Os lobos selvagens estão de volta 26 anos depois com um novo episódio da saga Fatal Fury, com o Fatal Fury: City Of The Wolves.
Numa autêntica viagem no tempo, não escondo o enorme entusiasmo por duas coisas: o regresso oficial da SNK em 2016 e principalmente o regresso anunciado da lendária saga Fatal Fury com a sequela do Garou: Mark of the Wolves que é simplesmente um dos melhores jogos de luta já feitos!
Embora esteja com vontade de entrar em modo 100% nerd do que toca à série Fatal Fury deixo aqui o essencial:
Fatal Fury é considerado um dos «Big 4 dos jogos de luta» da SNK (juntamente com os clássicos Art of Fighting, Samurai Shodown e The King of Fighters). Fatal Fury foi criado por Takashi Nishiyama, o diretor original do Street Fighter e o primeiro jogo foi o Fatal Fury: The King of Fighters (que curiosamente deu o nome ao jogo The King of Fighters ’94 que saiu em 1994) que saiu em 25 de Novembro de 1991.
Foi o primeiro dos «Big 4» a sair, seguido de Art of Fighthing em 1992 e Samurai Shodown em 1993. Partilha um universo comum com o Art of Fighthing, sendo que Fatal Fury situa-se nos fins dos anos 70 e Art of Fighting situa-se no início dos anos 90. Embora haja aparições de lutadores das duas séries, o The King of Fighters não partilha o mesmo universo dos dois.
Fatal Fury conta com 12 jogos repartidos entre as arcadas e a consola NeoGeo, com o spin-off Fatal Fury: Wild Ambition que saiu para Hyper NeoGeo 64 e PS em 1999, e Fatal Fury: First Contact para NeoGeo Pocket Color no mesmo ano. Está partido em três sub-séries, a começar por Fatal Fury: The King of Fighters em 1991, Real Bout Fatal Fury em 1995 e por fim o último jogo da série que saiu Garou: Mark of the Wolves em 1999.
**Nota** Para não alongar mais sobre o assunto recomendo vivamente a visualização da apresentação do Terry Bogard no Super Smash Bros. Ultimate feita pelo Grão-Mestre Masahiro Sakurai aqui.
Fatal Fury: City Of The Wolves é um clássico 1v1 Fighting game desenvolvido pelo estúdio dedicado da SNK KOF Studio e publicado pela SNK. O jogo passa 10 anos depois do Real Bout Fatal Fury, onde Terry Bogard matou Geese Howard. No Garou Terry adopta o filho de Gesse, Rock Howard e entram num torneio em South Town conhecido por Maximum Mayhem na esperança de saber sobre o legado do Geese.
Passou-se um ano em Fatal Fury: City Of The Wolves, e a história agora reparte-se em dois momentos chave: a investigação do Rock e Kain R. Heinlein sobre o paradeiro de Marie; a mãe do Rock e irmã do Kain, que se julgava morta e sobre o paradeiro do legado do Geese.
No modo geral, um homem misterioso chamado Franz Stroheim lançou mais um torneio The King of Fighters com o legado do Geese como prémio final. Várias personagens tem os seus motivos diferentes, mas quase todos vão atrás do legado. No total temos 19 personagens (entre regressos muito bem recebidos de lendas da série Fatal Fury e estreias absolutas), 2 delas Bosses não jogáveis e (surpresa surpresa) conta com as participações de Cristiano Ronaldo (sim o jogador de futebol) e o DJ sueco-bósnio mundialmente famoso Salvatore Ganacci.
E aqui tenho que expressar a minha surpresa, raiva e incredibilidade. Não consigo perceber de que maneira estes dois “convidados” conseguiram aparecer no jogo, e mais bizarro ainda, só o Salvatore Ganacci é que tem uma história própria. Para acabar a minha descarga de raiva pública, tenho que dizer que o moveset do Cristiano é simplesmente terrível e forçado. A escolha dele para o jogo é tão má que pela net fora há gente a criticar esta escolha ao contrário do Salvatore que, surpreendentemente, está a ser um dos mais utilizados nos torneios oficiais.

