Enshrouded surge-nos no imenso mar de videojogos baseados em sobrevivência. Acompanhado de um mundo repleto de mistérios e materiais de construção, encontra-se atualmente em Early Access, e está a ser desenvolvido pela Keen Games, uma equipa que se preza pela excelente comunicação com a comunidade. Confesso que depois de imensas horas gastas em Minecraft e Valheim, tive de fazer uma pausa pois é um género que, por muito que inove, recorre bastante à repetição para chegarmos aos objetivos, o que acaba por ser mais cansativo. Não obstante, cá estou, para falar deste belo título.
Encontramo-nos no mundo medieval pós-apocalítico (não percebo bem esta insistência) de Embervale, onde somos encarregues de recuperar um planeta destruído pela ganância de poder mágico.
Nascidos como Flameborn, somos a última esperança contra o Shroud, um nevoeiro místico que consome tudo por onde se espalha. A narrativa, embora recaia na simplicidade para dar caminho às mecânicas de sobrevivência, traz-nos uma premissa atraente para incentivar a exploração as mecânicas de construção, incitando à curiosidade do jogador pelos inúmeros segredos de Embervale.
Jogabilidade
Enshrouded segue a tradicional fórmula dos congéneres: reunimos recursos, criamos ferramentas e construímos o que bem nos apetecer. Fiquei bastante surpreendido com a facilidade com que conseguimos angariar recursos. Lembro-me de, em jogos como Ark: Survival Evolved ou Conan Exiles, demorarmos não só a perceber onde encontrar, como com o que é que podemos extrair recursos, e nisso, Enshrouded rema contra a maré e apresenta-nos numa bandeja.
O equilíbrio entre o desenvolvimento da narrativa também encaixa bastante bem com a necessidade de construção, visto que podemos definir casas como checkpoints ou pontos de viagem rápidos desde bastante cedo, o que nos leva a querer deixar um ponto de recomeço perto das missões pois as tareias que por vezes levamos não são bonitas.
O combate é bastante simples, mas como é relativamente curto (desde que mantenham um equilíbrio entre o vosso nível e o dos vossos inimigos), acaba por não exaustar.
O principal problema que tanto eu como o colega Diogo Lopes encontrámos foi a quantidade ridícula de inimigos que se encontram em áreas pequenas. Sem exagero, há grutas em que vão estar rodeados de mais de vinte insectos que já por si são difíceis de acertar, e que conseguem todos atacar ao mesmo tempo. Acho que nem em Helldivers me senti tão claustrofóbico. Claro que percebemos que a balança do risco/recompensa tem de ser equilibrada, portanto estávamos à espera de alguns desafios, a questão é a desproporcionalidade de algumas grutas face a outras, estando muitas vezes praticamente lado a lado.
À medida que vamos conquistando fortes e torres vamos ganhando habilidades. Estas habilidades podem ser gastas numa árvore digna do nome Yggdrasil porque acreditem, a árvore é grande que farta. Temos os vários caminhos relativos às classes, mas o desenvolvimento de um caminho não tranca os outros, e para além disto, conseguimos fazer respec em qualquer Chama, portanto estejam à vontade para experimentar.
Embora cada ramo seja relativo a uma classe, encontramos habilidades que são transversais a todas, como o facto de podermos saltar duas vezes a meio da classe que aumenta a nossa stamina. Isto acaba por incentivar o jogador a explorar várias classes e a ser mais estratégico no gasto das habilidades, cujo recebimento não é assim tão frequente.
Temos acesso a vários equipamentos que facilitam a movimentação, mas estes são maioritariamente aéreos, e estão limitados pela nossa stamina, o que significa que só podemos pairar por certo tempo.
Sente-se bastante a falta de mounts para suavizar a exploração, até porque o mapa é enorme e por vezes pode-se tornar maçudo ter de nos aventurar por territórios desconhecidos durante tanto tempo. Existem torres com pontos de viagem rápida mas não são muitos, o que significa que o que acaba por acontecer é viajarmos para lá, atiramo-nos de glider até ao ponto mais próximo e fazemos o resto do caminho a pé. Não quebra a vontade de jogar, mas seria uma melhoria mais ao nível da qualidade de vida.
O Shroud traz outra camada à exploração e recolha de recursos. Não só temos um tempo limite (que pode ser melhorado) para navegarmos lá dentro, existem recursos que só os iremos encontrar ali. Isto significa que ao enveredarmos pela exploração deste nevoeiro, corremos o risco de morrer e tornar a coleta dos itens que possuíamos complicada devido aos vários inimigos que encontramos estarem a rodear os pertences, acumulando com não podermos deixar que o tempo chegue ao limite, caso contrário, caímos onde estivermos.
A construção assenta que nem uma luva nos visuais voxel. Tudo o que construímos acaba por ter um aspeto meio refinado, o que nos incentiva a puxar pela imaginação e criar casas ou esconderijos para lá do que seria “realista”. Temos à disposição imensos materiais e objetos diferentes, oferecendo um vasto leque para nos dedicarmos à bricolage.
O combate traz diversidade nas abordagens, oferecendo a possibilidade de combatermos em curta ou longa distância.
Para os que gostam de proximidade, existem imensas armas como machados, martelos, foices ou a tradicional espada (entre bastantes outros). Se forem como eu, e gostam de manter a distância, podem usar arco e flecha (que também pode servir como arma secundária às armas que já referi), e varinhas e bastões mágicos. Enquanto as varinhas são de uso ilimitado pois cada uma tem um dano ambiental próprio, os bastões requerem que tenhamos feitiços no inventário, o que acaba por limitar quem quiser encarnar Gandalf.
Mesmo com alguns dos contras que referi, o passeio e combate em Enshrouded acaba sempre por ser gratificante pois o loot encontra-se bem distribuído, e não faltam recompensas ao limpar fortes ou torres para nos manter a par dos novos inimigos.
Audiovisual
Como já referi, encontramos um estilo artístico baseado em voxel, que sem dúvida dá vida a Embervale e o ajuda a distinguir-se dos congéneres. Desde enormes montanhas com vários biomas a vales verdejantes, todos repletos de segredos subterrâneos ou aéres, não faltam áreas misteriosas para explorarmos a solo ou com amigos.
Seguindo o passo assente por Minecraft, à medida que exploramos encontramos acordes sublimes de violino, sendo que ao encontrarmos inimigos o passo acelera e damos por nós a duelar ao som de violoncelo, que embora apresente tons mais graves, mantém a mesma sublimidade.
Breviário
Enshrouded parecia ser apenas mais um jogo de sobrevivência, e num conceito macro é. Mas para quem gosta do género, sabe bem identificar os pontos fortes, e neste momento, e ainda em Early Access, Enshrouded tem muito mais a seu favor do que os congéneres, embora com algumas arestas a limar.
Cá aguardamos pela versão final desde título prometedor em Early Access.