Um dos géneros de videojogos que provavelmente não imaginas a Nintendo fazer são visual novels. Mas tal já aconteceu nos anos 80. Dois títulos da série Famicom Detective Club foram lançados para o Famicom Disk System, um add-on de disquetes proprietárias para a versão japonesa da NES. A série segue dois adolescentes que investigam vários casos de homicídio.
O segundo título, The Girl Who Stands Behind, teve um remake para a Super Famicom que, infelizmente, também não saiu para além do mercado japonês. No entanto, ambos os títulos tiveram remakes; na Nintendo Switch teve lançamento para o mercado europeu, onde finalmente pudemos jogar Famicom Detective Club em inglês!
The Missing Heir, apesar de ser o primeiro título da série, cronologicamente passa-se depois de The Girl Who Stands Behind, portanto aconselho jogar esse depois.
O nosso protagonista é um rapaz que foge de casa e se junta a uma agência de Detetives para encontrar o paradeiro dos seus pais desaparecidos. Em The Missing Heir, investigamos uma morte de um membro familiar de poderoso clã japonês cuja suposta morte natural poderá ter mais do que se diga. Em The Girl Who Stands Behind, investigamos o assassínio por detrás de uma estudante de secundário cujo corpo foi descoberto no rio.
A história é o maior ponto alto deste pacote, principalmente se és fã de histórias de investigação e mistério. Perguntas e revelações são sempre feitas nos momentos certos, as vezes apanhando-nos de surpresa.
Personagens secundárias têm praticamente o mesmo investimento na escrita que as principais, que faz menos óbvio o seguimento da história que o normal (claro que há sempre uma ou outra coisa fácil de adivinhar se tiveres familiarizado com o género). Fãs da série Metroid talvez estejam preocupados que o escritor do enredo seja Yoshio Sakamoto, devido ao Other M, mas podem ficar descansados.
Outro ponto extremamente forte nestas versões é a arte, um factor importante numa visual novel. A arte foi completamente refeita em alta-definição, com uso estrito de elementos bidimensionais. Todas as localizações e personagens têm muito mais detalhe e com um aspeto robusto, especialmente comparativamente a versão original na Famicom.
As animações são conseguidas, principalmente, graças ao uso da tecnologia Live2D. Objectos inanimados ficaram espetaculares, como, por exemplo, tecido no vento. Agora humanos… Nem por isso. Os movimentos são pouco naturais e estranhos. Live2D faz o seu papel em animar avatares em tempo real; tudo o resto é apenas um atalho para cortar custos e qualidade. Outro caso é quando as personagens às vezes saem de cena em direcção do jogador: parecem transições de Microsoft Powerpoint. Mais valia fazer simples fadeouts. Se é para manter as coisas simples, menos é mais.
A jogabilidade é a mesma da original, portanto um visual novel muito tradicional sem os acrescentos que vemos em obras mais modernas. São os esperados, claro, e pessoalmente prefiro assim, mas é um aviso para aqueles que tem algum receio deste tipo de mecânicas. Na maior parte do tempo selecionamos num menu de opções, entre itens, pessoas e perguntas, com a escolha correcta a avançar a história. Outras, estamos a analisar o local, à procura de pistas. Não há muita variação neste esquema, excepto nos raros momentos em que as pistas nos locais estão ocultadas da interface, uma ou outra ocasião que o jogo testa realmente se o jogador está a prestar atenção e as suas capacidades de dedução e afins…
A música foi completamente refeita com instrumentalização moderna. As novas faixas foram remasterizadas de forma eficiente, e nunca senti que as composições modernas fossem desenquadradas nos ambientes das cenas, mesmo após as voltas e reviravoltas do mistério. Mas se por algum razão estranha não gostares, ou estás curioso como era na versão original, podes selecionar a banda sonora da Famicom (ou a opção extra da Super, em The Girl Who Stands Behind).
A duologia de Famicom Detective Club já está disponível em formato digital, exclusivamente para a Nintendo Switch.