Após 5 longos anos, com uma pandemia e tudo pelo meio, disputas e separações da Raw Fury, eis que surge das sombras uma carta de amor que promete cunhar o gênero de stealth platformers. Numa estreia inédita da Baby Robot Games, veteranos e novatos trabalharam neste sonho por largos anos que acaba de chegar à Steam (PC) e se prepara para assaltar as consolas. Vamos atestar o resultado final?

Aproveita e atesta tu também, uma nova formula de análise, que temos estado a cozinhar! A tua opinião é super importante para continuarmos a traçar o rumo do desenvolvimento do nosso conteúdo, por isso queremos ouvir-te (nem que seja por anonimato!). Contamos com a tua voz?

Enredo
Um personagem com um traje futurista de Ereban está em um ambiente desértico com formações de terra incomuns e um grande moinho de vento ao fundo.

Numa galáxia não muito distante da nossa, e numa realidade igualmente não muito díspar, a vida inteligente acolheu o poder da luz de uma estrela, claro está, apenas e somente após esgotadas todas as alternativas e recursos naturais de civilizações inteiras. Um ponto de partida para uma mensagem bastante explícita da Baby Robots Games sobre o nosso futuro e o papel que temos em mãos, não achas? Não seriam necessárias muitas mais palavras, para entendermos a direção deste enredo, nem a sua missão de nos relembrar que estamos no período temporal certo para mudar a trajetória desta história.

Partindo daqui, vestimos a pele de Ayana, que procura o rasto da sua espécie: os ereban, uma civilização de guerreiros das sombras que desapareceu misteriosamente. Sem família, e sem origens claras, tomamos a liberdade de explorar um universo desconhecido, movido por máquinas frias e vida artificial, em busca do legado desta magnífica sociedade que dominou as sombras. Pelo caminho, encontraremos aliados a causas com que partilhamos objetivos e travamos conhecimentos.

Devo dizer que apesar de achar extremamente importante toda a retórica da Baby Robots Games com esta história, e que a cada capítulo querermos conhecer mais os Ereban, acho que, no fundo, é só mais arroz para a panelada de ficção científica que já ferve nos últimos anos, onde os temas de ordem têm sido as alterações climáticas e a extinção das espécies a torto e a direito, como se público-alvo que são os jogadores não estivesse já saturado destes temas e de jogos e mais jogos semelhantes no mercado. 

É preciso ir mais longe, é preciso complexar um pouco mais este tipo de enredos para trazer-nos algo verdadeiramente único e que justifique o nosso tempo que em termos de jogos capitaliza ou pela história ou pela jogabilidade. Aqui devo dizer, Ereban: Shadow Legacy não enche as medidas, mas se gostas de jogabilidade stealth, é nisso que te deves focar.

Jogabilidade

Se sentes saudades de um bom stealth à moda de Aragami, onde podes explorar em liberdade, e limpar inimigos com um bom ataque à retaguarda, estás no sítio certo! De facto, é um alívio em certa parte, sentir esta liberdade para planear a minha estratégia de stealth, sem um ambiente muito populado e carregado como sinto nas interações mais recentes de Hitman por exemplo. Leve e solto, com umas pequenas vibrações a Prince of Persia, o jogador sente-se como uma sombra prestes a engolir todo o território que lhe aparece à frente.

Esperava-se portanto, que uma personagem com poderes sobrenaturais que tiram partido das sombras, fosse então uma delícia de controlar nestas encruzilhadas stealth aos inimigos.

No entanto, devo dizer, que tudo o que envolve as sombras neste título não me convence. 

Desde o controlo de navegação, à animação de entrada e saída das sombras abrupta que coloca-nos em check perante inimigos próximos, Ereban deixa de facto a desejar por fluidez e coesão no que deveria de ser o fulcro de toda a sua jogabilidade. Mesmo em termos de controlo da câmara quando estamos em modo sombra, é manhoso, mesmo para o jogador mais perspicaz em orientação, conseguir se deslocar.

Com isto a curva de aprendizagem começa com um enorme salto de dificuldade, que te fará estrebuchar e passar um mau bocado inicial. Não sendo de todo uma experiência agradável, habituamo-nos a rezar por encontrar outras vias de chegar aos objetivos sem ter de recorrer tanto a estes poderes.

O que deveria ser o coração do jogo, falha em pegar, e interrompe a imersão do jogador!

De mencionar é que em termos de combate, este é nulo, sendo claro dada primazia ao stealth. Posto isto, se fores apanhado, não tens qualquer forma de escapar. A partir do momento que o inimigo te põe as mãos em cima, és derrotado e forçado a fazer load do último checkpoint. 

Em termos de desenvolvimento de habilidades, embora já tenha deixado clara a minha opinião sobre esta vertente no jogo, temos uns workbenchs que podemos utilizar para criar gadgets e aprimorar os nossos poderes. Contudo para usufruirmos destes temos de conseguir loot, que é tão escasso quanto realista dado o paradigma de pobreza extrema em que Ereban: Shadow Legacy se insere.

De acrescentar é que o enredo que compõe este jogo divide-se em vários capítulos que culminam em momentos chave. Ao terminares cada um, as tuas habilidades de stealth serão contabilizadas e quotadas, com algumas distinções consoante a proeza implacável em aniquilares os inimigos sem dares cana.

Desempenho

Tendo analisado esta obra numa máquina modesta com uns recursos mínimos de uma GTX 1060 e i7 igualmente de há quase uma década atrás, devo dizer que tirando umas quebras logo de início ao arrancar a primeira cinemática do jogo, não tive muito mais chatices. O PC chegou a ir abaixo mas não culpo totalmente o jogo. 

