O processo de animação não é pêra-doce, especialmente quando a Disney começou pela primeira vez… Vamos dar uma voltinha nostálgica?
O início da Disney
Nos anos 20, os recursos eram poucos e as animações ainda todas feitas à mão, o que demorava imenso tempo e tinha um custo elevado. Por isso, os animadores decidiram começar a reciclar muitas das cenas criadas e adaptá-las de filme para filme, modificando alguns elementos aqui e ali de forma a se encaixarem na narrativa e na estética do título. Muitos até as reciclavam dentro do mesmo filme.
Tudo começou com Branca de Neve e os Sete Anões. O filme foi feito, parcialmente, através de um método chamado rotoscopia (o qual podes observar em detalhe no vídeo abaixo), onde os animadores desenhavam por cima de fotografias de forma a obter animações mais realistas. Ao perceber o potencial desta técnica, a Disney começou a copiar as cenas dos seus filmes mais antigos e utilizá-las em novos títulos.
Reciclagem de cenas
Woolie Reitherman é o director artístico mais conhecido por fazer uso da técnica, pois era um processo mais seguro e que este sabia que iria funcionar. Reitherman foi um dos nove membros iniciais da empresa, e não só animou e produziu muitos dos seus filmes, como também realizou os títulos com mais material reciclado.
O objectivo era poupar tempo e dinheiro, mas a verdade é que todo o processo se tornava ainda mais penoso. Floyd Norman, animador lendário da Disney, explica que tinham de ir procurar cenas antigas específicas ao arquivo e fazê-las funcionar na nova história. Era também mais difícil e levava mais tempo desenhar por cima do que fazer tudo de raiz, para além de não ser tão divertido para os animadores.
I’m so confused right now. 😳😬🤯 pic.twitter.com/gnAExj9bin
— Fred Schultz (@fred035schultz) February 6, 2021
Necessidade de mudança
Títulos como Pinóquio, Bambi e Fantasia acabaram por ultrapassar os orçamentos e criaram mesmo perdas financeiras para a Disney. Foi apenas quando Dumbo saiu que a empresa voltou aos tempos de glória, e com o começo da Segunda Guerra Mundial, o uso de cenas recicladas voltou em força.
Esta prática continuou mesmo após a morte de Walt Disney, mas tornou-se arriscada quando as cassetes de vídeo foram inventadas. O público tinha acesso aos filmes a qualquer altura, e podia vê-los dúzias de vezes no conforto da própria casa, o que deu azo a que começassem a perceber o quão semelhantes eram certas cenas.
Exemplos bastante óbvios são Os Aristogatos e Os 101 Dálmatas, A Espada Era a Lei e O Livro da Selva, e Robin dos Bosques e O Livro da Selva. Ora espreita abaixo:
A animação hoje em dia
Hoje em dia, este tipo de problemas já não se põe – a tecnologia avançou significativamente, com computadores capazes de recriar os detalhes mais realistas, em meras horas. Aliás, empresas como a Pixar aperfeiçoaram a técnica ao ponto de imitar texturas, como cabelos, quase na perfeição, necessitando pouco ou nada de reciclagem de materiais. Existem agora equipas inteiras e departamentos especializados dedicados a uma infinidade de elementos dentro da animação, cuja ambição conjunta é trazer sempre algo de novo e mágico ao pequeno e grande ecrã.
Mas nem sempre foi assim, e era preciso improvisar para conseguir cumprir os prazos impostos – como foi o caso, por exemplo, d’A Bela e o Monstro na famosa cena da dança final, retirada d’A Bela Adormecida.
Não que a prática seja repreensível (eram outros tempos), mas a verdade é que o espectador do século XXI facilmente se aborrece com repetição e semelhança, pelo que é necessário inovar a todo o custo e evitar a monotonia. A Disney parece ter aprendido esta lição, pois os seus títulos mais recentes já não recorrem à técnica senão esporadicamente, e fazem-no mais como tributo do que outra coisa (exemplo: A Princesa e o Sapo, ilustrada nas últimas imagens).