Para os amantes da história da Grécia Antiga e sobretudo dos seus adorados Deuses, chega-nos Blood of Zeus. Esta é uma série animada, criada por Charley e Vlas Parlapanides, fruto da grande aposta da Netflix na indústria Anime, e que promete saciar o apetite do espectador.
Devo dizer que tenho ainda um enorme “vício” pelo jogo Hades, que levou muitos jogadores a re-explorarem a cultura grega com a incrível jornada de Zagreus. Foi um pouco esta chama que me trouxe até Blood Of Zeus, onde igualmente acompanhamos a arriscada jornada de Heron, um novo Deus criado propositadamente para esta série da Netflix. Pronto para acompanhar?
Para teres uma leve ideia do que se trata esta série, a mesma revela nos primeiros instantes que parte da premissa de contar-nos alguns episódios perdidos dos contos da Grécia Antiga. No entanto, Heron, a personagem principal, surge como uma personagem totalmente inventada apenas para servir esta animação.
Com a sombra de demónios a pairar sobre as cidades e a ameaçar as populações, qual praga semelhante à que Drácula roga na série Castlevania, Heron vê-se obrigado a fugir e a abandonar a sua vida pacata, estando agora na mira dos Deuses. Este trabalhava até então nas minas, ajudando a sua mãe Electra a sustentar a casa, e Elias, um senhor já de idade avançada, que ainda os consegue ajudar a sobreviver apesar das atrocidades.
Blood of Zeus, apesar de tudo, não pode ser encarado como uma obra “pura” que se baseia nos contos antigos dos deuses do Olimpo. Esta é sim, uma obra que mexe com “a verdadeira história”, distorce e inventa novas engrenagens, tudo para sustentar esta incrível jornada do herói. E se conheces bem as animações da Powerhouse Animation Studios, sabes que eles não omitem mesmo nada. Portanto esta é uma jornada bem sofrida, onde voam entranhas, dilaceram-se braços, pernas… as personagens partem-se todas, tudo se esvai, e nada é censurado. Um gore que bate no estômago e arrepia o espectador mais sensível. Tudo muito à semelhança do que já é prato do dia em Castlevania, outra animação do mesmo estúdio.
Com isto quero dizer que adorei esta abordagem ao universo conhecido dos Deuses do Olimpo, e todas as entidades intervenientes nesta odisseia, mesmo que tenham existido muitas manipulações dos contos reais. A única coisa que gostaria que tivesse sido melhor explorada, é contudo as relações dos Deuses entre si. Vemos demasiado Zeus e demasiada Hera, e com isto até parece que os Deuses do Olimpo eram só um punhado de gente. Sempre as mesmas caras e pouco tempo de antena para as restantes personagens, para além de Heron, claro.
Poseidon, por exemplo, merecia ter uma personalidade mais intrincada, e destacar-se mais nas suas atitudes, no seu discernimento, e não ser apenas mais uma mancha no meio dos restantes Deuses. E Hades? Nem vê-lo. Somente os filhos de Zeus é que merecem aqui tempo de antena, o que até faz sentido, dado o nome da série ser Blood of Zeus. No entanto suspeito que a ideia seja explorar novas personagens, a cada nova temporada, e levantar assim o véu sobre novos “contos perdidos” da Grécia Antiga.
Será que poderiam aproveitar o hype actual para trazerem-nos também a jornada do herói de Zagreus? Seria uma boa ideia para focar as atenções agora no submundo, com uma boa ponte estabelecida com o final desta primeira temporada. Acho que muita gente iria delirar, se de facto a série seguisse essa direção.
Mas nem toda esta temporada é só sobre Heron ou os Deuses do Olimpo, é também sobre Alexia, uma poderosa guerreira Amazona que procura pôr termo aos demônios que aterrorizam o mundo, mas que francamente não me diz muito. Contudo, a minha personagem preferida, e como sempre, reside na linha inimiga. Seraphim é o líder desta raça demoníaca que procura se rebelar contra os Deuses, no entanto, quanto mais descobrimos sobre ele, mais compaixão cresce em nós por este, e chegamos mesmo a querer a sua redenção.
Falemos agora de um aspecto deslumbrante desta série: o seu visual. Mantendo aquele filtro escuro a que a Powerhouse Animation Studios já nos habituou, e o gore explícito, Blood of Zeus oferece-nos conceitos visuais que vão muito para além de belos. As personagens então, esbeltas, são carregadas de detalhes muito sugestivos das suas personalidades e da sua história, mas não só. Apesar de já termos visto tantas adaptações visuais para as mesmas ao longo dos anos, eu diria que acertaram mesmo na moche, e que temos aqui perante nós o mais belo carácter design para representar os Deuses do Olimpo.
Com um animação rica, fluída, e recheada de belicismo e sequências de acção bem descritas pela mão de Shaunt Nigoghossian, Blood of Zeus embala-nos com um argumento que nunca nos deixa com a sensação de vazio no final de cada episódio, antes pelo contrário. Este alimenta-nos a curiosidade e vai crescendo e crescendo, e fascinando cada vez mais o espectador.
Na campo da sonoridade, contamos com um elenco que não é de todo desconhecido pelos caminhos da dobragem. Derek Phillips (The Last of Us é The Last of Us Parte II) empresta a sua voz a Heron, e Jason O’Mara (que interpreta Batman no universo cinematográfico animado da DC) que consegue um casamento perfeito entre a sua voz e o visual da sua personagem. Claudia Christian é a temível é amarga Hera, e Jessica Henwick entrega-nos uma poderosa guerreira Amazona com Alexia.
Já na banda sonora assistimos ao trabalho épico de Paul Edward-Francis, que devo confessar que em especial no tema que acompanha os demónios, sinto horrores de ansiedade, como se o Inferno marchasse na nossa direcção e estivesse cada vez mais perto de nos tocar. Um trabalho magnífico que vale a pena ouvir com atenção.