Penso que o jogo que trago hoje não requer muita introdução, sendo um dos jogos mais antecipados nos últimos anos, feito por uma equipa com uma popularidade enorme.
Estou obviamente a falar de Elden Ring, a mais recente criação da From Software, com o grande Hidetaka Miyazaki novamente no cargo de direção, com a colaboração do famoso George R. R. Martin.
Ascende, Tarnished
Elden Ring passa-se no mundo de Lands Between, algures após a destruição do Elden Ring, espalhando-o em pedaços, chamados de Great Runes. Tu irás controlar um Tarnished, um exilado que foi revivido, com o objetivo de recuperar as Great Runes e de te tornares num Elden Lord.
Para quem já experienciou outros jogos da equipa, temos aqui novamente uma história com uma lore muito desenvolvida, mas em que apenas uma pequena parte é verdadeiramente explorada no jogo, sendo que, se o jogador quiser saber um pouco mais, terá de procurar a informação nas descrições dos vários itens que irá encontrar durante a aventura.
Felizmente, não é algo tão críptico como o Dark Souls, havendo até bastante história a ser apresentada mais diretamente ao jogador no que toca a algumas quests relacionadas com os vários NPCs que irás encontrar.
Tenho a acrescentar que temos aqui possivelmente das melhores personagens que a equipa criou, havendo um padrão de qualidade muito mais equilibrado entre os vários NPCs, e, na minha opinião, até tendo o melhor NPC e a melhor quest que a equipa já fez ao longo dos Soulsborne.

Um mundo belo e amplo, mas com um toque familiar
Algo que penso já estarmos habituados, é o fato da From Software ser uma equipa com mais talento em arte do que propriamente em gráficos. Aqui mantém-se uma qualidade gráfica não muito impressionante, mas funcional.
O que verdadeiramente impressiona são os cenários e o design de praticamente tudo o que irás encontrar durante a tua aventura, desde as vastas planícies, florestas, lagos, enfim. Há uma atenção ao detalhe impressionante, especialmente considerando que esta é a estreia da equipa com um jogo num mundo aberto.
Acrescentando ao mundo, temos inimigos e bosses bastante grotescos e interessantes, apenas sofrendo com um problema de “reciclagem”, sendo que vão perdendo o fator “wow” devido às inúmeras aparências.

Tenho a dar aqui uma pequena crítica, que apesar de não contar para a pontuação, penso que vale a pena mencionar. Mesmo numa PS5, o jogo não mantém os 60 fps no modo de desempenho, chegando até aos 40s nos casos mais caóticos. Felizmente não me afetou muito a experiência, mas penso que não se desculpa esta otimização, especialmente considerando o que outras equipas já conseguiram alcançar com o sistema.
Um novo standard em exploração num mundo aberto
Penso que o aspeto mais impressionante no jogo é o seu mundo aberto. Mesmo sendo a estreia da equipa, penso que o que foi conseguido aqui deveria ser considerado um exemplo para futuros jogos do género. Não temos aqui nenhuma presença de inúmeros ícones no ecrã dizendo onde estão todos os pontos de interesse e onde terás de ir para proceder com a tua aventura. Se quiseres descobrir algum dos vários pontos de interesse no mundo, terás de explorar e observar.

Se quiseres encontrar o caminho para continuar a história, terás de encontrar uma site of grace, um checkpoint que funciona exatamente como uma bonfire, mas esta deixa um guia representado por uma espécie de rasto amarelo que aponta em direção à localização da história.
No mundo, poderás encontrar várias dungeons, geralmente sendo masmorras e grutas, onde tens sempre um boss no final. Juntamente, tens também alguns edifícios como igrejas e ruínas que te dão mais coisas interessantes, como materiais para fazer upgrade às tuas poções, equipamento e até itens específicos. A exploração é bastante natural e fácil, podendo até fazer fast travel para qualquer site of grace que tenhas desbloqueado.
Para facilitar o movimento, irás ter acesso ao Torrent, um cavalo que consegue dar um duplo salto e tem uma velocidade bastante boa. Surpreendentemente, controlar o Torrent é simples e efetivo, tendo bastante uso para platforming.

