Agora que as pessoas começaram a passar bastante mais tempo em casa devido à pandemia global, não é de estranhar o aumento da utilização de VR como instrumento não só de entretenimento, como também de socialização e de trabalho.
A realidade virtual é o meio de escapismo perfeito para aqueles que pretendem fazer uma pausa na sua rotina física e mental, proporcionando momentos de total imersão em videojogos e programas semelhantes, enquanto deixam as preocupações e dificuldades da vida real para trás.
Mas os cientistas já começaram a perguntar-se os efeitos que esta tecnologia terá nos seres humanos e no nosso futuro, particularmente na nossa saúde, especialmente quando utilizado de forma tão frequente como está a ser neste momento.
O Homem Que Foi Procurar Respostas
Há cerca de um ano atrás, o co-fundador da empresa Disrupt VR decidiu pôr à prova os efeitos de usar um VR headset durante uma semana inteira – cerca de 168h seguidas (não contando dormir, claro).
Neste período de tempo, o mesmo fez a sua rotina diária normal de uma forma um pouco diferente do habitual.
Jak Wilmot documentou a sua jornada no canal de YouTube da empresa e publicou os resultados num post no LinkedIn. O seu objectivo era desmistificar os perigos apontados ao uso de VR nos seres humanos, e provar que os mesmos são infundados. Mas será que conseguiu?
Resultados da Experiência
Aparentemente, Wilmot não sofreu quaisquer efeitos negativos físicos do uso do VR headset durante uma semana inteira.
Já em termos psicológicos, Wilmot sentiu sintomas de isolamento extremo apenas 24 horas após ter começado a experiência e só depois de entrar em contacto com outros utilizadores através de VR voltou ao normal.
Para além disso, alguma claustrofobia e discomforto ocular foram sentidos. No entanto, a maior alteração registada deu-se no ritmo circadiano: a sua noção de tempo ficou distorcida, levando-o a experienciar momentos frequentes de déjà-vu.
O seu cérebro deixou de ser capaz de perceber a diferença entre a realidade e realidade virtual, o que o levou a sonhar em VR – sonhos comuns mas com menus UI por cima.
Surpreendentemente, os seus níveis de stress baixaram, talvez por utilizar simulações relaxantes frequentemente.
Depois de retirar o headset no final das 168h, Wilmot registou algumas tonturas e desorientação. Depois de 24h sem o headset, não teve quaisquer dores de cabeça ou cansaço ocular mas os seus olhos demoraram algum tempo a reajustar-se à framerate da realidade, bastante mais alta que a de VR.
O Que Diz a Ciência
Existem ainda poucos estudos sobre os efeitos que VR tem no corpo humano. Dores de cabeça, cansaço ocular, tonturas e náuseas são sintomas frequentes experienciados por certos utilizadores, mas estes ainda não são considerados inerentemente prejuciais a longo prazo.
A Universidade da Califórnia testou o fenómeno em ratos, demonstrando que VR previne os cérebros dos roedores de criar mapas mentais do ambiente à sua volta. No entanto, e apesar de as células cerebrais humanas funcionarem de maneira semelhante, estes não se tratam de resultados conclusivos.
A Universidade de Leeds testou o efeito do uso de VR em crianças, concluindo que apenas 20 minutos de exposição afectava a capacidade de algumas delas de discernir a distância de objectos.
A Universidade do Estado de Oregon levou a cabo um estudo que demonstrou descomforto e tensão musculares nos participantes.
Existem muitos outros riscos associados a headsets de VR documentados em vários outros estudos, mas até ser possível organisar uma amostra maior e demonstrativa de indivíduos, estes mantém-se inconclusivos.
Em suma, os resultados obtidos por Wilmot não devem ser considerados como representativos, uma vez que se trata de apenas uma única pessoa.