Após anos de consistência e ação desenfreada nos Musous, a Koei Tecmo começa uma nova era em Dynasty Warriors: Origins. Com mudanças que procuram trazer um novo público, e ao mesmo tempo manter a diversão, as lutas ganham peso e desenvolvimento emocional.

Origins traz-nos um misto de realismo histórico e mitologia chinesa, os acontecimentos decorrem durante a era dos Três Reinos, mais concretamente adaptados da famosa obra de Luo Guanzhong: “Romance of the Three Kingdoms”, onde acompanhamos a ascensão e queda dos reinos Shu, Wei e Wu.

Enquanto os títulos anteriores se focaram no panorama geral dos desenvolvimentos históricos, aqui, através de um hábil lutador com amnésia, somos novamente apresentados às personagens que marcam não só a História, como a saga Dynasty Warriors. Este “recomeço” permite, aos novos jogadores, conhecer figuras lendárias como Lu Bu ou Guan Yu. No entanto, esta agitação da fórmula não desvaloriza os veteranos da saga, pois enquanto os títulos anteriores saltavam entre as batalhas principais, ou de maior volume humano, Origins aprofunda e personaliza todas as batalhas, introduzindo-nos à Rebelião dos Turbantes Amarelos, e culminando na mítica Batalha de Chibi, apontando a lupa a inúmeros intervenientes, o que ajuda a tornar a viagem mais robusta.

Com o foco narrativo, percebe-se que todos os intervenientes devam ter destaque, no entanto, isto também se apresenta como um calcanhar de Aquiles, através do sobre uso de sequências cinematográficas, dando por nós a passar de cutscene para cutscene, ou pior, ver uma cutscene de quatro minutos, receber uma missão para falar com um general, andar dez metros, carregar no botão para falar e sermos presenteados com nova cutscene. Numa nota geral, o ritmo da narrativa apresenta-se entrópico e, principalmente numa história que requer tanta atenção ao pormenor, perde-se no equilíbrio da exposição cinematográfica vs. jogabilidade.

Este sentimento ecoa ainda mais quando a principal mecânica de exploração é um overworld ao estilo de Ni No Kuni, onde nós, num formato gigante, passeamos pelas terras chinesas e temos de nos deslocar para os objetivos, sem qualquer ação adicional a desempenhar nesse mundo.

Podemos claro, parar na nossa estalagem, para prepararmos os equipamentos antes das missões, mas lá está, temos de entrar na estalagem para isso acontecer, voltando à visão “tradicional” em terceira pessoa. À medida que vamos completando missões, desbloqueamos novas atividades no mundo, sejam novas lojas ou skirmishes, que são batalhas mais rápidas que as missões tradicionais, servindo mais como uma forma gratuita de melhorarmos a proficiência com a arma da nossa escolha, mas, ainda assim, cai vítima do mesmo desfecho que a estalagem. Num contexto geral, este mundo macro sente-se **vítima da era e do terreno, repetindo o mesmo tipo de estrutura geográfica, dando por nós a viajar com uma constante sensação de déjà vu.

Para salvar este sentimento temos os próprios níveis/batalhas, onde passamos maior parte do tempo e desenvolvemos capacidades, e aí sim, Origins brilha de forma incandescente.

Mantendo a dinâmica hack-and-slash, o combate chega mais personalizado do que nunca. O ciclo de matança persiste, no entanto, este decorre ao sabor dos jogadores. Com isto quero dizer que o lema de “eu contra o mundo” está bem presente nos milhares de inimigos que temos de chacinar em cada batalha, mas desta vez somos nós que escolhemos a arma com que chacinar. Focando os duelos na precisão, ao invés de carregarmos desenfreadamente no quadrado, passamos a poder dar parry aos ataques, e temos ainda a inclusão de habilidades específicas pertencentes a certas personagens, o que refresca o tempo passado em guerra. Após alguns eventos, passamos a comandar um batalhão que responde a várias táticas, o que acrescenta ainda outra camada de abordagem ao combate, significando que muito poucas batalhas serão idênticas, principalmente quando jogamos com intervenientes diferentes. Encontramos também variedade nos bosses, embora alguns se sintam como versões mais fortes dos inimigos padrão, tendo simplesmente mais vida ou alguns combos diferentes.

Infelizmente, mesmo durante o nível, a exploração é escassa, com Origins a recorrer aos tradicionais corredores para irmos de objetivo em objetivo, o que desvirtua a experiência personalizada e acaba por tornar a travessia monótona. Encontramos, muito raramente, alguns confrontos onde exploramos uma floresta e podemos escalar alguns postos de combate, mas não passa disto, e principalmente para destoar da fórmula original, este podia ter sido um trunfo.

Visualmente, Dynasty Warriors: Origins traz consigo um sumo semelhante ao do combate, onde brilha na minúcia, mas quando olhamos para o quadro geral, sentimos repetição. Com personagens altamente detalhadas e animações que nos colam ao ecrã, focamo-nos nos duelos e sentimos que estamos no último arc de um anime, apenas para matarmos o inimigo, a câmara afastar-se, e regressarmos ao panorama tradicional de um Musou. Isto claro, não é algo negativo, pois os Musous não são jogos considerados feios, mas Origins cria uma impressão incrível quando iniciamos algumas batalhas, tendo sequências dignas de renome, mas à medida que progredimos, as sequências e o fundo repetem-se, perdendo assim a incrível mística criada.

O áudio, à semelhança de outras vertentes, tropeça na mesma armadilha da repetição. Peças compostas que até adicionei a uma lista para estudar, mas ouvidas ad nauseum durante as missões, removendo qualquer sensação épica que causaram inicialmente. Admito até, que vivo bem com a repetição da banda sonora, mas o que me deixou mais chocada foi protagonizar várias batalhas chinesas e só poder ouvir a minha personagem falar inglês ou japonês. Ainda para mais quando o mercado chinês se encontra em ascensão, a Koei Tecmo perdeu aqui uma oportunidade para conquistar uma possível nova comunidade.

Deixo também uma nota bastante positiva no que toca ao desempenho, pois foram muitos raros os momentos em que senti o jogo abaixo dos 60fps, tendo uma experiência consistente e sem bugs, tanto visuais como mecânicos.

Agradecemos à Editora a cedência de uma cópia para análise na PlayStation 5.

CONCLUSÃO
Recomeço
8
Sara Kohl
Na internet, ninguém sabe que és uma batata.
dynasty-warriors-origins-analiseNo geral, Dynasty Warriors: Origins esforça-se para trazer inovação à saga, e à fórmula Musou, no entanto, acaba por tropeçar no conforto que ajudou a conquistar a comunidade. Não considero estes tropeções como algo negativo, pois começa-se sempre por algum lado, e Origins traz bastantes recomeços positivos.