O que mais me impressiona neste mundo aberto é o facto de ser tão livre. O jogo simplesmente não quer forçar nada, confiando no mesmo para encontrar os vários pontos de interesse, e também confiando na qualidade do design que a equipa desenvolveu para tornar essa exploração livre de frustração. O mundo tem um design praticamente perfeito, nunca senti a necessidade de ir ver um guia ou procurar na internet por qualquer coisa, pois sempre consegui encontrar tudo facilmente e de forma natural. Este tipo de design contraria bastante a moda de hoje em dia, tirando até um pouco de inspiração ao Legend of Zelda: Breath of the Wild.
Voltando ao título um bocado acima, Elden Ring é um novo standard no que toca a mundos abertos devido ao facto de ser um jogo que leva o conceito a um extremo literal. É um jogo que te coloca verdadeiramente num mundo aberto, confiando nas tuas capacidades de te orientares e avançares no que é verdadeiramente um mundo aberto.
Um ambiente familiar
Obviamente que o mundo aberto não é o único fator que define Elden Ring. Temos aqui uma jogabilidade bastante familiar, sendo que o combate é praticamente igual aos souls, com a típica base de atacar, desviar e bloquear.
Temos aqui uma seleção de várias armas, como espadas, greatswords, machados, martelos, arcos. Juntamente, tens também bastões para fazer magia e talismãs para incantations.

O combate é bastante simples: podes atacar com um light attack e um heavy attack, sendo que o heavy pode ser carregado para mais dano, também podes bloquear com a arma ou um escudo, reduzindo ou eliminando completamente o dano que poderias receber, e finalmente, podes fazer um dodge, que, se for bem sucedido, evita qualquer dano de um ataque. As armas têm também a capacidade de fazer uma arte, que pode ir de algo simples como um dual slash bastante estiloso, para algo mais complexo como mandar uma onda de fogo ao atacares o chão.
Também temos de volta as magias, sendo a melhor iteração das mesmas, com uma seleção incrível e com animações espetaculares, não querendo dar muitos spoilers, tens algo como por exemplo um kamehameha gigante, ou até transformares a tua cabeça numa cabeça de dragão e cuspir fogo nos teus inimigos.
Se sentires que precisas de ajuda, tens agora um sistema onde podes invocar um NPC ou inimigo que tenhas colecionado ao explorar o mundo, podendo facilitar um pouco, especialmente em alguns dos bosses mais difíceis.

Uma adição nova que gostei bastante são as Ashes of War. Estas possibilitam a troca de tipo de dano que a arma faz, como por exemplo lightning ou fire. Também podes trocar a arte para outra qualquer que tenhas desbloqueado, podendo personalizar bastante a tua build.
E falando de builds, mantém-se a mesma interface dos souls, com stats como vigor, que aumenta a tua vida, mind, que aumenta o teu FP para usar magia, endurance, que aumenta a stamina, strenght e dexterity, que aumentam e te deixam usar armas, e finalmente, intelligence, faith e arcane, que afetam magias e efeitos como bleed e frost.
Para evoluíres, terás de usar Runes, que, tal como nos souls, servem como um recurso geral, sendo usado para evoluir, comprar armas e itens, fazer upgrades, entre outros. Ganhar Runes é bastante simples, sendo apenas preciso matar inimigos e bosses.

