Na altura em que o filme da Captain Marvel estava aí a bater à porta, Captain Marvel: Liberation Run acabava de sair nas livrarias. Parte da série Marvel Titans e publicada pela Titan Books, trata-se de uma coleção de novelas que pega nas aventuras e personagens das bandas desenhadas que já conhecemos, criando histórias originais em formato de prosa.
Este livro de meio quilo bem pode ser considerado uma arma de arremesso – mas o seu conteúdo é igualmente impressionante. Apesar do seu formato ‘tijolo’ (pelo menos, a edicação de capa dura), Captain Marvel: Liberation Run é bastante fácil e rápido de se ler. Deixa-nos imersos no universo de Carol Danvers e companhia de forma quase imperceptível, levando-nos a sentir um forte carinho e apego pelas personagens, e a querer seguir as suas peripécias sem perder pitada.
Para aqueles que são novos em relação ao mundo da Captain Marvel, não há problema: podes ler este livro sem qualquer informação prévia e desfrutar dele igualmente. Além de que ficarás imediatamente familiarizado e preparado para as bandas desenhadas, se assim o quiseres.

Sinope
Um novo romance original em que o herói mais poderoso do Universo Marvel tem de libertar escravos Inumanos presos num mundo distante.
Carol Danvers, Captain Marvel, evita por pouco que uma nave espacial caia. A sua piloto, Rhi, é uma jovem Inumana de um grupo que partiu para uma vida entre as estrelas. Em vez disso, ficam presos num planeta onde um Inumano escravizado traz ao seu dono grande poder e influência. Horrorizada com o relato, Carol reúne uma equipa — incluindo o Homem-Formiga, Mantis e Amadeus Cho — e partem para libertar o povo de Rhi.

Pontos Fortes
O que são palavras? Este livro encheu-me com todos os tipos de calor aconchegante, alegria, gratidão e do conhecimento de que nunca estamos realmente sozinhos nas nossas batalhas.
É o livro que ofereceria à minha melhor amiga, ou a uma irmã mais nova, ou a qualquer rapariga que pudesse, porque este é o tipo de história que eu gostaria que elas crescessem a ler: uma história sobre mulheres e raparigas que sabem o seu valor e se mantêm fortes apesar de tudo e de todos os que dizem o contrário. Raparigas que se apoiam umas às outras e se mantêm unidas contra aqueles que tentam oprimi-las. Quereria que experienciassem a inspiração, o orgulho e o espanto que senti ao ler, e que guardassem esses sentimentos para sempre.
(Portanto, se estás a pensar num presente para as leitoras da tua vida, deixo-te aqui esta sugestão.)

Adorei a camaradagem entre as raparigas, o respeito dos rapazes, as amizades intensas e o sentido de dever que acompanha o facto de serem chamadas de heróis. Tudo isto fez com que o meu coração se enchesse dentro do peito.
Mas deixando de lado a sentimentalidade, Captain Marvel: Liberation Run não é apenas um hino feminista – é uma aventura cheia de ação, com personagens incríveis, enredos inteligentes, diálogos para refletir, e um ritmo de cortar a respiração.
Ao lê-lo, senti-me como se estivesse a ver um filme de super-heróis ou a ler uma das edições épicas de Kelly Sue DeConnick. Tess Sharpe conseguiu tornar as personagens tão vivas e o mundo tão vibrante com a sua escrita vívida e palpável, que mesmo que sejas daqueles que ‘evita’ livros ou está mais habituado a BDs e mangas, com certeza não terás nenhuma dificuldade em saltar para dentro deste.

Nunca me senti aborrecida ou a desejar que algo acontecesse, porque se há coisa que não falta neste livro são surpresas – e não apenas pelo seu valor de choque. São magistralmente entrelaçadas com o enredo e reveladas no momento certo, com o impacto perfeito.
A verdade é que me diverti muito com este livro. Queria continuar a virar as páginas a um ritmo frenético, mas saboreando cada uma delas com o tempo devido (isto faz sentido? Espero que sim). Não vou mentir: as coisas tornam-se desoladoras, por vezes, mas Carol Danvers tem esta energia que não só te fará acreditar cegamente nela e nas suas capacidades, como também em ti próprio. É, simplesmente, contagiante.

Adorei as pequenas referências aqui e ali, e sei que ainda assim acabei por me esquecer de algumas. A autora teve o cuidado de atualizar o leitor com histórias de fundo e mencionar detalhes importantes que, de outra forma, teriam impacto na experiência de leitura. Também o fez de uma forma simples e direta, que não foi nem complicada nem aborrecida, e que realmente complementou a narrativa. Pareceu natural, mas ainda assim serviu o seu propósito educativo.

Captain Marvel: Liberation Run é uma combinação de The Handmaid’s Tale e Mad Max: Fury Road e se isto não te parece glorioso, então não sei o que dizer. Contém verdade e ficção em quantidades iguais e desafia o leitor a parar e pensar por um momento, sem nunca se tornar moralista. Será que o mundo em que vivemos agora é assim tão diferente deste pesadelo distópico? Hmm…
É ousado e manso e leve e pesado, tudo reunido numa bola gigante de maravilha. Também é quase perfeito.

Pontos Fracos
Devo dizer que alguns diálogos são um pouco cheesy, especialmente no final. Mas, ao mesmo tempo, será que posso realmente culpar a autora por querer prestar homenagem às origens da Captain Marvel – as próprias BDs da Marvel – onde o cheesy é, basicamente, obrigatório? Será que os meus lábios não se curvaram conscientemente perante as frases cliché e as piadas previsíveis, embora incrivelmente satisfatórias? Se curvaram!

Uma queixa mais séria, porém, é o facto de, apesar de se chamar Captain Marvel, o livro girar muito mais em torno de Rhi e da sua história do que da própria Carol.
Não foi uma má escolha por parte da autora porque acho que resultou e não deixou de captar a minha atenção (muito pelo contrário), mas ainda assim gostaria de ter seguido a própria aventura da Captain Marvel em vez de a ver num papel mais secundário. É uma força a ser reconhecida e merece os holofotes.
Foi um pouco decepcionante, para ser honesta, mas, mais uma vez, não tirou muito da história nem do meu prazer ao lê-la.
No Geral
Este livro deve ser lido por todos: mulheres, homens, não-binários – todos. Não oferece um ponto de vista demasiado original, nem um enredo inovador; na verdade, faz exatamente o contrário – traz de volta uma verdade antiga, cansativa e inconveniente que se tenta impor há décadas e, no entanto, continua a encontrar resistência de todos os ângulos possíveis para ser aceite. Mas é um livro que explora esses temas na perfeição, e sabes o que dizem em relação a não consertar o que não está partido…

Assim que comecei a ler Captain Marvel: Liberation Run, quis descobrir de onde vinha esta mulher incrível, a sua história e quem eram os seus amigos. E com isso, acabei por ler uma série de bandas desenhadas pelas quais nunca tinha tido interesse…
Mas sabes o que é ainda mais fixe? Carol Danvers. E em segundo lugar, este livro.

Captain Marvel: Liberation Run de Tess Sharpe está disponível em inglês na Amazon.com, Amazon.es, Amazon.co.uk, Kindle, Audible, Wook, Fnac e outras lojas aderentes.