Desde que saltei do Game Boy para a Playstation 2 que vi enormes e esbeltos mundos florescerem graças à minha incidência para jogar maioritariamente JRPG’s. Este “hábito” de me deslumbrar com enormes planícies repletas de monstros, ou aldeias misturadas com cidades futuristas nunca deixou de me surpreender e entreter, e aposto que o mesmo aconteceu com a Midgar Studios, pois o destaque de hoje traz tudo o que estas sagas popularizaram. Vamos então falar de Edge of Eternity.
Começou como um kickstarter humilde feito por uma equipa de 10 pessoas, tendo estes pedido cerca de 44 mil dólares, e recebido 161 mil das almas caridosas que tanto queriam ver os jogos das suas infâncias renascerem num só. Desde então a equipa foi ajustando os objetivos do jogo ao orçamento angariado, alcançando ainda o sonho de recrutarem o lendário Yasunori Mitsuda para compor a banda sonora, juntamente com o compositor francês Cédric Menendez.
Edge of Eternity entrou em Early Access na Steam, permitindo uma constante calibração do jogo com o acrescento de outra camada de comunicação com quem realmente apoiava o jogo. Acabou por correr tudo dentro do previsto e o jogo foi lançado oficialmente em junho de 2021, tendo à data análises “Praticamente positivas”.
A história decorre em Heryon, um planeta que é invadido pelos Archelites, um povo extra-terrestre, quebrando assim a paz que existia. De seguida passamos para Daryon, o protagonista da nossa história. Daryon é um soldado, que nos é apresentado em treino, reunindo-se posteriormente com o seu esquadrão para o tutorial do jogo.
À medida que os acontecimentos se desenrolam, Daryon descobre que a sua mãe tem Corrosion, uma doença terminal. Isto leva a que o nosso jovem soldado regresse à terra natal para confirmar o estado da mãe, convencendo-se de que irá encontrar uma cura, sendo posteriormente acompanhado pela sua irmã Selene.
A história de Edge of Eternity é no fundo uma história competente, mas acaba por ramificar tanto que perdemos a noção do que realmente importa, acumulando alguns plot holes. Isto é redobrado pela maneira como Daryon se desinteressa dos acontecimentos que o afectam, incluindo a morte de personagens, seja em missões primárias ou secundárias, acabando por nem ser relevante para o desenvolvimento do protagonista.
À medida que vamos deambulando pela história, conhecemos os recantos de Heryon, e aqui sim, a Midgar Studios brilha de maneira ofuscante. Este é sem dúvidas um mundo merecedor de exploração, diverso e repleto de vida, incluindo um número incrível de personagens com falas, sejam elas humanas ou plantas.
Enquanto o mundo é belíssimo, a travessia pode tornar-se chata. Embora tenhamos Nekaroos para andarmos mais rápido, objetos como vedações barram-nos a passagem, quer tenham 10 ou 100cm de altura. Isto obriga-nos a dar uma volta surreal, algo que podia ser resolvido facilmente. Felizmente dão-nos a oportunidade de interagir com o mundo enquanto estamos montados no Nekaroo, o que poupa bastante tempo, portanto a balança neste caso até fica meio equilibrada.
A travessia como já referi, é rápida, mas e saber para onde temos de ir? Essa é que é essa… O mapa geral parece saído de um jogo do Game Boy, com pouquíssima informação e uma péssima navegação, mais vale recorrermos à bússola e o mini-mapa.
As missões primárias podiam ser missões secundárias e vice-versa que eu nem me apercebia de tal coisa. Há pouca variedade nos afazeres, o que de certa forma desilude tendo em conta o mundo e as possibilidades, certamente serão coisas corrigidas no próximo jogo desta equipa promissora, mas neste torna o propósito da progressão meio irrelevante.
Por falar em progressão, temos combate por turnos, e como o combate por turnos já (não) é rápido, incluíram também um padrão de movimento hexagonal (meu rico Wild Arms) para retardar o tempo das lutas. Não vos consigo descrever a quantidade absurda de tempo que passava nas lutas, e nem era pela estratégia, era mesmo porque a partir de certa altura, os inimigos movem-se bastante, então passamos os turnos a andar atrás deles.
Estas perdas de tempo prejudicam a experiência de jogo, mesmo na dificuldade mais baixa. É pena porque o combate acaba por ser bastante desafiante no que toca às possibilidades e dinâmicas entre a nossa party. Incluíram até pequenos desafios para concluirmos durante os duelos, o que ajuda a dinamizar as lutas mas a movimentação mata o ritmo impiedosamente.
Este sistema hexagonal serve no entanto para nos guiar através de puzzles bastante interessantes com recompensas à medida! Ainda existem alguns puzzles à medida que progredimos, pelo que podem ir refrescando a mente com uns quebra-cabeças engraçados.
Sendo um JRPG por turnos, tem de existir o maior respeito por uma interface simples e atraente, e é isso mesmo que a Midgar alcança. Seja no inventário, equipamento ou nas habilidades, a informação é densa mas ao mesmo tempo é acompanhada por uma UI belíssima e bem estruturada. Mantém-se o clássico de termos a armadura equipada apenas para estatística e os fatos que vemos serem utilizados.
Existe ainda um sistema de crafting, que acaba por ser completamente irrelevante para o jogo. Aliás, só lá fui para completar missões, porque de resto podia passar ao lado que nem sentia necessidade de lhes tocar. Isto serve como ponto positivo e negativo, ou seja, o sistema de crafting torna-se irrelevante porque o jogo é bastante recompensador para quem completa missões secundárias e desenvolve o combate activamente, sendo muito pouco necessário recorrer a grinds para estar ao nível dos inimigos.
Para quem jogar nas consolas da nova geração, terão direito a loadings praticamente imediatos e a opção de dois modos: Performance e Quality, estando estes limitados a 1080p/60fps e 4K(?)/30fps.
Edge of Eternity utiliza o famoso Unreal Engine 4 para trazer Heryon à vida, e como já referi, consegue-o de forma bastante bela, mas claro, tudo tem um custo. Tanto no modo Performance como no Quality temos ghosting à volta das personagens sempre que ajustamos a câmara. Para além disto, as animações entre cutscenes volta e meia assustam-nos com a mudança de qualidade, mas dá sempre para olharmos pelo lado positivo e rirmos um bocadinho.
Raramente jogo JRPG’s com vozes em inglês, mas o lipsync aqui não perdoa e fez-me abandonar as VO japonesas. Não foi tão mau quanto esperava, os actores de voz ingleses são bastante competentes e trazem vida ao jogo. A banda sonora é sem dúvida o ponto forte, com um efeito nostálgico incrível que deixará todos os fãs de JRPG’s saciados de mestria musical.
Edge of Eternity encontra-se agora disponível para as Playstation 4/5, Xbox Series (Gamepass) e Steam.