O mês de Março tem sido repleto de várias estreias de géneros e gostos para toda a gente, com a fase da cerimónia dos Óscares 2023 também pelo meio, com resultados que têm sido variados entre si. Concluimos o final do mês com o lançamento de Dungeons & Dragons: Honra entre Ladrões que estreia esta semana nas salas de cinema portuguesas.

O novo filme da dupla de realizadores J. Goldstein e John F. Daley (Game Night, Vacation) é uma nova adaptação do famoso Role Playing Game de fantasia que desde décadas reúne grupos de amigos numa mesa para algumas sessões de jogo cooperativas. Nelas criamos a nossa própria personagem para embarcar numa campanha acompanhado por um DM (Dungeon Master) que actua como o júri e narrador da nossa aventura e das nossas ações.

De salientar que tanto a minha experiência com o filme e até mesmo nesta análise é mais de alguém de fora sendo que o meu conhecimento neste vasto mundo de Dungeons & Dragons é pouco. Nunca joguei uma campanha concreta ou me debrucei muito em role playing game de mesa, talvez o mais próximo de ter feito algo do género foi no tempo de confinamento em 2020 em que juntamente com mais alguns amigos pelo Discord jogámos uma ou outra campanha de gamebooks.

Ainda assim como amante do género de fantasia em outros meios como filmes,livros e videojogos estou sempre aberto a uma nova aventura de fantasia que possa ter os ingredientes.

Em Dungeons & Dragons: Honra entre Ladrões acompanhamos um grupo de aventureiros composto pelo bardo Edgin Darvis (Chris Pine), a bárbara Holga Kilgore (Michelle Rodriguez), o jovem feiticeiro Simon Aumar (Justice Smith), a druida Doric (Sophia Lillis) e o paladino Xenk Yendar (Regé-Jean Page) que embarcam na missão de recuperar uma reliquia perdida e ajudar também Edgin num outro objectivo mais pessoal.

O primeiro trailer tinha-me deixado meio de pé atrás dando uma sensação que vinha ai um filme cheio de galhofa e comédia do 8 ao 80 com uma escolha musical meio estranha para um filme de fantasia ao som de Led Zeppelin portanto as expectativas nesse aspecto eram mesmo baixas.

Caso para dizer que tanto o trailer que seleciona até os aspectos mais negativos e talvez o próprio marketing não correspondam ao produto final entregando um filme que sim, está longe de ser perfeito mas que é bastante compentente para aquilo que se proporciona não querendo ser mais do que é, uma celebração a este mundo e ao mesmo tempo fazer algumas homenagens a aspectos e regras que certamente os jogadores de D&D vão logo identificar.

O enredo do filme é tal e qual como uma campanha de D&D, temos um objectivo, um grupo de guerreiros com habilidades diferentes entre si e vários obstáculos que têm de superar em que é preciso traçar e seguir um plano A mas ter outras alternativas se a primeira não tiver sucesso. A duração do filme (cerca de 134 minutos) ajuda a contextualizar um pouco da história e de várias das criaturas e monstros que aparecem mas também deixar desenvolver um pouco os personagens e deixa-los fazerem a parte que lhes compete na demanda, apesar de uns sobressairem-se mais do que outros como é o caso de Justice Smith que tem uma evolução mais significativa (mesmo rendendo alguns momentos constragedores como já tenho tido essa má experiência com o ator) mas um Chris Pine que apesar de entregar-se no papel não tem tanto o que fazer se compararmos às habilidades da sua equipa no geral.

Algo que gostei em particular foi o uso de efeitos práticos em algumas das sequências do filme quando não é necessário tanto cgi deixando o filme ser mais terra a terra o que beneficiou nas caracterizações de criaturas e outros personagens como é o caso da cena em um cemitério onde o grupo de Edgin tem de acordar vários cadáveres para obter informações cruciais ou mesmo num julgamento no primeiro ato do filme. Torna as coisas mais reais e o primeiro exemplo invocou Hellboy de 2004 do Del Toro o tempo todo na minha cabeça no bom sentido.

As sequências de ação entretêm bastante principalmente uma numa arena de jogos e outra numa caverna com um dragão (que deu-me grandes vibes do primeiro Shrek) aproveitando o mecanismo de como Dungeons & Dragons funciona mesmo que o climax do filme e até mesmo uma das antagonistas sejam um tanto sem sal.

Mesmo que não seja a galhofa total que o trailer me dava a entender acabando por ter um tom que varia do mais leve e aventuresco para um mais sério ou dramático, as alturas em que o filme me perde um pouco é nas tentativas de piada a mais ou diálogos estranhos que se estendem para causar um riso aqui e acolá quando não era preciso (algumas até repetitivas). Muitissimo longe de um Thor Ragnarok nesse aspecto felizmente mas é a mania atual de Hollywood quase que obrigatória de abusar de comédia quando ela não é precisa em certos momentos.

Temos direito também a um dos cameos mais esquisitos que vi nos últimos tempos que enquadra-se bem no momento em si mas na execução beira mesmo o ridiculo reforçando o problema que mencionei atrás.

Em conclusão Dungeons & Dragons: Honra entre Ladrões é um filme ok de aventura e fantasia que cumpre a função do entretenimento e que faz o seu trabalho de casa (não é à toa que os próprios realizadores também são jogadores de D&D) por isso nesse aspecto a contextualização e maneira como o guião foi escrito remota muito às bases e peripécias da sua fonte original e isso pode ser mais interessante para quem está dentro do assunto e vai ter muito que apanhar de referências.

Se estão à espera de um épico de fantasia ao género de O Senhor dos Anéis ou Game of Thrones em termos de seriedade e escala talvez este filme não seja o mais indicado para vocês mas que em nenhum momento tenta esconder que não o é.

CONCLUSÃO
Deslizes aqui e ali na questão da comédia e no argumento que não favorecem mas cumpre a sua proposta básica.
6
Ricardo Salavisa Simões
Cinéfilo, gamer, cosplayer e ainda adorador de praia, piscina e tudo o que envolva água, e cenas aquáticas ao mesmo tempo que é um louco por Studios Ghibli desde gaiato. Pretende um dia voltar a pegar numa prancha de Bodyboard e recordar outros tempos de preferência sem tubarões do Spielberg pelo mar.
dungeons-dragons-honra-entre-ladroes-analiseDungeons & Dragons: Honra entre Ladrões foi melhor do que eu estava à espera mas concerteza vai ressoar de forma diferente para cada pessoa. Se o propósito for apenas a diversão em si talvez até recomendo ver a versão IMAX para aproveitar melhor no campo visual algumas das cenas do filme e até mesmo a experiência em sim como uma aventura de fantasia.