A Firewalk Studios finalmente atirou Concord para a selva dos Hero Shooters, e o título já se encontra disponível para Playstation 5 e PC. No dia 24 de Julho disponibilizei o artigo de primeiras impressões da Beta do jogo, e pouco ou nada mudou desde então. Com o jogo lançado na sua forma plena como os desenvolvedores assim o almejavam, será que vale a oportunidade? Honestamente, não me parece.
Concord tem neste preciso momento, pelo menos 3 concorrentes que facilmente o ofuscam, e todos gratuitos no formato JxJ. Esta situação delicada em que a Firewalk se meteu poderia ser reversível, tornando Concord um jogo free to play com o famoso modelo de battle pass ou microtransações, mas depois do conteúdo da beta e do produto final, e acima de tudo tendo em conta a saturação de mercado, penso que nem esse modelo tornaria este título rentável, e explico o porquê abaixo.
Poucos elementos em Concord são interessantes. O design dos mapas é desinteressante, são enormes mas muito afunilados; carregados de espaços apertados nas zonas de confronto directo, e cheio de flancos. O elemento surpresa de jogadas individuais é raro aparecer, já que o sucesso de cada partida deste título depende inteiramente da composição da equipa, isto é, uma formação de freegunners necessita de uma certa configuração para receber alguns bónus extra, e isto compromete (e de que maneira) a destreza de alguns jogadores.
A jogabilidade é sólida e diverte, mas não é aditiva no bom sentido da palavra. Os problemas da beta continuam, o pace é extremamente desajustado, e nada mudou. Para não facilitar, não estão implementados comandos predefinidos para pedir suporte como healing, ou foco num certo ponto, e tudo o que existe é um ping, uma espécie de marcador que podes accionar no d-pad do teu Dualsense. Num jogo que depende inteiramente do trabalho de equipa e em que os jogadores não se juntam ao voice chat, pelo menos a Firewalk deveria ter pensado nestes atalhos que muitas vezes fazem a diferença, e isso não foi sequer equacionado, mesmo com o feedback dos jogadores depois da beta.
Alguns freegunners estão completamente acima de outros no que a qualidade diz respeito, capazes de causar dano significativo aos inimigos num curto período de tempo, ao mesmo tempo que são praticamente intocáveis devido à sua mobilidade e dureza extrema, reduzindo ainda mais o conjunto de heróis que realmente faz sentido escolher.
Como modos de jogo, contamos com os clássicos do género como o dogtag, ou como aqui chamam; caça ao troféu. Menciono em particular este modo, porque aqui mostra claramente o desequilíbrio que existe na criação de algumas personagens, como o 1-0ff, um robô extremamente lento e com dps tão baixo que até os jogadores mais desligados do género notam esta discrepância em poucas rondas deste modo que obriga movimentação ágil do “atira e foge para a cura”.
O jogo conta com cross-platform entre Playstation 5 e PC, e eu sou daqueles jogadores que imediatamente desliga esse modo, mas em Concord isso é impensável. Se já com cross-platform desligado ele demora imenso, não quero imaginar apenas com jogadores de uma só plataforma.
O resto já sabemos; 16 freegunners com variantes, todos eles personalizados como os demais do género. Skins das armas, acessórios e roupas, tudo isto é desbloqueado com a progressão e “trabalhos” como missões de matar ‘x’ jogadores, ou curar uma certa quantidade de vida, e por aí vai. Achei tanto a progressão de personagens, como a geral, bastante equilibrada, com imensos “trabalhos diários” que resultam em centenas de milhares de pontos de experiência. Ao chegares a nível 6, desbloqueias o modo ranked do jogo, que está completamente vazio no lançamento, com matchmaking de mais de 7 minutos, isto durante o fim-de-semana. Os restantes modos são o team deathmatch que tão bem conhecemos de tudo o que é jogo JxJ, o modo invasão que te faz capturar e defender zonas, o campo de treino para treinares as tuas habilidades, e o contra-relógio, um modo interessante com alvos e obstáculos para treinares percursos e até lutar por tempos nas leaderboards.