Talvez já esteja a pedir uma reforma antecipada, mas sempre dá um insight valioso termos uma máquina que nos mostre como é que os jogos correm num PC mais affordable para o comum mortal e jogador mais casual. Dito isto, duvido bastante que se tenhas uma máquina mais atual, ou jogues numa consola, encontres qualquer problema deste género.

Em termos de settings, há uma oferta muito básica pelo que como podes ver não é de admirar que os requisitos mínimos sejam tão baixos que até numa GeForce GTX 960 consiga correr. Qualquer comum mortal poderá desfrutar deste belo petisco.

Audiovisuais
Dois soldados Ereban travaram um combate corpo a corpo dentro de uma instalação industrial mal iluminada.

Pela estética modesta de Ereban: Shadow Legacy, facilmente passam despercebidos os mais intrincados detalhes e texturas que compõem o ambiente frágil, decrépito, inóspito e artificial onde navegamos. Nisto devo dizer que esperava um maior brilhantismo, à ausência de melhor termo, a lidar com os sombreados que envolvem a volumetria das estruturas e plataformas em que nos apoiamos para rentabilizar a mecânica principal do jogo. Uma oportunidade que careceu de exploração, mantendo-se a exploração da dicotomia de luz/sombra pelo básico e modesto.

No entanto é de referir o character design da nossa personagem principal, impar e memorável, bem como o triunfo da animação que enche-nos os pulmões de vivacidade, com uma belíssima apresentação e fluidez de movimentos nas suas cinemáticas. Esta surpreende pelo quão vivas se sentem as personagens, não se ficando por umas simples animações desprovidas de peso e contextos, idles que muitas vezes são utilizados em cinemáticas de jogos para despejar os diálogos do enredo. Não, Ereban entrega-nos de facto uma animação invejável e bem-vinda no mercado e budget em que se insere. Gostaria que mais estúdios seguissem este exemplo de esforço da Baby Robot Games, mas igualmente, teria gostado de ver o mesmo empenho para trazer tamanha fluidez às transições entre animações e ciclos na jogabilidade.

Nomeadamente quando transitamos para as sombras, há uma força que nos puxa para uma parede, para um chão, para uma superfície de uma forma tão disruptiva e inesperada, quando estamos já tão embrenhados a navegar o mapa, que nos obriga a parar e perspetivar novamente a navegação até ao nosso objectivo. Por mais que queiramos abraçar as sombras, e o conceito do jogo, somos constantemente levados a reconsiderar e a navegar à plena luz sempre que possível.

Ouvindo as nossas personagens, percebemos um voice acting bastante casual e com poucas emoções, o que já é prato do dia neste nível do mercado, contudo eu hoje em dia dou graças e parabenizo os estúdios indies simplesmente pelo facto de terem esta oferta. Não sendo muita adepta de ler as legendas ou textos maçudos, ter o apoio do áudio enquanto posso seguir com a minha vida no jogo, acrescenta valor tanto ao jogo, como ao jogador.

Já no que toca à musica, esta encontra-se ausente, reforçando o foco no barulho e o cuidado que temos de ter ao interagirmos com o ambiente para não sermos detetados pelos inimigos. Uma solução que contribui para a adrenalina que sentimos quando estamos em stealth.

Conclusão
Um personagem com um traje de ficção científica Ereban lutando contra um inimigo robótico em um videogame.

Sendo este uma declarada homenagem a Aragami, Metal Gear, Assassin’s Creed, sem dúvida sentimos o seu ADN emprenhado no design de Ereban. De facto, desde os grafismos ambientais, às personagens e desenvolvimento dos capítulo, é palpável e exímio o trabalho desenvolvido por esta equipa! No entanto, em termos de mecânicas, e como tenho vindo a dizer, a principal, o fulcro de todo o jogo, fica bastante àquem da sombra do que poderia ter sido.

Sei que a Baby Robots Games se baseou em Splatoon para criar o Shadow Merge à semelhança da navegação na forma de lula no shooter da Nintendo, mas secalhar faltou um pouco mais de amor por essa componente, dado que a equipa entrega brilhantismo, em tudo o que faz com grande empenho.

Apesar de não bater nenhuma marca, nem encher as medidas, falhar o alvo, Ereban: Shadow Legacy dá-me a confiança absoluta, de que qualquer projeto que venha a seguir, deste mesmo estúdio, será muito mais maturado antes de chegar às mãos do consumidor final.

Ereban: Shadow Legacy já está disponível na Steam para PC e chegará futuramente às consolas. 

Agradecemos à editora a cedência de uma cópia para análise.

+ Pontos Positivos

  • Jogabilidade Stealth
  • Animações das cinemáticas
  • Design

– Pontos Negativos

  • Enredo Cliché
  • Mecânica principal
  • Curva de aprendizagem
CONCLUSÃO
Vão pela sombra
6.5
Joana Sousa
Apaixonada pelo mundo do cinema e dos videojogos. A ficção agarrou-me e não me largou mais! A vida levou-me pelo caminho da Pós-Produção, do Marketing e da organização de Eventos de cultura pop, mas o meu tempo livre, dedico-o a ti e à Squared Potato.
ereban-shadow-legacy-analiseChega de mansinho, a carta de amor da Baby Robot Games a Aragami, que esteve 5 anos em desenvolvimento. Apesar de não brilhar, é um título recomendável a todos os amantes de um bom stealth e fãs de Metal Gear e Assassin's Creed.