Chip’n’ Dale – Rescue Ranger, também conhecido em Portugal como “Tico e Teco – O Comando Salvador”, é um daqueles exemplos de situação em que qualquer cinéfilo ou entusiasta não espera nada do filme (ou esperamos mas não pela positiva) e o mesmo acaba no final por nos surpreender muito.

Assim já para meter as cartas na mesa, Chip ‘n’ Dale – Rescue Rangers na minha modéstia opinião é um dos filmes mais divertidos do ano, acabando mesmo por revelar-se uma óptima surpresa.

Curiosamente a série de animação original de 1989 passou-me muito ao lado durante a infância, sem razão aparente. Lembro-me vagamente de ter sido transmitida na RTP1 (ou RTP2?) legendada em português, dos famosos VHS do Disney Afternoon também estarem à venda, e é claro das vestimentas de Tico (à lá Indiana Jones) e Teco.

Aliás, no que toca ao Disney Afternoon, a minha febre era bem mais virada para DarkWing Duck (que continuo a implorar à Disney por uma nova série de animação do pato justiceiro) com alguns VHS da série de colecção, e ainda acompanhava o famoso Ducktales – Pato Aventuras bem como o já um tanto esquecido Tale Spin que se focava nas aventuras de Baloo do Livro da Selva como um piloto de avião.

A equipa de Chip’N’Dale – Rescue Rangers da série de televisão de 1989

John Mulaney e Andy Samberg dão as vozes a Chip e Dale

Lançado directamente para o serviço de streaming do Disney+, Chip’n’ Dale – Rescue Rangers opta por um interessante conceito já usado no passado, mas que aqui é aplicado de forma inteligente, o que dá ao filme uma camada mais recheada, e com uma escrita humoristica mas perspicaz, em certas mensagens ou comentários que quer transmitir em torno do mundo da animação.

De um lado temos uma continuação da série de TV de à 30 anos atrás com o mesmo titulo, e por outro temos uma nova aventura e missão por trás dos bastidores e das câmeras daquela que era a série em que Chip e Dale e o resto dos Rescue Rangers trabalhavam na televisão.

Peter Pan “Sweet Pete” na voz do carismático Will Arnett em Chip’N’ Dale: Rescue Rangers


O filme é também uma bela homenagem para os mais conhecedores da série, onde não faltam várias referências visuais e diálogos entre os personagens sobre o seu percurso televisivo no passado. Chegamos até a ver uma espécie de “museu” na posse de Dale. É certo que vai arrancar algumas alegrias ao verem estes personagens reunidos, e mesmo os primeiros minutos do filme não esquecem claro a música do tema original (que até tem direito a uma outra nova versão de Post Malone nos créditos finais).

Chip’n’ Dale – Rescue Rangers está longe de ser um tipico “Alvin e os Esquilos”

Naquilo a que se pode chamar uma sequela espiritual de Quem Tramou Rogger Rabbit em alguns sentidos, aqui também temos um mistério por resolver quando vários personagens de animação começam a desaparecer e cabe a Chip e Dale o desvendar juntamente com alguma ajuda pelo meio.

Infelizmente o argumento do filme é muito básico nesse aspecto, não criando grande manobra para desenvolver mais e melhor, as revelações a cada pista chegam mesmo a ser previsíveis em certos momentos ou na própria resolução da trama que acaba cedo demais.

Porém toda a metalinguagem à volta compensa ainda assim esta parte, que achei a mais fraca do filme, um aspecto que foi melhor trabalhado (apesar de ser para um público alvo diferente), no filme que citei mais acima, que permitia deixar o suspense no ar durante a investigação.

Dito isso, Chip’n’Dale – Rescue Rangers está longe de ser um típico Alvin e os Esquilos e ainda faz algumas piadas em relação aos mesmos, ao criticar, por exemplo, o exagero hoje em dia de os estúdios colocarem Cartoons a fazer rap (isso mesmo).

É nessa metalinguagem, como no exemplo de Alvin e os Esquilos, em que o filme ganha pontos ao recorrer aos vários estilos de animação usados até hoje, e de uma forma tão divertida fazer vários comentários, seja sobre o envelhecimento digital, ou mesmo as tendências atuais dos mesmos, como é o caso de Dale que decidiu passar por uma cirurgia 3D Live Action para voltar ao estrelato.

Não falta também menção visual ao horrível Cats de 2019, ou comentários acerca da fase das animações feitas por Robert Zemeckis como Polar Express consideradas estranhas por muitos nos anos 2000 (não por mim, Beowulf continua incrivel!). São estes e muitos outros temas e criticas à volta (como também os filmes bootleg), que tornam esta aventura deliciosamente recheada para os amantes de animação e para os fãs de Rescue Rangers.

Por último, falta destacar um dos aspectos mais loucos desta aventura, que são as toneladas de referências, cameos, easter eggs, e todo um par de botas de tudo o que vos possa passar pela cabeça de personagens de animação.

Chip’n Dale: Rescue Rangers acerta em tudo aquilo que Space Jam 2 falhou 

Calma que não irei dar spoilers, por mais que a tentação de falar sobre este ponto fosse mesmo muita, acreditem, mas achei incrível, quanta liberdade criativa foi possível (ou com quantos números de licenças) criar este filme, que não passa só pela Disney mas por outras propriedades de diversos estúdios e lugares diferentes. A melhor parte do filme é ainda justamente o cameo mais inesperado do ano, e que vai deixar muitos sem reação ou a rir desalmadamente ao perceberem as piadas (obrigado Internet) e ainda chega a ser importante para o filme.

Todo esse background acima referido, de personagens e objectos, serve um propósito, seja ele visual ou de forma narrativa, ajudando no ritmo da trama e nas peripécias de uma forma criativa, sem perder o foco na demanda da dupla de Rangers. Resumindo e concluindo este último aspecto, Chip’n’ Dale: Rescue Rangers acerta em tudo aquilo que Space Jam 2 falhou redondamente no ano passado.

CONCLUSÃO
O verdadeiro Multiverso da Loucura de 2022
7.5
Ricardo Salavisa Simões
Cinéfilo, gamer, cosplayer e ainda adorador de praia, piscina e tudo o que envolva água, e cenas aquáticas ao mesmo tempo que é um louco por Studios Ghibli desde gaiato. Pretende um dia voltar a pegar numa prancha de Bodyboard e recordar outros tempos de preferência sem tubarões do Spielberg pelo mar.
chipn-dale-rescue-rangers-2022-analiseA nova aventura de Chip'n' Dale: Rescue Rangers revela-se como um dos filmes mais engraçados do ano mas mais do que isso é uma celebração criativa e inteligente da arte da animação em geral. É uma pena ter ido directamente para o Disney+, pois isto merecia um lançamento nos cinemas.