Os finais dos anos 90 e inícios dos anos 2000 marcaram um salto geracional nos videojogos que, até nos dias de hoje, se considera um dos mais impressionantes. Com uma competição como mais ninguém, escolha não faltava para os jogadores. Entre a Xbox, GameCube, Playstation 2 e Dreamcast, todas a apresentar um leque de jogos impressionante que raramente dececionava.

Apesar do domínio quase unânime do colosso que foi a Playstation 2, houve uma consola que ficou esquecida, que, para muitos, trouxe-nos alguns dos jogos mais originais e divertidos da época. A Dreamcast foi sem dúvida uma consola que, infelizmente, não conseguiu encontrar sucesso no meio de tanta competição, sendo a última consola produzida pela SEGA.

Actualmente, os jogos que eram originalmente exclusivos para a Dreamcast estão disponíveis em praticamente qualquer plataforma existente, obtendo uma popularidade nova e acrescentada, dando a conhecer o talento das equipas que trabalharam nos projetos.

Hoje, trago-vos o que considero um sucessor espiritual de uma destas séries. Apresento-vos Bomb Rush Cyberfunk, que nos veio proporcionar uma experiência clássica e nostálgica, seguindo os passos do fantástico Jet Set Radio, dando-nos uma bofetada nostálgica pelo mundo das roupas largas, grafítis e desportos radicais.

O caminho para All City

Bomb Rush Cyberfunk passa-se na cidade de New Amsterdam, uma cidade controlada por grupos e indivíduos chamados de Writers, que são pessoas que fazem grafítis juntamente com os seus patins, skates ou bicicletas. O nosso protagonista chama-se Red, e ele tem como objetivo tornar-se All City, que basicamente significa ter o controlo total de todas as zonas de New Amsterdam.

Não irei mencionar muito o porquê deste objetivo, pois penso que a surpresa que nos é apresentada logo ao início do jogo é bastante única, mas o objetivo principal de Red é descobrir sobre o seu passado (ou raiz, como mencionado por ele), e, para isso, terá de se tornar All City e derrotar o DJ Cyber, que é o atual detentor do título.

A história do jogo tem uma premissa simples e direta, e não tende a ser demasiado complexa. No entanto, é uma base muito mais desenvolvida do que pensei, presenteando o jogador com várias surpresas e momentos únicos. Apesar do foco óbvio na jogabilidade, a presença de uma história mais competente do que esperava foi um extra que me manteve ainda mais interessado durante a duração inteira do jogo.

Um look clássico, inspirado, e nostálgico

Graficamente, Bomb Rush Cyberfunk não esconde as suas inspirações. A apresentação do jogo é praticamente idêntica à de Jet Set Radio, com um estilo cell shaded e personagens com pés desproporcionalmente enormes. A cidade está repleta de nuances artísticas originadas pelos grafítis dos grupos rivais, juntamente com um excelente uso de cores para criar uma atmosfera única em cada área da cidade. As zonas são bastantes variadas, com zonas rurais mais simples como uma rua perto de uma estação de comboios, um centro comercial, e até uma plataforma petrolífera.

Muitos destes níveis tiram grande inspiração nos níveis de Jet Set Radio e Jet Set Radio Future, sendo por vezes quase idênticos. Não obstante, o jogo apresenta-nos um visual nostálgico, atingindo o seu objetivo, e dando-nos uma apresentação competente e invulgar nos tempos modernos.

Tudo isto é complementado por um uso de efeitos exagerados eficaz, dando-nos a sensação que estamos a fazer os melhores truques do mundo à medida que faíscas gigantes são criadas à medida que fazemos um grind ou usamos o jetpack.

Grafítis com velocidade e estilo

Mais uma vez, a equipa tirou inspiração nos jogos de Jet Set Radio para a jogabilidade de Bomb Rush Cyberfunk, dando-nos uma base simples e divertida, que nos faz sentir como super atletas.

A jogabilidade é bastante simples, sendo possível fazer truques em qualquer momento, quer seja no ar, no chão ou a fazer grind, apenas ao tocar num dos 3 botões de truques, sendo que é impossível caíres por falhar o timing dos mesmos. Em termos de movimento, temos um salto, um dash frontal que funciona como um duplo salto e o boost, que nos dá um aumento de velocidade bastante alto temporário.

O salto é o teu principal conetor de truques, sendo que, para poderes fazer um grind ou wallride, apenas tens de saltar para um dos vários corrimões ou superfícies específicas como placas de anúncios para executares estes movimentos, não sendo preciso qualquer controlo adicional para manter o balanço nos mesmos.

Quando estás num grind, podes inclinar-te para a esquerda ou direita, fazendo com que ganhes velocidade nas curvas ao inclinares-te para o lado correto. Este aumento de velocidade é acompanhado por um aumento no multiplicador de combos, sendo a melhor forma de aumentar a tua pontuação exponencialmente.

Caso não haja paredes ou corrimões para estenderes os teus combos, podes também fazer um manual, sendo preciso apenas manter premido um botão, fazendo com que a personagem execute um cavalinho com a bicicleta, por exemplo.

