está baseado em apenas um sistema, que te guia durante praticamente a aventura inteira. Este sistema é o de Moralidade, já muito comum em videojogos nesta altura, como a franquia Infamous, apesar de este ser bastante mais complexo do que a maioria, já que te obriga a fazer a mais importante decisão logo no início: seguir o caminho da luz, ou o da escuridão.

Um olhar pelo sistema de Moralidade de Blacktail

A partir desta simples escolha, vais desenvolvendo a tua história com cada ação que cometes no mundo-aberto: desde ajudar um pobre animal a soltar-se de uma planta carnívora, a encorajares um exército de formigas a conquistarem uma povoação humana inteira (sim, esta é uma das mini side-quests do jogo). Desde pequenas missões que se baseiam apenas em fazer uma escolha simples, a quests mais desenvolvidas, este sistema de Moralidade é facilmente implementado, o que ajuda à adição de imersão à experiência que Blacktail traz.

Porém, obviamente que este sistema não é perfeito, e a sua principal falha é o quão óbvias são, por vezes, as escolhas que tens de fazer para seguires o teu caminho desejado. Algo que sempre gostei de ver implementado em jogos foi o famoso “efeito-borboleta”, em que cada uma das tuas ações vai causar uma consequência, apesar destas puderem muitas vezes revelarem-se exatamente quando ninguém está à espera. Porém, em Blacktail, é muito fácil de entender quando o jogo pretende que faças uma certa ação de forma a progredir o desenvolvimento de Yaga, atirando-te com ditos “encontros aleatórios”, mas que falham devido não só ao diálogo da protagonista sobre dito evento, mas também devido à simplicidade dos mesmos.

Outro dos pequenos problemas que encontrei com este jogo foi o excesso de diálogo presente. Este é mais um daqueles videojogos que te indica exatamente para onde ir, dando-te pouca liberdade para aproveitar do mundo presente à tua volta, que é sem dúvida alguma, o principal ponto de venda de Blacktail. Além disso, é-nos logo introduzido no início do jogo uma personagem, apenas indicada como “A Voz”, que apresenta algum do por diálogo possivelmente escrito. Enquanto que esta personagem deveria originar momentos sérios ou pesados, estraga todo o ambiente criado à volta da história com as suas falas absolutamente embaraçosas, com a inclusão de asneiras e recursos de fala muito mal utilizados para a situação.

Mas chega de pontos negativos, se há algo que também se destacou em Blacktail, foi o seu design de áudio, e respetiva banda-sonora. A contribuição de todos os sons da natureza presentes nas extensas florestas do jogo, acompanhados por músicas tradicionais eslávicas tocadas por orquestra, predominantemente por instrumentos como a flauta transversal, ajudam a desenvolver não só a imersão de que já tanto falei nesta análise, mas uma experiência audiovisual no todo, que excedeu absolutamente todas as minhas expectativas.

Da mesma forma que comecei esta análise, termino-a: felicitando o estúdio The Parasight pela excelente obra desenvolvida, e também congratulando a Focus Entertainment, por ter metido a sua confiança num projeto como este, que apesar de ter passado completamente fora do radar a muitos, veio para ficar como um dos melhores indies de 2022.

BLACKTAIL já está disponível para Playstation 5, Xbox Series X|S PC.

Agradecemos à Focus Entertainment por nos ter cedido uma chave para análise.

CONCLUSÃO
Sólido
7.5
blacktail-analiseTemos aqui novamente mais uma experiência indie absolutamente sólida, com um mundo-aberto de cortar a respiração, com uma história bastante interessante, e com um sistema de Moralidade bem desenvolvido, porém peca muitas vezes na sua simplicidade, e na tentativa da implementação de muitos sistemas RPG, que não combinam com a sua jogabilidade.