Tive a oportunidade de experimentar a beta da mais recente aposta da Sony, desenvolvido pela Firewalk Studios: Concord. Infelizmente, a beta não apresentou elementos suficientes para se destacar da concorrência, num mercado saturado de títulos do género, e com propostas bem mais interessantes para os jogadores. Há poucas ideias novas, e muito a trabalhar, vamos tentar perceber o porquê.

Se já estás familiarizado com Overwatch, Valorant, Paladins e outros jogos de estilo denominado Hero Shooter, Concord acaba por ser isso mesmo, apenas mais um numa lista já muito bem trabalhada com ideias muito arrojadas, com a diferença que o título da Firewalk não inova, nem impressiona.

O modelo de jogo de Concord é muito idêntico ao da sua concorrência. Trata-se de um PVP online 5V5, com 17 freegunners – como são chamados -, diferentes para escolher, cada um com as suas habilidades e características únicas, espalhados pelas 6 diferentes classes: Anchor, Breacher, Haunt, Ranger, Tactician e Warden. Uma das poucas diferenças que divisa Concord de títulos como Overwatch reside nestas classes, que ao serem completadas de acordo com a construção da equipa de freegunners, oferece um bônus de tripulação (crew) exclusivo, como um tempo de recarga de melhorado, ou mobilidade aprimorada, entre outros bónus. Este apoio extra reforça ainda mais a ideia que Concord terá que ser mesmo jogado com comunicação, e esta é apenas uma das razões…

É um pouco ingrato mencionar desequilíbrio entre personagens e desbalanceamento entre habilidades, isto porque a Firewalk tal como todas as outras, irá retirar o feedback dos jogadores, e fazer ajustes aqui e acolá. O desbalanceamento actual é enorme, mas sempre foi assim, e as correções chegarão com as actualizações. Com isto, focarei apenas no core que é Concord, e no que é capaz e não capaz de entregar.

A jogabilidade entrega-se de forma capaz, mas honestamente esperava mais imersão e capricho. Experienciar cada uma das armas disponibilizadas é sempre uma sensação diferente, devido não só à sua vistosidade óptica que aposta em cores vivas e designs arrojados, como a própria impressão que cada uma delas causa ao premir os gatilhos do Dualsense. Não obstante, a imersão em combate patina na superfície, e logo nos satura. Alguns personagens parecem estar ali a mais, devido à inutilidade das suas ferramentas de combate e como se contra-atacam umas às outras, e uma vez mais; só o balanceamento da equipa ditará o futuro de alguns deles.

As habilidades são um misto de emoções. Existem duas activas, e uma passiva; algumas são muito originais, como a do Teo, por exemplo, que consegue ver pela fumaça através da sua mira, criando vantagem para o gunplay a curto e médio alcance, ainda que abdicando um pouco do trabalho de equipa. Já Vale, tem um salto numa habilidade activa, que de pouco ou nada consegue fazer com o auto-aim que é de facto avassalador neste título.

Algo a melhorar no seu geral será certamente a velocidade de todos – e sem excepção -, os personagens. Recordam-se de ter mencionado um pouco mais acima que este é um título que no seu estado actual requer muita comunicação? Isso mesmo, voltamos a outra justificação; caso te queiras aventurar a jogar a solo sem qualquer tipo de orientação e jogues com um tanque, a chance da equipa te abandonar é enorme, e ficarás sozinho como um fácil alvo a abater pelo mapa.

Já não basta ter que demorar mais de 40 segundos a chegar à acção e morrer, ainda tens outra lentidão acrescida, o respawn da personagem. Assim, estas duas simples acções juntas, estragam muito rápido a imersão de uma partida online que deverá ser de constante carregada adrenalina. Certamente estes dois serão os ajustes mais urgentes a serem trabalhados, e tenho a certeza que no seu lançamento assim estará resolvido.

Visualmente o jogo é bonito, principalmente no detalhe das personagens e nas cinemáticas, que parece ser algo em que a Sony irá apostar conciliado de uma narrativa que contextualize o universo e cada um dos seus passados. Esta abordagem de entregar mini histórias aos jogadores não resultou muito bem com Overwatch, que ainda assim o fez de forma brilhante, e penso que acontecerá o mesmo com Concord, que ainda carrega a desvantagem de ter algumas personagens bem mais desinteressantes que o título da Blizzard. Uma vez mais, só o tempo nos dirá.

Os cenários disponibilizados na beta são completamente desinteressantes, e têm tudo o que é cliché dentro do género, como 2 caminhos laterais e um no meio, com pontos de vida espalhados pelos cantos do mapa. Falta inovação, elementos para interagir, algo que nos faça sentir que estamos a usar o ambiente a nosso favor. Infelizmente nada disto está presente aqui, aliando-se à falta de originalidade dos modos de jogo; o famoso team deathmatch e dogtags.

A pressão acentua-se ainda mais quando sabemos que este jogo será lançado ao valor de 39.99€, o padrão game as a service da Sony que parece ter vindo para ficar. As microtransações já foram confirmadas. Serão apenas itens cosméticos, e provavelmente a inclusão de alguma battle pass já que a Sony quer a todo o custo ter aqui uma cópia da concorrência que se tente destacar na selva dos hero shooters. Sabendo eu que o valor é muito subjectivo no que toca a diversão, expresso as minhas sinceras dúvidas se não haverá melhores ofertas já solidificadas no mercado a uma melhor relação custo x qualidade para o tipo de gamer competitivo que procura este estilo.

É importante lembrar que a beta representa apenas uma pequena parte do jogo final. O sucesso de Concord dependerá da sua capacidade de se diferenciar dos outros jogos do género, e só o tempo dirá como a Firewalk Studios tratará a sua primeira obra competitiva no mercado dos shooters online.

Um agradecimento especial à Playstation por nos ter fornecido um código de beta.

Igor Gonçalves
Curioso, explorador, e fã de videojogos desde que me lembro, e em especial pela saga Metal Gear. Não jogo plataformas, jogo jogos.