Estas ferramentas, apesar de simples, fazem de algo simples como o movimento pela cidade uma diversão extrema, sendo que, em nenhuma situação, achei a exploração algo aborrecido, mantendo-me sempre focado em tentar fazer vários combos e caminhos para poder chegar a vários sítios que parecem impossíveis. Apesar da sua inspiração e semelhança a Jet Set Radio, não deixa de ser incrivelmente competente, fazendo-nos lembrar da excelente qualidade da grande série da SEGA.

À medida que vais fazendo truques, a tua barra de boost vai enchendo, sendo possível usar o boost que tens disponível a qualquer momento para ganhares bastante velocidade e balanço, bem como fazer truques especiais para ajudar a manter o teu combo.

Podes escolher jogar com qualquer personagem do grupo e qualquer uma das 3 modalidades disponíveis (patins, skate e bicicleta), sendo todas apenas escolhas cosméticas, tendo uma jogabilidade praticamente idêntica entre elas.

Bomb Rush Cyberfunk

Mas, obviamente, os truques não são o suficiente para poderes chegar a All City, sendo preciso também saber fazer umas belas pinturas nas paredes. Os grafítis também apresentam uma simplicidade agradável, sendo que apenas te precisas de aproximar de uma zona marcada e tocar num botão para iniciar o minijogo de grafítis, que envolve conectares vários pontos para criares uma peça única que tenhas colecionado.

Podes conectar os pontos na ordem que quiseres, sendo que o jogo irá-te guiar para os pontos próximos que consegues fazer, de modo a resultar numa peça que tenhas na tua coleção. O número de artes que podes colecionar é impressionante, com arte de vários artistas presente no jogo.

À medida que vais fazendo grafítis e marcando o teu território nas várias zonas, irás aumentar o teu Rep e desbloquear as missões de história, que envolvem fazeres uma de várias atividades, como uma competição de pontos, ou tentares replicar um caminho de um rival num só combo. As missões mantêm um foco no movimento e no sistema de combos, mantendo o foco na melhor parte do jogo, fazendo com que o jogo mantenha a adrenalina e o movimento constante.

Bomb Rush Cyberfunk

O teu objetivo final em cada zona é ganhares Rep suficiente para poderes desafiar o grupo que controla a zona para uma competição, sendo o teu grupo contra o grupo rival, onde quem conseguir mais pontuação num tempo limitado ganha, tomando então posse da zona.

No final de cada zona também tens geralmente um boss, variando entre pessoas com armas de fogo ou robôs gigantes prontos para te esmagar. Quando lutas com humanos, geralmente tens de te afastar dos ataques deles e tentar acertá-los com truques até os derrotares. Nos bosses onde lutas com robôs ou máquinas, geralmente envolvem fazeres truques para chegares a certos pontos do boss, fazendo um grafíti e desativando uma das partes do mesmo, como um braço com uma arma explosiva, por exemplo.

E é esta a fórmula do jogo, geralmente repetindo-se a cada área nova que frequentas, até ao seu final climático. Apesar do progresso formulaico, não me senti aborrecido durante o jogo inteiro, estando sempre com vontade de continuar e descobrir uma área nova à medida que ia derrotando os grupos rivais. A sensação de teres uma zona nova para explorar, junto com caminhos novos para fazeres combos interessantes, dá uma lufada refrescante que, apesar de saberes que irás fazer o mesmo que fizeste na última zona, reinicia o teu entusiasmo pela jogabilidade do jogo.

Bomb Rush Cyberfunk

Em termos de colecionáveis, tens várias roupas, músicas e grafítis escondidos pelo mapa, bem como alguns desafios que envolvem bateres em alguns bonecos num combo, de modo a desbloquear atalhos e salas secretas com colecionáveis extra.

Uma explosão eletrónica nos ouvidos

A música de Bomb Rush Cyberfunk excedeu o que precisava. Eu esperava uma seleção sólida de temas eletrónicos nostálgicos, mas a equipa excedeu-te e trouxe-nos uma coleção de temas de vários artistas, dando uma variedade incrível e originando um constante movimento de cabeça durante a duração inteira do jogo. Isto tudo, juntamente com alguns temas vindos do grande Hideki Naganuma, o compositor de Jet Set Radio, que nos faz voltar atrás no tempo com a sua composição única de ritmos e melodias bombásticas, com refrões magnetizantes.

Bomb Rush Cyberfunk já se encontra disponível para a Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S, Nintendo Switch e PC na Steam e GOG.

CONCLUSÃO
Mais que suficiente!
9.2
bomb-rush-cyberfunk-analiseBomb Rush Cyberfunk é o sucessor espiritual da grande saga esquecida da SEGA, mostrando que o género é capaz de nos oferecer experiências de qualidade, que, nos dias de hoje, continuam tão divertidas como antigamente. Uma grande surpresa para os fãs de Jet Set Radio, e uma excelente forma de dar a conhecer aos novatos o género.