Há certos videojogos que quando olhas bem para eles ficas a pensar “Como é que isto aconteceu?”, tipo Kingdom Hearts e o alegado elevador onde se passou a sua concepção…

Esta lengalenga começou quando a Brace Yourself Games quis fazer um DLC para a versão de Switch do Crypt of the Necrodancer com personagens de Legend of Zelda. Quando o estúdio contactou a Nintendo para negociar qualquer tipo de permissão ou licenciamento, tiveram uma surpresa bem agradável. Eji Aonuma e Shigeru Miyamoto eram ambos grandes fãs do videojogo! As portas estavam abertas, o resultado desta revelação não foi uma mera expansão, mas um jogo completamente novo que junta os universos destas duas franquias.

Em Cadence of Hyrule – Crypt of the Necrodancer Featuring The Legend of Zelda um novo vilão aterroriza o reino de Hyrule. Octavo adquire a Triforce do Poder para concretizar o seu plano estranho e adormecer o Rei de Hyrule, Link e Zelda ao som da sua música. Sem ninguém para travar o músico feiticeiro, Cadence, a protagonista de Crypt of the Necrodancer, é transportada sem aviso para o mundo da Nintendo pela Triforce do Poder para dar uma ajuda aos nossos heróis.

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A jogabilidade em si é uma fusão destes dois universos. Quando começamos um novo jogo, é gerado um mapa de Hyrule com as áreas bem familiares deste reino e as suas caves e masmorras. Quando há inimigos presentes, temos de nos mover ao ritmo da música, tal e qual a Crypt com os monstros a fazerem o mesmo, seguindo os seus próprios padrões. Caso contrário, podemos mover livremente. O ataque básico não é feito com um botão de acção, mas ao tocar no inimigo quando este não está a fazer o mesmo.

É uma espécie de mistura de Ys clássico com um jogo de ritmo. Muito divertido mesmo, faz lembrar aquelas manias que nós temos às vezes em que só carregamos nos botões ao ritmo da música.

Após o tutorial onde aprendemos os conceitos base com Cadence, escolhemos a nossa personagem jogável inicial: Link ou Zelda. Mesmo tendo algum arsenal em comum, cada personagem tem as suas armas e habilidades exclusivas.

Link é a personagem mais equilibrada, Zelda é a do tipo “grande risco/grande recompensa”. Por exemplo, Link rapidamente tem acesso a um escudo que reflecte os projécteis básicos, e é extremamente fácil de usar. Zelda usa Nayru’s Love que tem uma janela curta para se usar, mas é mais eficiente a reflectir projécteis. No entanto as diferenças rapidamente são mitigadas, e mais tarde na partida vais poder alternar entre várias personagens.

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O nosso objectivo principal é bem familiar aos fãs de Zelda, adquirir quatro artefactos guardados por monstros, que se encontram nas profundezas de quatro masmorras atrás de uma grande porta (e com grandes portas vêm grandes chaves). É isso que fazemos com auxílio de vários objectos (armas, corações, chaves pequenas, etc.) que encontramos nas nossas explorações. Mas esta fusão tem mais que se diga…

Alguns objectos são de cariz temporário (aqueles que possuem uma relação mais aproximada de Crypt, como Pás e Torchas) que desaparecem quando perdes, outros são permanentes (mais com Zelda, como Boomerangs e saco de bombas). Existem também as duas moedas de troca: Diamantes e Rupees (Rupees desaparecem apôs derrota, Diamantes não). Isto claro para introduzir mecânicas “rougue-like” do indie.

Mas a curva de dificuldade devo dizer que é a mais bizarra que alguma vez encontrei, devo confessar. Nunca tendo jogado o Necrodancer original antes desta entrada, o início foi para mim um pouco doloroso, não conseguindo fazer nada de extraordinário antes de perder de forma embaraçosa várias vezes. Depois de habituar-me às mecânicas e apanhar uns quantos itens, foi de 8 a 80. Tornou-se fácil demais sem ver um único game over e o dinheiro deixou de ser qualquer tipo de preocupação.

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Hyrule está bem representada, com algumas das suas localizações e personalidades icónicas bem presentes. O estilo artístico é adequado, Cadence of Hyrule quase que parece um remaster de um jogo de Game Boy Advance. Inimigos de todas as eras marcam presença, desde Octorocks a Talus, com o retorno de alguns que andaram desaparecidos durante uns tempos. E o mesmo se diz das outras personagens com cameos de todo o tipo. Beedle até está com a aparência mais apropriada que alguma vez vi a personagem ter.

A música está espectacular! Bem tinha de o ser, num jogo a volta de mecânicas musicais… Com versões remixadas dos temas bem conhecidos que considero pessoalmente as melhores que mais alguma vez ouvi.

Pena ser demasiado pequeno, o mapa mundo é fácil de explorar e as masmorras na generalidade não tem mais de 2 andares, excluindo os Boss. É verdade que o mapa mundo é gerado dinamicamente em cada início de jogo, e os puzzles vão rodando, o que faz com que o seu número total exceda aqueles que são usados numa partida, mas o molde é sempre o mesmo, mesmo com as regiões a aparecerem em locais diferentes. Desapontante, também é o uso de uma certa mecânica no fim do jogo baseada noutras que foram já usadas em dois jogos anteriores (não posso dizer quais, para evitar spoilers), que é apenas usada num local diminuto, é uma enorme falta de potencial.

Mas é certamente um jogo imperdível para qualquer fã (apesar de provavelmente ser fácil demais para a malta do Crypt…) e é certamente um grande marco, onde é fácil de esquecer que num fim do dia isto foi um projecto de um estúdio indie.

Cadence of Hyrule – Crypt of the Necrodancer Featuring The Legend of Zelda está disponível na eShop da Nintendo Switch

CONCLUSÃO
Lizalfos a abanar os ombros
8.9
cadence-of-hyrule-analiseUm pacote musicalmente fantástico e imperdível para amantes de Legend of Zelda, Crypt of the Necrodancer e de tudo o que é indie. Com gameplay, lore e visuais que fazem Hyrule justiça. Mas não deixa de ter uma curva de dificuldade extremamente bizarra, que vai do muito difícil a extremamente fácil num único salto. É extremamente pequeno, mesmo considerando a geração dinâmica dos mapas.