Graças ao seu grupo de protagonistas, ao seu enredo sincero e à representação cuidadosa dos dinossauros, o clássico filme de animação de 1988 Em Busca Do Vale Encantado tornou-se parte integrante da infância de muitas gerações.

O filme tem como objectivo ajudar as crianças a aprender a lidar com a perda e a superar as adversidades, mas ainda na sua fase de guião o filme estaria para se tornar muito mais sombrio, algo que irei analisar neste artigo.

Em Busca do Vale Encantado é um filme de 1987 dirigido pelo lendário animador Don Bluth com a direcção de Steven Spielberg e George Lucas. O filme foi um grande sucesso financeiro para Don Bluth, mas passou por uma produção realmente problemática, devido em parte às filosofias de Bluth contra Spielberg e Lucas. Bluth acreditava firmemente que as crianças podiam lidar com qualquer quantidade de material assustador, desde que houvesse um final feliz.

Muito parecido com American Tail/Um Conto Americano e Secret of Nimh/A Jóia Encantada, Bluth “encheu” Em Busca do Vale Encantado com uma enorme quantidade de cenas envolvendo os dinossauros bebés em perigo.

Algo que não agradou a Spielberg ou Lucas, e ambos foram rápidos a remover o máximo de material censurável possível. O problema foi que o material já tinha sido animado, no momento em que os cortes foram feitos, levando a que o filme ficasse com dez minutos de produção removidos. (Irei exemplificá-los.)

Contra os desejos de Bluth, um total de 19 cenas totalmente animadas foram removidas. E, assim que o filme foi concluído, parte do material original foi destruído.

Durante anos, os fãs deste e outros filmes tiveram que passar informação de boca em boca, procurar em livros de histórias e peças aleatórias de arte, para montar um cenário de todo esse material eliminado.

Mas recentemente, um homem com o nome de Mark Pudliener foi capaz de encontrar um storyboard quase completo da infâme cena do ataque do T-rex e enviá-lo para o seu blog para as pessoas verem (BLESS HIM)

(reconstrução)

Spielberg, Lucas e Krieger temiam que o filme fosse traumatizante demais para crianças, e devido a isso o argumento teve que ser alterado várias vezes. Exemplos: o ataque do T-Rex e a morte da mãe de Littlefoot.

Por isso é que, após a morte da personagem, foi criada uma sequência “alegre”, onde Littlefoot observa pterodátilos bebês a brincarem com a mãe. Littlefoot, extremamente deprimido, só pensava na sua mãe, e nem comia, ilustrando o seu estado. Para animá-lo, um dos pterodáctilos bebés ainda lhe oferece uma cereja.

“Nos últimos 30 anos, muitos pais vieram até mim e me disseram: ‘Porra,  você sabe quantos dias foram necessários para acalmar o meu filho?’ Krieger brinca, “‘Ou quantas vezes eu tive de assistir ao filme a chorar com o meu filho?’ comentou Stu Krieger.”

(cena com os pterodáctilos)

O filme foi exibido a psicólogos, que consideraram a cena da morte on screen da mãe do protagonista demasiado traumatizante para as crianças. Por isso, um dinossauro idoso chamado Rooter foi adicionado ao filme no final da sua produção, para dar conforto a Littlefoot e ensinar-lhe sobre o “grande círculo da vida”. “O grande ciclo da vida apenas começou mas muitos de nós não chegarão juntos ao final”, “ela estará sempre contigo desde que te lembres do que ela te ensinou”, “de certa forma nunca estarão separados”.

É por isso que o filme termina com a visão de Littlefoot a ver a sua mãe nas nuvens, dizendo que ela estará sempre com ele no seu coração.

“Tudo isso foi um esforço muito consciente para garantir o equilíbrio”, diz Krieger. “Não tornar a morte demasiado leve (…), e não ter que parar tudo no meio do filme”.

Em Busca do Vale Encantado 1

Os primeiros conceitos de Em Busca do Vale Encantado incluíam dinossauros, mas nenhum diálogo. A história era sobre um jovem brontossauro, que perdeu a mãe, mas possuía outro nome: Thunderfoot. O nome foi depois alterado para Littlefoot, pois já havia um dinossauro num livro infantil chamado Thunderfoot.

Uma pequena cena de animação, na altura em que estes encontram comida verde, foi cortada para acelerar o ritmo do filme um pouco.
A cena cortada foi a de Ducky a abraçar o Spike e Littlefoot (é possivel encontrar-se este short no trailer original de 1988).

