Hoje decidi trazer-te um tema mais sério, numa mini série espetacularmente criada, das melhores que me vem à memória, editada, produzida, encenada… É de seu nome Chernobyl.
Tendo como pano de fundo o tema pesado que tem, deve ser tratada com o devido respeito, com a importância e o impacto que realmente tem direito.
Decidi por isso, em primeiro lugar, contextualizar um pouco o assunto em questão, antes de falar sobre a produção televisiva, apesar de a mesma se basear nos factos reais do acontecimento, ou seja ser uma história verídica.
Chernobyl foi um desastre nuclear enorme entre 25 e 26 de Abril de 1986, no norte da Ucrânia Soviética. O acidente ocorreu de madrugada, durante um teste de segurança em que os sistemas de energia e segurança foram intencionalmente desligados. Um enorme conjunto de fatores fez com que a situação saísse fora do controle e ganhasse proporções catastróficas e descontroladas. Seguiu-se uma explosão, um incêndio, grafite pelo ar, o que durou aproximadamente 9 dias. O número de feridos, mortos e vítimas é ainda uma incógnita e gera até hoje bastante controvérsia. As radiações lançadas foram incontroláveis, o que gerou também doenças como o cancro.
Esta produção televisiva da HBO, foi não só criada para explicar o sucedido, quase como que um documentário, mas também para alertar e fazer a população abrir os olhos, já que entramos em 2020 com dez reatores semelhantes ao de Chernobyl ativos a alimentar redes elétricas como aquela.
A série conta apenas com cinco episódios e uma temporada, criada nos Estados Unidos em 2019 categorizada como drama. O seu criador foi Craig Mazin e a sua emissora televisiva foi a HBO. Já quanto ao seu diretor, foi Johan Renck e os seus produtores foram: Craig Mazin, Carolyn Strauss e Jane Featherstone. O elenco foi composto por: Jared Harris, Stellan Skarsgård e Emily Watson.
Neste sentido a série não fala apenas sobre uma das piores catástrofes provocadas pelo Homem na História, ou seja não retrata apenas a história em si, mas mostra também a bravura e a coragem dos homens e mulheres que viviam naquela cidade, que viveram aquele horror que os assombrou, e que se sacrificaram para salvar a Europa de um desastre inigualável na História do Homem.
Vi esta série em mais tempo do que esperava, como sou uma devoradora compulsiva de produtos mediáticos, achei que 5 episódios para mim iriam ser “canja”, no entanto, estava equivocada. Uma série tão pesada, levou-me mais tempo para ver do que séries com várias temporadas de 24 episódios cada. Cada episódio era um mundo novo para digerir e para assimilar, com calma. Mostra para além do problema, as tentativas de solução e os heróis, meros cidadãos inocentes, o julgamento, os cientistas e todos os problemas do antes e do depois do desastre.
Para além destes tópicos, finalmente encontrei uma série, direta, sem enrolo, que escolhe os pontos fulcrais da trama e foca-se neles, retratando-os com precisão e exatidão. Ou seja em cinco episódios vemos: o desastre, as reações, as perdas, as consequências e as resoluções. É uma produção reflexiva, que dá explicações ao público, valorizando a verdade e sem uma única ponta de manipulação.
É uma série que arrepia qualquer um, completamente justificável, arrasadora e chegando mesmo a ser monstruosa. No fundo, todos nós sabemos o que é/o que foi Chernobyl, no entanto, poucos de nós sabíamos o que realmente se tinha passado com aqueles homens, aquelas mulheres, aquelas crianças, aqueles animais, aquelas plantas, aquela cidade, aquele local e aquele país. A produção ilustrou-me uma outra perspetiva do ocorrido.
Sempre ouvi falar deste desastre, quer fosse em documentários, nas aulas de história ou na televisão. O ângulo escolhido foi sempre o mesmo, o lado histórico, os factos, a parte cientifica e química. Mas aqui, o que marca a diferença em “Chernobyl de HBO”, é pelo facto de mostrarem o lado mais humano, mostra o antes, o durante e o depois, mostra o que sentiram as pessoas e os seres vivos, dá exemplos das vidas das pessoas e paralelamente mostra o julgamento daqueles que foram responsáveis pelo desastre.
Lyudmilla e Vasily (um casal), foram um dos exemplos retratados, nos episódios. Vasily, bombeiro que esteve em ação no local e teve consequências devastadoras na sua saúde, acabando por ir para as urgências. Lyudmilla, grávida de Vasily na altura, acaba por conseguir visitá-lo no hospital, onde este se encontra com queimaduras graves e vómitos. Inicialmente pensava-se que o problema do seu marido podia ser contagioso quando existisse risco de exposição ou contacto. O pobre homem, acaba por piorar e morrer. Mais tarde, Lyudmilla tem o bebé, e este morre pouco tempo depois, absorvendo toda a radiação da sua mãe. No entanto, atualmente, sabemos, por especialistas que isso não é possível.
Foi um exemplo que me emocionou, que me tocou e que me fez entender o que as pessoas reais, seres humanos, sentiram. Visualmente é chocante, já tinha visto imagens no Google e já me tinham alertado/”incomodado”, no entanto, ver mesmo que em carácter fictício, pessoas naquele estado abalou-me e abala qualquer um. Pensar que todas aquelas imagens ou sequências de momentos, são verídicas e aconteceram… É absolutamente “impressionante”.
Por fim, a série mostra também uma grande problemática da atualidade, a mentira, a falta de factos, encobrir rastos e pistas. É uma produção televisiva em que não é necessário acrescentar nada, não tem de se adicionar drama ou efeitos especiais, apenas transmitir a veracidade dos factos. O que considero ser mais importante, é o respeito do realizador e dos atores à História e ao sofrimento de toda a região. Esta é uma série que pretende homenagear as memórias das vítimas e de todos os intervenientes. Faz nos pensar, sentir, tentar ser melhor, lutar por um mundo diferente! Espero que gostem.
Chernobyl está disponível na HBO Portugal.