Sobre a apresentação e menus tenho uma relação de amor/ódio. A apresentação está simplesmente espetacular (ou não fosse feita pelo lendário diretor original do anime do Fatal Fury dos anos 90 Masami Obari) ao som de uma música exclusiva do jogo que gosto bastante composta por Salvatore Ganacci.
O menu conta com o novo modo Episodes of South Town, modo Offline onde só há o modo arcada, treino e Co-op local, modo Online que conta com Ranking Matches, casual, criar um clone para estudar a nossa jogabilidade e um menu para torneios oficiais, galeria onde podemos ver a arte oficial, ouvir as vozes e ver as cenas do jogo, configurações do jogo, menu de edição de cor e a Jukebox.
No Garou o jogo tinha a sua própria identidade e era prova da evolução na série, mas no Fatal Fury: City Of The Wolves a SNK apostou num look inspirado em BD, e digo que acertou em algumas partes e falhou redondamente em outras partes a meu ver. Eu sinto que a apresentação perdeu a alma que tornou o Garou único. Não fiquei muito fã da maneira como as cenas são apresentadas. Fez-me uma confusão enorme cada vez que vejo a introdução das personagens para os combates. Nas cutscenes é a mesma história. Não fiquei mesmo fã das imagens estáticas com onomatopeias.
Mas nem tudo é mau. Gostei do aspeto dos menus com este estilo, e aqui tenho mesmo que reconhecer que a SNK acertou, mas o meu maior elogio é que, finalmente (mesmo finalmente), há voiceovers nas cutscenes. Já desde o início da era 3D do King of Fighters (exceto o KOF: Maximum Impact e Maximum Impact 2) que se pedia e exigia que isto fosse introduzido e finalmente o pedido foi atendido e dou pontos à SNK por isso.
Fatal Fury: City Of The Wolves traz vários regressos e várias novidades na jogabilidade. Temos o habitual deste tipo de jogos: murros leves e pesados, pontapés leves e pesados, as respetivas combinações dos dois tipos de murros e pontapés e um botão para o Rev que irei explicar mais à frente.

O que está de regresso é a possibilidade de mudarmos de linha, ou seja, movermos para trás do cenário, o que infelizmente só funciona num sítio. A última vez que se viu esta mecânica foi no Real Bout Fatal Fury e é bastante vantajosa. Dá-te a oportunidade de desviares-te dos ataques do adversário e contra atacar (ou vice versa), mas ficamos só limitados a um pontapé ou murro ou desviarmos para voltarmos à mesma linha do adversário.
Outros regressos contam o Just Defense, o Hyper Defense, uma versão diferente que permite bloquear com sucesso ataques de vários hits e o sistema T.O.P. (Tactical Offensive Position) foi renomeado para S.P.G. (Selective Potencial Gear). Ao contrário do Garou, o S.P.G. traz novidades com o seu uso.
Tal como o T.O.P., antes do combate nós escolhemos em que terço metemos a nossa barra S.P.G. e quando é atingida essa barra, podemos fazer várias coisas. Ao contrário do Garou, a escolha da posição é feita logo do ínicio e é final, não podemos mexer mais tarde.
Uma das novidades é a introdução das Rev Arts e o sistema Rev. Basta imaginar que funcionam como os Ex moves do Street Fighter e acumulam uma certa percentagem para o sistema Rev. Outras coisas que fazem subir o sistema Rev e que também são novidades são o Rev Blow (que só pode ser usado com S.P.G. ativo), um golpe que permite ganhar a distância perante o adversário, Rev Accel que ajuda a ligar e aumentar os nossos combos e o Rev Guard, uma manobra que empurra o adversário.
Para além disto, contamos com o Ignition Gear, Redline Gear e Hidden Gear. Ignition Gear é executada com uma barra, Redline Gear com duas e Hidden Gear com duas barras e S.P.G. ativo.

Para finalizar, sobre o sistema Rev não se pode abusar muito. Se atingirmos os 100%, sofremos um sobreaquecimento e não podemos usar as Rev Arts nem os Just Defense e corremos o risco de sofrer um Guard Break.
Sobre o novo modo Episodes of South Town, é uma espécie do modo World Tour do Street Fighter Alpha 3 com elementos de RPG. Vamos saltando de ponto em ponto do mapa para entrarmos em combates com regras e condições do adversário diferentes e avançar com a história. A escolha de personagem é livre e as recompensas são geralmente XP, e, em certas batalhas, habilidades que podemos equipar e temos que ter atenção ao limite que temos para os equipar.
O modo até é divertido mas algo repetitivo. A maioria dos combates são simples contra adversários fracos e que oferecem só XP e cada mapa é sempre os mesmo número de combates contra o Boss, mesmo número de combates normais e mesmo número de combates escondidos sem tirar nem pôr. Para desbloquear temos o Home Character onde podemos mudar de personagem, Showcase que é uma espécie de galeria que passa por todos os jogos da série e um minijogo.
Sobre a banda sonora é bem extensa. Fiz as contas todas e tem um total estonteante de 411 músicas. Está partido em vários álbuns e vão desde a série toda de Fatal Fury, Art of Fighting de 1 a 3 e principal destaque ao álbum REV IT UP MUSIC, que conta com DJs como Salvatore Gannaci, Steve Aoki ou Alok. A própria banda sonora do jogo são músicas novas ou versões “atualizadas” de músicas antigas da série e está bastante boa.
Em resumo, Fatal Fury: City Of The Wolves reaproveitou mecânicas antigas e trouxe umas novas e gostei bastante. O que tenho a apontar de mal é o pobre conteúdo do modo offline, a apresentação que acerta e falha ao mesmo tempo e a introdução das personagens convidadas que simplesmente não fazem sentido nenhum.
Fatal Fury: City Of The Wolves está agora disponível para PlayStation 5, PlayStation 4 Xbox Series X & S, e na Steam e Epic Games Store para PC.
Um agradecimento especial à editora pela cedência de uma cópia digital para análise.