Sabem aquele videojogo que nos confere prazer e frustração em doses idênticas? FIFA é esse videojogo para mim. É o meu guilty pleasure, aquela experiência que eu sei que vou odiar nos maus momentos, mas que ao mesmo tempo consegue ser única e insubstituível no pico de emoção que pode causar, quando tudo corre bem e os diferentes sistemas de jogabilidade se encaixam com harmonia.
Sem surpresas, quando a demo do FIFA 19 foi lançada no passado dia 13, fui rápido a adicioná-la à minha lista de transferências da Playstation 4. Será que encontrei um videojogo refinado, com os seus erros crónicos corrigidos, ou para o ano é que vai ser?
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Apresentação
A apresentação é, historicamente, um dos pontos fortes desta franquia. No FIFA 19, este aspecto não foi descuidado, sendo que continuamos a ter grandes production values em tudo o que se passa fora das quatro linhas. A estética dos menus, a banda sonora, as licenças de equipas, jogadores e equipamentos continuam a estar num patamar de excelência dentro dos simuladores de futebol.
Antes do apito inicial, podemos ver o público da casa homenagear os seus ídolos com estandartes gigantes. E a parte interessante é que esses ídolos não estão restritos aos jogadores actuais. Por exemplo, se o Bayern jogar em casa, vamos ver adeptos a erguer uma lona com a cara de Lothar Matthäus, ídolo do clube germânico nas décadas de 80 e 90.
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As animações faciais foram (ligeiramente) melhoradas e é possível ver novas expressões nas caras dos jogadores, em particular nas cutscenes que acontecem em paragens de jogo ou momentos de transição (golo, intervalo, final da partida, etc).
Em relação ao audio que se ouve durante as partidas, notei uma evolução inesperada. Agora, é possível escutar um público mais diversificado e contextualizado com o que está a acontecer. A reacção aos incidentes da partida também está mais imediata, o que ajuda à imersão no jogo.
Modos de Jogo (Demo)
A licença para as competições europeias (UEFA Champions League, UEFA Europa League e UEFA Super Cup) é uma das grandes novidades para este FIFA 19.
Nesta demo, temos uma amostra da fase de grupos da Champions League, sendo possível testar um jogo entre quaisquer duas equipas deste lote:
- Man City
- Man United
- Real Madrid
- Atletico Madrid
- PSG
- Juventus
- Roma
- Tottenham
- Borussia Dortmund
- Bayern
Na versão final, a licença das competições europeias também estará integrada em outros modos de jogo, incluíndo o popular FIFA Ultimate Team.
Na demo, além do teste à Champions League, também está disponível uma introdução à 3ª temporada do modo The Journey, com a principal novidade a incidir na possibilidade de controlarmos 2 personagens novas, além do protagonista Alex Hunter (a única das 3 personagens disponível na demo).
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Gameplay
Na minha opinião, este é o ponto mais fundamental de um simulador de futebol. No passado, houve jogos que preencheram todos os outros requisitos mas fracassaram ao falhar no que mais interessa: a jogabilidade.
Desde logo, é possível sentir pequenas mudanças na maneira como os jogadores interagem com a bola. Os passes rasteiros, menos teleguiados, dependem ainda mais do jogador que estamos a controlar e do pé que está a ser usado num dado instante.
Se nos passes rasteiros sentimos pequenas diferenças, os passes longos parecem drasticamente redesenhados para este FIFA 19. Até aqui, uma bola lançada em profundidade no espaço vazio estava muitas vezes condenada a sair das quatro linhas. Agora, em virtude das modificações aplicadas à física da bola, há uma tendência para a mesma ir perdendo velocidade à medida que bate e rola na relva – algo que abre imensas possibilidades novas para desenharmos jogadas em profundidade.
O timing no controlo e toque de bola é extremamente relevante nesta versão. Até aqui, fomos habituados a poder ensaiar um passe em qualquer instante e a partir de qualquer posição do corpo, desde que a bola estivesse no raio de acção do jogador. No FIFA 19, é comum vermos os jogadores acertarem o passo primeiro, mesmo que já tenhamos pressionado um botão para soltar a bola. Sem dúvida, uma implementação mais realista da reacção dos jogadores, mas que poderá deixar os fãs dos tempos de resposta instantâneos poucos satisfeitos.
Também o remate sofreu alterações significativas: agora, existe um metajogo (opcional) no momento de chutar à baliza, onde somos premiados com movimentos fantásticos se voltarmos a pressionar o botão de remate no momento exacto do contacto com a bola. No sentido inverso, se falharmos o momento certo, seremos penalizados com tentativas desastradas de remate. É uma mecânica interessante de risco/recompensa, a fazer lembrar o parry dos videojogos de luta, e que poderá trazer maior estratégia e profundidade às situações de finalização.
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Agora, também é possível ver qual o próximo jogador que será selecionado, quando trocarmos de jogador. Passamos a ter dois cursores activos na nossa equipa: a vermelho, o jogador que estamos a controlar no momento; a amarelo, o que iremos controlar a seguir, se trocarmos de jogador nesse instante. Uma funcionalidade inteligente e que, a título de curiosidade, tem origem na edição de 2018 do Pro Evolution Soccer – a série concorrente da Konami.
E já que falamos em inspiração trazida pelo PES, é uma desilusão que a EA não se inspire mais no seu concorrente directo no que toca à autenticidade dos jogadores. Para mim, continua a ser pouco convincente a diferença que existe entre a forma de jogar de cada jogador no FIFA. Ainda é relativamente frequente ver pontapés acrobáticos com o pé cego resultarem numa bola ao ângulo, com um grau de probabilidade absurdo face à realidade. Os jogadores distinguem-se de forma evidente em parâmetros como a velocidade e a qualidade de passe, mas são demasiado similares em características como a condução de bola e o posicionamento em campo.
De resto, a maior crítica que posso fazer é algo que já se verifica há pelo menos uma década, com tendência para se agravar: a jogabilidade é complexa, para o bem e para o mal. Se, por um lado, é incrível a flexibilidade que temos disponível a cada jogada, por outro, o jogo torna-se um tremendo desafio de destreza mental, com as múltiplas opções de input que temos ao nosso dispor a cada momento.
No passado, houve simuladores de futebol que conseguiram trazer longevidade sem sacrificar a acessibilidade. FIFA é um jogo que requer um grande investimento por parte do jogador para que as diferentes mecânicas sejam dominadas. E a edição deste ano não parece vir a quebrar essa tendência.
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Entre toques habilidosos e reacções de inércia, aguardo com cautela pela versão final do FIFA 19. Os primeiros sinais indicam-me que, provavelmente, esta edição agradará aos fãs das últimas iterações, mas dificilmente conquistará os adeptos de videojogos de futebol mais simples e de gratificação imediata.
A bola começa a rolar já no dia 28 de Setembro, data de lançamento do FIFA 19 para PC, PS4, Xbox One e Nintendo Switch.