À primeira vista, e mesmo sem lupa, encontro várias semelhanças entre mim e o Detective Pikachu. Não somos propriamente altos, adoramos café e gostamos de desvendar mistérios. Para além disso, temos sempre um chapéu ou uma boina à mão, para completar o visual, quando a ocasião assim o exige. Apresentações feitas, é hora de seguir até Ryme City, para descobrir o novo lançamento do universo Pokémon: Detective Pikachu Returns.

Pikachu e Tim, a dupla de detetives

Em Detective Pikachu Returns, o pequeno Pikachu e Tim Goodman unem esforços para desvendar mistérios na pacata Ryme City, enquanto caminham por um enredo mais complexo, que envolve o pai de Tim, o lendário Mewtwo e uma misteriosa e suspeita organização. Passo a passo, as respostas vão surgindo e o envolvimento na história vai crescendo, à boleia de uma receita simples (e comum na franquia) que continua a dar resultado.

No decorrer da investigação, com base num trabalho conjunto, Tim interage com humanos e Pikachu interage com os Pokémon, recolhendo informações para fazer deduções consideravelmente básicas. Pikachu assume o papel de ponte entre Tim e os Pokémon, uma vez que é o único Pokémon com que o jovem detetive consegue comunicar. Controlando um ou ambos os protagonistas, cabe ao jogador percorrer cenários, consultar pistas e interagir com fontes locais para recolher informações.

Detective Pikachu Returns

O objetivo de qualquer investigação passa por desconstruir contextos, identificar culpados e desvendar causas e motivações. Entre teorias e desfechos, continua a haver espaço para reencontrar Pokémon de diferentes gerações e completar missões secundárias opcionais, ao som de uma agradável banda sonora.

Pistas e pegadas marcam o caminho que nos conduz por uma aventura de cerca de 15 horas, desde que pomos pé em Ryme City até ao momento em que vemos os créditos a subir no ecrã. Detective Pikachu Returns traz-nos uma série de capítulos que, apesar de bem definidos, acabam por se encaixar numa história interessante, mas apressada e com algumas pontas soltas.

Conversa, conversa, conversa

Comecei Detective Pikachu Returns com entusiasmo e curiosidade e terminei-o com mixed feelings. As primeiras cinco horas de jogo foram surpreendentemente aborrecidas, resumindo-se a ler diálogos extensos e a seguir pistas para deduções irrelevantes. Com alguma desilusão, fiz o esforço de prosseguir e, superada esta fase, vi a aventura ganhar algum ânimo. Apesar de as cutscenes darem ao jogo a substância de que ele precisa, a maioria dos diálogos é apresentada em texto corrido e de forma exaustiva.

Detective Pikachu Returns

Infelizmente, e ao contrário do que o género pede, não há muito para fazer ou para explorar em Detective Pikachu Returns. Para além do desenrolar da narrativa, não há progressão de qualquer outra natureza, nem sequer a nível de colecionáveis. Pontualmente, surgem missões secundárias, que se resumem a correr de um lado para o outro à procura de Pokémon que estão nas redondezas. Missões que, depois de concluídas, nos recompensam com um agradecimento e um carimbo no caderno… Obrigado!

Pontos para a história

Como um todo, Detective Pikachu Returns destaca-se pela história, podendo resultar bem numa adaptação para Televisão ou Cinema. Aliás, a própria equipa parece reconhecê-lo, visto incorporar um crescente número de animações com o avançar do enredo, tornando a experiência muito mais interessante. Apesar de uma execução minimalista e, em certos momentos, demasiado básica, é o próprio Pikachu, de personalidade afável e expressiva, que salva a situação. A história e os protagonistas são um “bolt of brilliance!”, mergulhados numa dinâmica que fica aquém dos restantes elementos.

Detective Pikachu Returns

Outro ponto a destacar é o facto de grande parte do conteúdo consistir em legendas e diálogos escritos, o que requer destreza na interpretação de textos em inglês, por exemplo. Não existindo combates ou exploração ativa, resta compreender profundamente o enredo. Nesse sentido, disponibilizar os textos em português era algo fundamental (que não aconteceu). Esta condicionante veda o acesso a jogadores mais novos ou a quem quer conhecer a história mas não consegue acompanhar os acontecimentos do jogo numa língua estrangeira.

Sem desafio ou dificuldade

Detective Pikachu Returns não apresenta complexidade, oferecendo mistérios que resolvemos em poucos passos, mas que temos de acompanhar forçosamente a um ritmo lento e redundante. Praticamente todas as ações estão condicionadas, as pistas são obrigatórias e os diálogos seguem uma ramificação padrão. Por outro lado, as missões secundárias são repetitivas, não combinando com a densidade da história que se pretende contar. Contradições entre a forma e o conteúdo, que resultam numa abordagem sinuosa.

Detective Pikachu Returns

No geral, descobrimos uma boa ideia que sofreu com uma “não tão boa” execução. Visualmente apelativo e sem grandes falhas técnicas, Detective Pikachu Returns brinda-nos com um ambiente acolhedor e com um toque nostálgico. Inevitavelmente, o divertido e inteligente Pikachu acaba por ser o volante e o motor de uma aventura que merecia mais movimento, ação e dinamismo.

Detective Pikachu Returns, da Creatures Inc., lançado a 6 de outubro, está disponível para Nintendo Switch.

Agradecemos à editora por nos ter cedido uma chave para análise.

CONCLUSÃO
O pequeno detetive merecia melhor...
6.5
detective-pikachu-returns-analiseUm conceito como o de Detective Pikachu pede mais conteúdo, mais exploração e um maior envolvimento por parte do jogador. A história proposta é bastante boa, mas a execução acabou aquém. Não havendo espaço para errar ou para evoluir e sem pistas para perder ou recompensas para receber, a experiência resume-se à história e às personagens principais, que acabam por carregar Detective Pikachu Returns às costas, impedindo que resultasse numa missão falhada.