Pode parecer que nada importante foi cortado, mas há alguns problemas de continuidade ligeiros envolvidos. Cera: recua e volta a dar uma cabeçada na árvore novamente, tentando fazer com que a folhas caiam para se alimentar, e depois vêmo-la a ir-se embora, provocando o grupo e a música parece ser severamente cortada.

A que é considerada “a cena final do filme” aconteceu na verdade mais cedo, mas juntar tudo é difícil. Quando os personagens chegam às montanhas que queimam, estes separaram-se. Mas, originalmente, teriam continuado com Littlefoot, passando pelo lago em que se afundou o Sharptooth, pedindo ajuda à mãe e depois descobrindo o vale (esta última cena ainda é usada no filme). Uma cena eliminada mostra Littlefoot a brincar nas cascatas noutra cena, onde ele acaba por encontrar os amigos no rio de fogo (possivelmente voltou atrás para a ir buscá-los e indiciar o caminho para o vale).

Vale a pena notar que, perto do fim, quando o espírito da mãe de Littlefoot o está a conduzir pelo túnel da caverna, Littlefoot está a sorrir, mas ele deveria estar triste por não ter encontrado o Vale. Mas se ele está a sorrir, é óbvio que já tinha encontrado o Vale antes.

Em Busca do Vale Encantado 2

Parte do final original mostra Petrie na cabeça de Littlefoot. Uma coisa que reparei em criança e durante anos me fez imensa confusão: Littlefoot encontrou o vale…e depois chamou os amigos …e, na cena seguinte, todos estão a correr, incluindo o Littlefoot com o Petrie na cabeça… Eu nunca compreendi bem porque é que ele tinha de voltar para trás se já tinha encontrado o Vale… mas pronto.

Agora tudo faz sentido

  • Littlefoot encontrou o vale sozinho;
  • Voltou para salvar o Spike, Pretrie e Ducky;
  • Salvaram a Cera;
  • Derrotaram o Sharptooth;
  • LittleFoot mostrou-lhe o caminho correcto para o Vale.

Cenas eliminadas que só existem em guião

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Spike

Uma delas, é a cena cortada em que a Cera argumenta sobre levarem Spike com eles. Basicamente, Cera é contra a ideia, pois Spike só come e irá atrasá-los, o que possibilitará um possível encontro com o T-Rex.

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Littlefoot acha que o Spike devia-se juntar a eles na jornada em busca do Vale Encantado, mas a única coisa capaz de mover este dinossauro é a comida, e daí Ducky arranjar umas cerejas. Esta cena terá sido cortada para acelerar o ritmo, pois no filme só se vê a imagem de baixo. Agora é que reparei que a Cera vai afastada do grupo, por não concordar com a decisão de levarem Spike atrás.

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Temas racistas

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Esta cena foi removida por ser demasiado racista, mas encontra-se no guião original e foi inserida no livro infantil We Did It Together que conta a história do filme sem sofrer tantas alterações.

Pouco depois de encontrarem o Spike, o grupo encontra um oásis com comida e água. Famintos e cheios de sede, o grupo pergunta aos dinossauros do oásis se podem partilhar com eles comida e água. Contudo, os dinossauros do oasis recusam-se a partilhar, pois não pertencem à mesma espécie. Só Ducky tem permissão de beber pois é da mesma espécie.

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Momentos racistas presentes no filme:

O Caminho Certo

O momento em que Littlefoot e Cera discutem sobre o caminho certo para o Vale Encantado, sofreu uma alteração no diálogo.

Diálogo original:

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No final do filme, após chegarem ao Vale, Cera explica ao pai que é amiga de Littlefoot, e que foi ele que os ajudou a reencontrarem-se. Adoraria que esta cena tivesse feito parte do filme.

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Cena final que foi cortada por razões desconhecidas. No entanto, é possível encontrar este excerto no anúncio da Pizza Hut (not kidding). Ora vê aqui:

Células

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Célula de Littlefoot e Cera fugindo do Sharptooth, do livro The Search for the Great Valley.
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Célula de Littlefoot subindo a cascata do Vale Encantado para poder voltar atrás a ir buscar os amigos, visto no livro The Search for the Great Valley.
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Células do Shaptooth a atacar a árvore de espinhos, onde as crianças estão escondidas.

