Ano após ano, a Electronic Arts mantém-se na luta contra a 2K e a Activision para ver quem consegue lançar o produto menos atualizado face ao anterior. Claro que neste termo de comparação, a Activision, tendo três estúdios a trabalhar em Call of Duty ganha, mas ainda assim sucumbe à pressão de expelir o mesmo esqueleto com tecido muscular diferente. A maior mudança para este ano no entanto, cabe à Electronic Arts. Tendo cessado o contrato com a FIFA para os direitos de naming, esperava-se (talvez era só eu) uma mudança na direção do vento, apenas para descobrir que ele não se quer mexer.
Chegamos ao menu e deparamo-nos logo com uma mudança na estética, estando agora os modos dispostos em formato de lista. Agradeci aos céus pois acredito que a navegação nos FIFA anteriores causava ataques de ansiedade a várias pessoas. Esta simplificação, embora insonsa, é mais que bem-vinda, no entanto, dei por mim a navegar por menus e sub-menus, quase perdendo-me na maré de texto que me era atirada.
A navegação está simplificada mas a sobre-exposição de texto e a presença de sub-menus carrega demasiado uma experiência que devia ser simplista na sua base. Principalmente para quem joga FIFA ano após ano, já conhece os modos de jogo (que raramente mudam) de trás para a frente, logo, o mínimo seria uma caixa de diálogo a perguntar se queremos um tutorial dos vários modos, o que não acontece, logo, todos os modos vêm carregados de texto, e por um lado ainda bem paa os novatos, mas por outro, amassa o entusiasmo.
Bem, assim que “cheguei” fui jogar uma partida normal, sendo que até a encontrar ainda tive de passar por dois menus e uma boa quantidade de texto mas cheguei são e salvo à escolha de equipas. Os menus de formações estão iguais, tanto na configuração das posições como nas vertentes tácticas em que abordamos os jogos.
É algo de que gosto e ao mesmo tempo desgosto, a sensação de voltar ao mesmo jogo que joguei em 2010/2012/2015 e por aí fora. Cria simultaneamente uma sensação de conforto por não termos de estar a perder tempo a aprendermos mecânica novas e outra de desconforto, por não vermos evolução num produto que tanto cobra por uma mera atualização estética.
Partimos então para a jogabilidade. Graças a uma versão melhorada da Hypermotion V, encontramos um maior foco no ímpeto, concentrando-se maioritariamente no que o corpo de um jogador faz sem bola. Para obter este resultado, a Electronic Arts utilizou câmaras à volta do relvado dos jogos da Liga dos Campeões para conseguir criar um espaço virtual e obter animações ao capturar o comportamento dos jogadores.
Ainda notório é o distanciamento entre jogadores com estatuto “estrela” e os jogadores meramente bons, notando-se principalmente em momentos de desmarcação em que por muito mais rápido que o nosso central seja, não apanha um jogador que ainda lento, tem o poder das estrelas em si para escapar sempre. Os desarmes estão bastante mais tácticos, não bastando carregar quadrado/X para ganhar, o que motiva a treinarmos para sermos melhor a defender, algo que faz bastante diferença no relvado.
Encontramos ainda os Playstyles. Para além do estatuto vedeta que referi, vários jogadores possuem agora algo a que podemos chamar “superpoderes” que se focam nas capacidades que demonstraram na realidade para dar mais personalidade aos jogadores. Isto significa que, mesmo que dois jogadores tenham as mesmas estatísticas, se um tiver um Playstyle, esse terá vantagem nos duelos.
A fluidez está muito bem conseguida, como é tradição. Tirando as óbvias quezílias com modos predatórios como Ultimate Team, a série sempre se prezou pela facilidade e elasticidade na forma de jogar, sendo possível agradar a qualquer tipo de jogador e táctica. Serve sempre como bom serão de festa entre malta e arranca sempre umas gargalhadas pela eventual “tareia” que um sofra, ou pelo “insider” que ao invés de escolher um colosso, vai com um Real Sociedad ou Sassuolo.
Falando em modos predatórios, não consigo lidar com o Ultimate Team atual. Tendo já gasto centenas de horas no modo de jogo em entradas anteriores, pensei em criar a minha equipa humilde, focando-me em ligas menos “fortes” como a portuguesa ou a francesa, e lancei-me à criação de uma equipa nas suas médias de 80, só para fazer umas partidas. Eis que descubro que o rating já não interessa, o que significa que no meu primeiro jogo, eu com a minha equipa de bronze e prata, e alguns gatos pingados de ouro sem qualquer química, apanhei uma equipa com Martial, Ake, Matheus Nunes e afins.
Para além de o modo se encontrar afogado em menus e sub-menus, criando ali entropia e confusão sem necessidade, cria adicionalmente uma sensação de sufoco, tanto em termos de quantidade de tarefas, como no FOMO (Fear of Missing Out), com inúmeros desafios que trazem recompensas temporárias.
Claro que ao referir o Ultimate Team tenho de referir adicionalmente o esquema monetário que traz à Electronic Arts, com o lançamento de uma loot box de 29,99€ que traz 45 jogadores de ouro que não podemos negociar no mercado. Isto claro, vem recheado com jogadores em formato de empréstimo (logo, não definitivos) e até duplicados que já possamos ter na equipa, com bastantes streamers a partilhar as experiências completamente anti-climáticas. Claro que a voz da internet nem sempre se traduz na realidade, o que significa que muito provavelmente este pack será vendido que nem pão quente, prolongando o ciclo.
Para afogar mágoas do Ultimate Team, temos vários modos que podemos escolher. Entre o Volta Football e as suas habilidades, uma carreira como treinador, ou até o nosso “rumo ao estrelato”, não faltam opções para diversificarmos as nossas capacidades no mundo do futebol, aproveitando aqui para louvar a Electronic Arts pela vasta oferta de modos.
Apesar de ter perdido a licença, a Electronic Arts restabelece-se como padrão na componente audiovisual de jogos de futebol. Claro que já lá vão os tempos do mítico Ribéry no Pro Evolution Soccer 06, mas a EA parece empenhada em melhorar esta componente ano após ano, seja nas expressões faciais ou no movimento dos jogadores. A banda sonora não se apresenta como surpresa, trazendo sempre novas canções para as listas do Spotify, valendo-se até como uma simples playlist para deixar a tocar de fundo enquanto jogamos outro jogo fora da consola.
EA Sports FC 24 é o primeiro jogo da saga sem a licença FIFA, mas pouco muda face à sua versão licenciada.
Agradecemos à editora pelo envio de uma chave para análise.