Já que mencionei os freegunners, será impossível deixar passar em branco a escolha criativa da construção destas personagens. É impressionante como nenhum deles é apelativo a nível visual. Parecem ter saído de um filme sci-fi daqueles low cost em que cada componente acoplado ao corpo é uma experiência de algo que não resultou. São realmente desinspirados, e o pior, é que nem sequer interagem entre si durante as partidas, algo que iria dar outra vivacidade ao jogo. Os desenvolvedores quiseram apostar tanto na diversidade de quem tanto apela nos dias de hoje e reclama nas redes sociais, que pode ser que desta vez tenham aprendido que habitualmente, esses barulhentos das redes ficam apenas por ali a disparatar, e não compram jogos.
De tanto conceito inovador e diverso, o que foi entregue foram apenas personagens genéricas e sem qualquer carisma, e ao contrário de outros jogos hero shooters, aqui não consegues identificar só pelo olhar, quem é o Healer, o Tanque, ou o DPS da equipa. É precisamente aqui que Concord falha, e muito, porque por muito que o jogo funcionasse de forma perfeita no sentido da jogabilidade (que funciona muito bem), é por causa das personagens que os jogadores compram Hero Shooters, como podemos ver o que aconteceu com Overwatch. O cast desse título da Blizzard foi tão perfeito e diverso que nas primeiras semanas os jogadores já faziam cosplay e já transportavam os heroes para outros universos.
O ponto positivo do design de Concord é nas armas, que são muito originais e diferenciadas dos demais jogos do estilo. São coloridas, funcionam bem, o coice é bastante equilibrado e o Dualsense funciona muito bem para uma experiência mais casual, já que nos modos mais competitivos os jogadores simplesmente desligam tudo o que seja vibrações e qualquer outro componente que possa estragar o desempenho dos mesmos.
Os gráficos são muito belos, a nível de nova geração e com boa performance na Playstation 5. O jogo corre a uns bons sólidos 60 frames fixos, sem quebras. A narrativa do jogo é contada através de cutscenes curtas que mostram esse poderio e que contextualizam um pouco a situação dos personagens. Mas é na vasta e chata Galactic Guide que toda a narrativa se encontra. Este, é um mapa da galáxia com locais e acontecimentos onde Concord se situa. Basicamente, esta é a lore espalhada em fragmentos, e novas entradas são desbloqueadas após completares alguns desafios, ou progredindo com os freegunners. Achei curioso nas primeiras horas, mas uma vez mais; os personagens são tão desinteressantes que custa investir tempo para ficar a conhecer mais das suas origens ou o que desejam. Aqui, não existe voice acting, apenas texto e imagens.
Um dos outros pontos positivos de Concord é sem dúvida tudo o que envolve o seu som. Desde as faixas originais orquestrais épicas, aos efeitos das munições a serem disparadas das armas, é simplesmente brilhante a imersão antes e durante cada partida. O Áudio 3D ajuda imenso a detectar de onde surgem os movimentos inimigos, fazendo deste, o jogo multiplayer com som mais limpo que já ouvi até então nesta geração.
Depois da Beta, pensei seriamente que a Firewalk Studios iria repensar o plano de lançamento, adiar, e mudar completamente o modelo de lançamento para um plano gratuito, mas não aconteceu. Concord terá um longo caminho pela frente para conquistar o seu nicho, e talvez o caminho seja optar pelo modelo gratuito, e não tenho dúvidas que será essa a opção adoptada em alternativa ao abandono como já tanto vimos nesta indústria. Há espaço para todos, e se alguma vez Concord conseguir competir nesta luta da concorrência feroz dos hero shooters, já será uma vitória.
Agradecemos à Playstation Portugal por nos ter cedido esta chave para análise, para a plataforma PS5.