Antes de os storyboards serem lançados por Mark Pudleiner em 2015, já tínhamos esta célula no livro “A Busca pelo Grande Vale“, bem como uma célula (anterior) de Littlefoot e Cera fugindo.

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Célula original do filme com Littlefoot na cascata quando encontra o Vale.

A morte de Sharptooth foi um pesadelo para reeditar. Parece que a cena durava mais tempo, com Ducky tendo que atraí-lo para a água novamente. Como mostrado no argumento de Maio de 1987, Petrie lutou originalmente contra o Sharptooth por muito mais tempo, com Ducky a fazer caretas para tentar distraí-lo.

O porquê da cena ter sido removida nunca foi explicada. Provavelmente foi para cortar tempo, mas durante muitos anos houve um rumor de que a versão americana pré-lançamento do VHS oferecida pela McDonalds continha o filme intacto. Tal foi comprovado como falso em 2015.

Outra cena que só existe em storyboard, e que é possível que tenha sido removida por não fazer sentido no desenrolar do filme, e estar lá só a empatar, é a cena que abre com Littlefoot procurando por comida (particularmente, agulhas de pinheiro) com a sua mãe.

Depois de comer uma pinha, o jovem longneck afasta-se da mãe e encontra uma Dinilysia. Littlefoot foge do predador, e chora aflito, alertando a mãe. Littlefoot corre para um beco sem saída, embora antes que algo de mal lhe aconteça a sua mãe intervenha para o salvar e derrotar a cobra.

Recentemente, fãs dedicados entraram em contacto com o staff do filme, e colocaram perguntas sobre as cenas e material eliminado. Eis a resposta:

“Estão a ser feitas tentativas de contacto com as pessoas que trabalharam no filme. Alguns membros do Gang of Five (o maior fórum de Em Busca do Vale Encantado até hoje) perguntaram a Mark Pudleiner, Dick Zondag (director de animação) e a Stu Krieger sobre informações.

Novas informações foram descobertas em 23/06/2017 por Mark Pudleiner, que pediu informações ao produtor Gary Goldman.

“Perguntei ao proprietário e produtor Gary Goldman. Esta é a resposta dele.” – Avançou Mark.

 

“Embora tenha sido aprovado na fase de storyboard. Foi numa exibição em Abril ou Maio de 1988, a apenas seis meses da conclusão do filme num cinema da 20th Century Fox, na Soho Square, em Londres, com apenas Don, John, eu, Steven e a sua primeira esposa, e George num daqueles cinemas pequenos de 30 cadeiras. O problema é que, quando foi editado, cortando 19 cenas – incluindo áudio, por um dos editores favoritos de Steven na Pinewood Studios, em Inglaterra, eram principalmente as cenas do T-Rex (cenas para mim) cheias de grandes planos com bocas bem abertas, atacando através das lentes da câmara os dinossauros mais pequenos quando estes se escondiam nos espinhos.

 

No entanto, contabilizam menos de um minuto as secções perdidas do ataque do T-Rex e das crianças. Steven e George sentiram que essas cenas teriam provocado o choro a uma plateia de crianças de 4 e 5 anos levando as mães e pais a segurá-las nos braços no lobby, e a aguardar por um momento seguro para levarem os seus filhos de volta aos seus lugares.

 

Esses cortes permaneceram, os pequenos atalhos foram gravados e enrolados e levámo-los de volta a Dublin. No entanto, nunca guardámos as impressões ou os negativos para essas cenas, sendo que todas foram animadas e limpas, muitas das quais até coloridas.

 

Os 10 minutos adicionais de cortes vieram depois de terminarmos o filme. Steven e o mesmo editor, que foi pressionado a obter um green card, mudaram-se para Burbank e este trabalhou com Spielberg na Amblin  no lote da Universal em outros projectos. Steven continuou a editar o filme para ter certeza de que não perturbaria os pais ou os filhos. Acredito que entregámos um filme de 80 a 82 minutos, incluindo todos os créditos. A duração final editada foi de 69 minutos, a mesma de Bambi (1942).

 

Melhores cumprimentos,

 

Gary

Embora se tenha dito que as cenas não foram salvas, é de recordar que o mesmo foi dito para as cenas de All Dogs Go To Heaven/Todos os Cães Merecem o Céu, mas a cena do inferno sem cortes foi encontrada no Verão de 2016.

Fica a conhecer mais Filmes Obscuros para Crianças.


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