Comecei a minha jornada enquanto jogador à boleia de plataformas, corridas e pequenos RPGs na PlayStation, no Game Boy Color e na Super Nintendo. A nostalgia relativa a títulos dos anos 90 continua a ter grande impacto na forma como consumo e encaro criações atuais, levando-me a ter em conta o processo e o progresso desde então até aos dias de hoje. E, no caso desta análise, essa leitura através do tempo acaba por ser mais útil, ainda que torne a experiência levemente agridoce.
Croc faz parte de uma legião de mascotes que deram (e dão) vida ao gaming há muitos anos. Apesar de não ser comparável com nomes como Crash Bandicoot, Spyro ou Super Mario, Croc reúne algumas características destes ícones, combinando-as e misturando-as numa nova receita, embora similar ao existente. Enquanto platformer clássico, Croc: Legend of the Gobbos chegou ao mercado em 1997 e está de regresso para alegria de todos os que cresceram com as aventuras do pequeno crocodilo. Sob a forma de remaster, que na prática é quase um remake, Croc pretende, ao longo de dezenas de níveis, reencontrar velhos amigos, conquistar novos jogadores e alcançar adeptos do mundo do retrogaming.
Croc: Legend of the Gobbos é bastante fiel ao título original. Colorido, vibrante e minimalista, à semelhança de outros clássicos da época, esta reedição está visualmente apelativa e muito interessante. Os gráficos estão bem conseguidos, sendo clara a evolução ao longo do tempo. Felizmente, esta nova versão preservou a opção de manter os gráficos pioneiros, oferecendo a possibilidade de alterar entre estilos, numa definição que pode ser configurada ao longo de qualquer nível. Para os mais curiosos, é uma excelente oportunidade para conhecer a abordagem original e comparar o antes e o depois do ponto de vista gráfico. Um outro fator que merece ser sublinhado é a banda sonora, que reforça a proximidade ao original, apesar de repetitiva e ligeiramente cansativa.

Como qualquer outro título, este Legend of the Gobbos deve ser analisado com as lentes certas e de acordo com o que realmente é: o remaster de um clássico com quase três décadas. Neste caso, e com a existência de outros remasters no mercado, a comparação torna-se inevitável. Não é impossível que a qualidade dos originais comprometa o resultado da versão melhorada, mas é inegável o facto de a N. Sane Trilogy, de Crash Bandicoot, e a Reignited Trilogy, de Spyro, serem claramente superiores a este remaster. Sem grande impulso aparente face ao original, Legend of the Gobbos acaba atrás dos restantes do género, falhando em pontos cruciais daquilo que pretende ser uma versão melhorada e mais completa.
Se por um lado este renovado Croc contorna a crítica questão dos tank controls do original, por outro lado há elementos deixam muito a desejar, sobretudo no campo da jogabilidade. Fazendo contas de cabeça, diria que nove em cada dez vezes que perdi uma vida foi por ter escorregado de uma plataforma, de uma rampa ou do limite de um caminho. Para efeito de simplificação desta ideia, é como se tivessem barrado todas as superfícies do jogo com manteiga, sobretudo as extremidades das plataformas. Ao controlar o desajeitado Croc, torna-se complicado mantê-lo e movimentá-lo de forma estável, sobretudo após saltos que não aterram como seria suposto. Vários movimentos ficam comprometidos pelas eventuais falhas (ou características) das hit boxes e estes deslizes técnicos acabam por ser a única dificuldade de Croc: Legend of the Gobbos. Com o protagonista escorregar constantemente e a ter problemas em agarrar plataformas e aterrar onde é suposto, qualquer sequência de movimentos é uma dor de cabeça. Para além disso, num mundo em que, pelo menos na PlayStation, a combinação X, X sempre nos deu um duplo salto, fazê-la corresponder a um salto único com impulso para baixo é a receita para o desastre.

Com o passar do tempo, querer completar os níveis na totalidade torna-se desmotivador. Graças a estes inconvenientes, chegamos ao ponto de apenas querer terminar o nível e passar ao próximo, que, infelizmente, acaba por ser quase igual ao anterior. Neste contexto, apesar de nos serem dados vários percursos possíveis dentro de cada nível, pode ser complicado circular de forma livre ou voltar atrás, o que obriga a repetir cada etapa ou a descartar itens e a perder uma exploração mais aprofundada de alguns espaços. Num âmbito geral, sinto que havia melhorias e detalhes que podiam ter sido implementados, sem comprometer a ligação ao original, mas que acabaram esquecidos e fechados na gaveta.
Colorido, animado e descontraído, se esquecermos a frustração dos comandos falhados, Croc: Legend of the Gobbos não assegura muitas horas de jogo, mas obriga à repetição de níveis, sobretudo para quem pretende completar o máximo possível de objetivos. Ao longo da história, a complexidade vai aumentando, oferecendo níveis mais extensos e elaborados, mas os adversários continuam simples de enfrentar, especialmente os vilões principais. Os cenários são elementares, carregando a magia e o encanto das consolas antigas, e a principal dificuldade do jogo, como escrevi acima, está nas superfícies traiçoeiras, nos movimentos limitados e nos saltos que insistem em não sair.

A nostalgia está bem presente em Croc: Legend of the Gobbos, numa verdadeira apologia à velha escola do gaming, onde quase nada nos é dito e quase tudo, de segredos a técnicas para completar tarefas, nos vai sendo dado a descobrir. Apesar do peso negativo que o movimento representa, este remaster inclui uma simpática coleção de conteúdo e curiosidades, para que possamos conhecer o universo Croc ao pormenor, conduzindo-nos numa agradável e animada viagem no tempo. No entanto, estamos em 2025, as expectativas são diferentes, as possibilidades são outras e um clássico como Croc, apesar de sempre bem-vindo, podia ter regressado com algo mais elaborado.
Croc: Legend of the Gobbos está agora disponível para PlayStation 5, Xbox Series X & S, Nintendo Switch e PC.
Um agradecimento especial à editora pela cedência de uma cópia digital para análise.