O novo filme de anime Burn the Witch foi a minha escolha para Outubro: bruxas, dragões, e muita acção pelo meio. Tudo isto pela mão do criador de Bleach, Tite Kubo. Mas será que impressionou?
Burn the Witch
Burn the Witch é baseado na manga do mesmo nome escrita por Tite Kubo.
O anime foi realizado por Tatsuro Kawano, escrito por Chika Suzumura, e produzido pela Bandai Namco Arts, Shueisha e Twin Engine. O elenco conta com vozes de Saori Hayami, Rie Hikisaka, Hiroaki Hirata, Asami Tano, Shimba Tsuchiya e Yuina Yamada e banda sonora de Keiji Inai.
Apesar de a manga já ter uma segunda fornada, ainda nada foi confirmado para o anime.
História
Neste universo de fantasia, existem dois mundos paralelos: o Front London e o Reverse London. Para além de uma grande ameaça que assombra ambos – os dragões, que são responsáveis por 72% das mortes. Infelizmente, apenas as pessoas de Reverse London os conseguem ver e, por isso, cabe-lhes também a si combater os seres mágicos.
Este é o dever das duas protagonistas de Burn the Witch: Ninny e Noel, duas bruxas treinadas pela organização Wing Bind (WB), especializada na conservação e gestão de dragões. O seu dia-a-dia resume-se a localizar, confrontar e neutralizar as ameaças, recebendo pontos e dinheiro em troca. Isto enquanto tentam equilibrar as suas vidas pessoais com os vários imprevistos que vão surgindo…
Primeiras impressões
A arte de Tite Kubo salta logo à vista nos primeiros momentos do anime. Devo dizer que é das minhas favoritas, com um estilo de personagens muito distinto e que surpreende pela sua maturidade.
Os panos de fundo de Burn the Witch são, também, verdadeiras obras de arte. Os edifícios, as ruas, e até a própria calçada são excelentemente detalhados e conseguem capturar a essência deste mundo na perfeição: algo victoriano, algo britânico, com um toque de fantasia.
Os “dragões” (que em pouco se assemelham às criaturas a que estamos habituados da mitologia) têm designs muito variados e imaginativos. A forma como se expressam, como se movem, e como pensam é realmente impressionante. Penso que a minha única queixa se prende com as suas personalidades (ou, neste caso, com a falta delas), especialmente no que toca aos dragões de Ninny e Noel, que deveriam ter muito mais tempo de antena, mas, em vez disso, são quase esquecidos e tratados mais como adereços/meios de transporte inanimados.
As personagens
A meu ver, poderiam ter sido mais desenvolvidas, mas o pouco que conheci destas deixou-me com uma forte conexão às mesmas e aos seus objectivos, e uma sede por descobrir mais.
Ninny e Noel são completos opostos uma da outra (uma das receitas preferidas dos criativos japoneses): sendo a primeira impulsiva, extrovertida e uma autêntica bomba andante, enquanto a segunda é calma, controlada, e gosta de seguir as regras à risca. Os motivos pelos quais escolheram trabalhar no ramo também difere: Noel pela compensação monetária e Ninny pelo mérito. No entanto, pouco mais sabemos sobre os seus percursos até aí e isso é algo que antecipo ver explorado mais para a frente.
Balgo é, também, o típico sidekick desastrado que depende das duas bruxas para sua segurança (e sobrevivência). Não vou relevar muito mais sobre ele, mas devo dizer que as nuances da sua personagem são interessantes e podiam ter sido exploradas muito mais – em vez disso, desperdiçaram-no em idiotices que não pertencem ao feel geral de Burn the Witch e só distraem.
A amiga de longa data de Ninny, da qual pouco esperava, veio a trazer uma comovente side story que me fez doer o coração e providenciou bastante material para complementar o enredo principal.
O restante elenco é bastante sólido, se formos a considerar o seu potencial. De momento, todos se encontram envoltos em demasiado mistério para poder formar uma opinião concreta, mas posso dizer que gostei do que vi e tenho grandes expectativas, especialmente no que toca ao mentor/patrão de Ninny e Noel, Billy, e aos membros do Top of Horns (incluindo um antagonista cujas camadas e ambições têm muito pano para mangas, se bem estruturado).
Alguns reparos
Spoilers abaixo
Burn the Witch trata-se, de facto, de um spin-off de Bleach, passando-se no mesmo universo, e esta alusão é confirmada no último episódio.
Não sei até que ponto Tite Kubo quis fazer um paralelo entre os dragões e os Hollows de Bleach mas, pelo menos por agora, ambos apenas partilham a sua “invisibilidade para os mortais” e o facto de serem uma ameaça que precisa de ser contida por forças especiais. No entanto, ao contrário dos Hollows, os dragões são um “mal necessário” e não podem ser simplesmente aniquilados. Existem várias regras associadas à coabitação com os restantes seres, e estes podem até ser treinados para se tornarem úteis à sociedade, não apresentando qualquer risco.
São este tipo de pormenores que realmente construíram o anime e o tornaram tão apetecível, pois nota-se que (intencionalmente ou não) muita informação foi ocultada, ou tocada muito ao de leve, e qual poderá ter um papel fundamental no futuro.
Fim de spoilers
O menos bom
Burn the Witch peca pela sua ausência de respostas a perguntas que vão surgindo, deixando imensas pontas soltas para trás e um sentimento de “faltou aqui algo”. Apesar de alguma exposição necessária e bastante acção (nunca me senti aborrecida por um minuto) parece que não fiquei a conhecer este mundo ou as suas personagens a fundo. Aliás, mal risquei a superfície. Um segundo filme/temporada faz realmente falta, pois o desenvolvimento nestes três episódios deixou bastante a desejar.
Mas isso não é necessariamente uma coisa má; de facto, fez-me ainda mais curiosa por continuar o anime e, quiçá, experimentar ler a manga. A caracterização das personagens e destes dois Londres alternativos captivou imenso e, apesar das suas falhas, não me deixou menos entusiasma em querer ver mais – muito pelo contrário.
Condensar uma história deste calibre (que ainda nem está completa na própria manga) em pouco mais de uma hora seria sempre desafiante e, na minha opinião, o esforço acabou por compensar em várias vertentes. Só falta mesmo uma continuação para provar se se tratou de uma questão de falta de tempo ou simplesmente de falta de vontade…
Burn the Witch está disponível na sua integridade no site de streaming Crunchyroll.