Depois de um ano de 2020 em que o Marvel Cinematic Universe (MCU) parou, sem qualquer estreia devido à pandemia, 2021 prometia ser um ano em cheio para os aficionados do género. E o ano tem corrido bem, com quatro séries de sucesso (WandaVision, The Falcon and the Winter Soldier, Loki e What If?) e dois filmes, um que se revelou uma enorme surpresa pela positiva (Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis) e outro que cumpriu, mas não deslumbrou (Black Widow). E novembro trouxe-nos a estreia de Eternals.
Atenção: Esta análise contém spoilers
Eternals, alegadamente uma raça alienígena imortal do planeta Olympia, criados pelos Celestials (já lá vamos), chegaram à Terra há sete mil anos para nos proteger dos Deviants, também eles de outro planeta cujo único propósito é destruir os humanos. E o filme começa precisamente com uma interessante sequência de ação e combate entre estas duas raças na antiga Mesopotâmia. O filme prometia. Mas é aqui que começam os erros.
São nos apresentados os personagens principais: Sersi (Gemma Chan), que consegue transformar matéria, Ikaris (Richard Madden), uma espécie de Super-Homem, Thena (Angelina Jolie), uma guerreira com capacidade para criar armas, Ajak (Salma Hayek), a líder e capaz de curar qualquer ferimento, Kingo (Kumail Nanjiani), o Son Goku da equipa, Sprite (Lia McHugh), uma criança capaz de criar ilusões (sim, uma espécie de Loki sem adagas), Phastos (Brian Tyree Henry), Makkari (Lauren Ridloff), uma speedster, Druig (Barry Keoghan), capaz de controlar mentes e finalmente Gilgamesh (Ma Dong-seok), o strongman da equipa. Esta equipa é a responsável pela presumível extinção dos Deviants da Terra, tendo protegido o planeta desta raça durante milhares de anos, sem nunca interferir nas questões mundanas, nem quando Thanos decidiu fazer desaparecer metade da população do universo.
A equipa da Marvel Studios achou por bem apresentar dez personagens principais num único filme de 2 horas e 37 minutos, levando a, por um lado, um excesso de flashbacks para introduzir as suas histórias, características, motivações e, por outro, esse tempo ser insuficiente para criar uma ligação com os personagens, tornando o filme confuso e até, em certos momentos, maçador.
Não conseguimos perceber quem é verdadeiramente o vilão, se é que ele existe. É Kro (Bill Skarsgard), o deviant que consome dois dos Eternals e fica altamente poderoso e desenvolvido, mas que é facilmente morto por Thena? É Arishem (voz de David Kaye), o criador dos Eternals e o mais poderoso dos Celestials, mas cuja intervenção se resume a conversar com a líder da equipa? É Ikaris, cuja motivação ficamos sem compreender?
Mas nem tudo é mau em Eternals. O filme apresenta-nos também Dane Whitman (Kit Harington), que em apenas três cenas (mais a cena pós-créditos) nos faz sentir uma maior ligação ao personagem do que a maioria dos restantes, e que no final nos é apresentado como Black Knight, um proeminente herói (será?) da Marvel Comics, que terá mais aparições em breve no MCU, e ainda nos deu o primeiro momento de Blade (Mahershala Ali), mesmo no fecho da última cena pós-créditos e que nos deixou a todos com ânsia de mais.
Em Eternals temos também o primeiro herói assumidamente homossexual, brilhantemente interpretado por Brian Tyree Henry, e que tanta polémica tem dado em alguns países do mundo, onde ponderam proibir a exibição do filme, algo que lamento profundamente. Também Angelina Jolie, como é habitual, apesar de ter menos tempo em cena que a maioria, interpreta de forma muito competente e consistente Thena, a heroína que inspirou o mito de deusa Athena.
E não podemos deixar de elogiar as interpretações de Kumail Nanjiani, Lauren Ridloff (a primeira heroína surda-muda e cuja atriz também o é), e Ma Dong-seok. Em oposição, Gemma Chan e Richard Madden têm, a meu ver, interpretações abaixo do esperado, principalmente tratando-se dos dois personagens mais relevantes do filme. Deixar nota que Chloé Zhao, a galardoada realizadora, não parece talhada para este tipo de filmes, que implicam uma sequência e um andamento mais rápidos.