Uma adição interessante no jogo consiste num sistema de crafting simples, onde colecionas vários livros que desbloqueiam receitas, como setas, bombas e antídotos. Este sistema é bastante opcional, sendo mais dependente da build que estarás a usar. Os materiais também são bastante simples de apanhar, estando espalhados com bastante frequência no mundo.
E agora, falando num dos aspetos mais impressionantes do jogo, temos o level design, especificamente no que toca a algo que o jogo chama de legacy dungeons. Aqui temos zonas que são mais lineares e tradicionais aos souls, com uma dungeon grande, cheia de caminhos e um design labiríntico que vai ser bastante natural para quem já jogou os mais recentes jogos da equipa. Estas dungeons têm do melhor level design que a equipa já fez, sendo enormes e complexas, deixando-te muitas vezes com aquela sensação de “afinal aquele sítio onde não dava para ir está aqui”. São níveis cheios de ligações, atalhos e uma atenção cirúrgica a cada milímetro. Considerando a natureza aberta do jogo, a presença de zonas deste estilo, com uma escala comparável aos jogos anteriores, é verdadeiramente impressionante.
No que toca aos bosses, temos também bastante qualidade, e uma subida enorme de quantidade, se bem que sofre um pouco por isso. No que toca a bosses principais ou únicos, temos geralmente designs interessantes e mecânicas intensas que vão requerer aprendizagem. Sendo geralmente bastante acessíveis no que toca à sua dificuldade, com uma exceção nas últimas zonas do jogo, penso que se tornaram um bocado mais injustos, com barras de vida enormes e ataques que te matam instantaneamente, e também com muitas poucas aberturas para poderes atacar.

Também há o problema da reciclagem de bosses, sendo que alguns deles eu penso ter lutado dezenas de vezes. Eu não tenho problema contra a reciclagem em si, mas penso que abusaram um bocado, tornando alguns bosses simplesmente cansativos devido ao fato de aparecerem demasiadas vezes durante o jogo.
No que toca também a bosses com um tamanho maior, temos a câmara que não ajuda em nada, fazendo com que seja quase impossível de ver os ataques dos inimigos devido a apenas conseguirmos ver as pernas ou os pés dos mesmos.
Estes problemas são mais comuns nas últimas horas de jogo, sendo que foram as horas onde achei que o jogo sofreu mais, descendo bastante de qualidade. Felizmente, apenas se trata de uma pequena fatia do colosso gigante de conteúdo que é o Elden Ring, e felizmente recupera um pouco mais perto do final.

Se quiseres jogar com amigos, podes chamar um pequeno grupo ou então ofereceres-te para ajudar outro jogador. Para chamares alguém para o teu mundo, terás de usar um item, que revela os summon signs dos outros jogadores, onde poderás interagir para chamá-los para o teu mundo. Podes chamar e ser chamado tanto no mundo aberto como nas dungeons, sendo possível passar o jogo todo com amigos. Nas dungeons, para poderes chamar alguém, precisas de ativar uma summoning statue, que geralmente se encontram às entradas das mesmas.
Ao abrires o teu jogo para cooperação, também abres para seres invadido, e aqui temos o simples PvP já comum nos jogos da equipa, sem muitas mudanças, com um netcode que muitas vezes não é muito preciso a registar os ataques.
Uma banda sonora típica, mas com menos impacto
Todos sabemos que a From Software tem um historial de acertar sempre em cheio com as suas bandas sonoras, e Elden Ring acerta, mas penso que apenas algumas vezes. A qualidade das músicas em si não é má, é bastante comparável com a série dos Souls, mas penso que, devido à quantidade enorme de bosses únicos e a adição de música ambiental enquanto exploras, simplesmente não houve a mesma atenção ao detalhe dos jogos anteriores.
Ao todo, consigo contar com as mãos os temas que ficaram comigo durante a minha aventura, que é algo que me desilude um bocado, mas que respeito e entendo, pois o trabalho que iria ser necessário para dar a mesma atenção e detalhe seria astronómico, sendo preciso um super-humano para conseguir manter a qualidade num jogo que é colossalmente maior que os anteriores.

Felizmente, o tema principal do jogo, que se apresenta logo no menu principal, é excelente, sendo um dos melhores da equipa, penso que destaca a grandeza e o quase infinito que esta nova aventura nos traz.
A tua aventura nas Lands Between já se encontra disponível para a Playstation 4, Playstation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e para PC na Steam.