Desenvolvido pela Acquire, C.A.R.D.S. RPG: The Misty Battlefield tenta mistelar deckbuilding roguelike com jogos de estratégia RPG (SRPGs). No entanto, este falha em oferecer uma experiência coesa e envolvente. Para além disso a premissa principal, que combina manobras táticas com combate baseado em cartas, soa promissora, mas tropeça na execução, resultando numa aventura superficial que carece de profundidade e polimento.

A princípio o cenário e aspeto das personagens sugerem uma experiência narrativa rica, mas o enredo rapidamente desvanece e perde brilho. Após uma sequência inicial, C.A.R.D.S. RPG contextualiza muito pouco as suas missões, permitindo que pairem questões básicas no ar como, por exemplo, porque razão combate-se vários inimigos de seguida? Infelizmente, apesar de uma atuação vocal decente e interações recreativas entre personagens, durante o combate, estes elementos por si só não salvam uma trama fraca e pouco coerente tanto a nível de enredo como narrativo.

Visualmente, C.A.R.D.S. RPG detém personagens e ambientes bem desenhados, embora os mapas em si caiam pelo lado mais repetitivo e pouco inspirado. Já um dos chamarizes do título, a mecânica do nevoeiro que obscurece partes do campo de batalha, adiciona um intrigante, porém pouco recompensador e monótono ingrediente à exploração. Assim, não obstante um ou outro ponto, como não ser possível identificar que tipo de inimigo está dentro do nevoeiro, ou que tipo de tesouro esconde o baú, essa mecânica assemelha-se mais um simples artifício do que uma característica estratégica.

Como a letra de caixa de chá indica, C.A.R.D.S. RPG aposta as suas fichas no combate, mas nem aqui ele surpreende. Parte do problema encontra-se num baralho de cartas partilhado por todos os heróis, restringindo profundidade estratégica onde, por exemplo, cada personagem, seja ela lutadora corpo-a-corpo ou unidade de ataque à distância, tira proveito do mesmo conjunto de cartas de ataque, defesa ou utilidade. Isto é frustrante, com várias cartas gastas cada turno por incapacidade de adaptar baralhos individualmente.

Mas um dos aspetos mais frustrantes da jogabilidade é o quão permanente o baralho teima em ser mapa atrás de mapa. Remover ou adicionar cartas é um processo lento e moroso, algo que só acontece sob certas circunstâncias. Logo, para colmatar esta fraqueza, a criatividade afunila-se a um baralho mais genérico e funcional, sem grande área para experimentação. A incapacidade de salvar o progresso a meio da missão agrava ainda mais este problema, forçando um recomeço se atingir um fatídico game over, algo particularmente punitivo dado quão artificialmente esticada está a longevidade do título.

Já de roguelike C.A.R.D.S. RPG tem pouco ou nada, com a única semelhança presa à perda de progresso no mapa atual em caso de derrota, algo menos punitivo do que voltar à estaca zero. No entanto, após cada mapa, a equipa leva um reset às suas estatísticas base, melhoradas através de subidas de nível, necessários para colmatar os picos de dificuldade nos capítulos posteriores.

Não obstante tudo isto, C.A.R.D.S. RPG tem momentos lúdicos. A variedade de cartas, embora limitada, oferece algumas combinações criativas, particularmente na reta final do enredo. Louva-se também o estilo artístico em geral do título, com personagens e alguns cenários a mostrar um alto nível de cuidado. As versões chibi das unidades no campo de batalha também não ficam atrás, elas encantadoras e bem animadas, adicionando um toque de personalidade.

Um agradecimento especial à editora por nos ter fornecido um código do jogo para análise.

+ Pontos Positivos

  • Atuação Vocal e Interações
  • Estilo Visual
  • Variedade de Cartas

– Pontos Negativos

  • Enredo Fraco
  • Mapas Repetitivos
  • Mecânica do Nevoeiro
  • Baralho de Cartas Compartilhado
CONCLUSÃO
Mediano
5/10
Ulisses Domingues
Desde muito cedo um confesso apaixonado pelos mundos da PlayStation e consolas Nintendo. No entanto a vida dá muitas voltas e agora o seu amor foca-se nas novas Xbox Series. Nada como paixão à primeira vista, não é verdade?
c-a-r-d-s-rpg-the-misty-battlefield-analiseVejo em C.A.R.D.S. RPG: The Misty Battlefield uma tentativa ambiciosa de unir mecânicas de SRPG e deckbuilding, mas que não oferece uma experiência satisfatória ou sequer coesa em nenhuma das categorias. O estilo visual apelativo e alguns momentos ocasionais de diversão estratégica são ofuscados por uma história desinteressante, jogabilidade repetitiva e profundidade estratégica limitada. Posto isto, não obstante alguns pontos bons, dificilmente se recomenda devido às inúmeras falhas presentes.