Bem, há jogos que me deixam sem palavras pela sua escala, outros pela incrível narrativa, e agora encontrei Crime Boss: Rockay City, que me deixou sem palavras, mas deixou-me de tal forma que ainda nem percebi bem porquê. Desde a sua revelação nos The Game Awards que toda a gente ficou embasbacada a tentar perceber como é que as várias peças que compõem Crime Boss se juntaram para criar tal oferta dos deuses. A verdade é que chegou, e quero falar sobre isto.

Assumimos o papel de Travis Baker (interpretado por Michael Madsen), um traficante de droga que se mudou para Rockay City à procura da fama e riqueza. Após vermos o rei do submundo morrer numa festa, abre-se caminho para o próximo barão, e Baker empenha-se em preencher esse vazio.
Não consigo compreender o pacing de Crime Boss. Existem obrigatórias cutscenes que nada acrescentam à história, nem sequer servem como falso loading para as missões, pois muitas vezes estas decorrem em espaços fechados. Acredito que tenha sido uma forma de exibir o elenco, mas mesmo as prestações acabam por ficar aquém do auge de cada um. Claro que o guião não ajuda nenhum deles, sendo cada personagem uma caricatura do seu estilo. Deixo aqui uma menção honrosa ao sheriff da cidade, Chuck Norris, antes que ele me encontre.

Ao abrirmos o mapa, encontramos várias missões, entre elas assaltos, assassinatos, ou defesas e ataques a territórios rivais. Ora, ao verdadeiro estilo mafioso, nenhum Don governa sem os seus caporegimes e subsequentes soldados, portanto, antes de cada uma, reunimos uma equipa absolutamente genérica, podendo até, aliás, escrevo, devem, ser 3 NPCs exactamente iguais (apelido-os de Trigémeos). O formato e desenrolar das missões bebe muito do sumo de Payday, onde introduzem muitas mecânicas mas nenhuma é devidamente explorada, seja a ação furtiva, os tiroteios ou até mesmo as interações com o cenário.
Desviando-se da veia tradicional, encontramos aqui um roguelite. Isto significa que se escolhermos Baker para desempenhar as missões e este for sozinho ou não for ressuscitado a tempo pelos companheiros, a história termina e renascemos com as habilidades que desbloqueámos antes, mas sem quaisquer bens materiais. As próprias missões também são aleatórias, o que significa que ao passarmos a campanha novamente, é muito raro encontrarmos o mesmo caminho.

Quando nos cansamos do modo história, podemos encontrar dois modos multijogador. Claro que também podem ser jogados a solo mas não foram criados com esse propósito. O modo Crime Time, para além da irritação de ser o modo predefinido quando abrimos o ecrã, embora esteja em segundo na lista, leva-nos a cometer assaltos “soltos”, enquanto que o modo Urban Legends traz consigo assaltos que estão ligados entre si, quase num formato mini campanha. Achei a cooperação muito boa, no sentido em que a ligação raramente cedeu e não houve qualquer falha na sincronização. Por outro lado (claro), estes assaltos são iguais aos que realizámos na campanha, pelo que estes modos acrescentam apenas a possibilidade de os fazermos com um amigo.
Infelizmente, os bugs e companhia acabam por deixar maior marca do que o olhar frio e distante das várias personagens enquanto falam. Foram vários os bugs encontrados, entre NPCs que desaparecem ou ficam presos, objetivos que não desbloquearam ou visão raio-x de NPCs, pois não havia ninguém na sala (sem janelas) e mesmo assim descobriram-me.

Crime Boss acaba por deixar uma boa marca graficamente. Não deslumbra, mas dada a localização (pseudo-Florida), apresenta visuais vibrantes, que acabam por trazer alguma alegria ao ecrã, dando-nos uma força adicional para terminarmos as missões. Deixem-me só realçar o que parece ser um orçamento minimalista, ou todo gasto nas personagens pois ouvi uma única música (Freestyler, grande malha claro) durante todo o jogo, seja em que missão fosse, o que me levou a acreditar que o contabilista se esqueceu de adicionar a OST aos gastos e utilizaram este plano de última hora.
Crime Boss: Rockay City é um jogo que me dá pena pois sei que se encontra um bom núcleo, apenas disfarçado por muitas camadas superficiais que são atiradas ao jogador, tornando o que podia ser um bom simulador de mafioso/gangster numa paródia de si próprio.