O filme The Last Unicorn foi realizado em 1982 por Jules Bass e Arthur Rankin Jr.. Adaptado de um livro com mesmo nome, escrito por Peter S. Beagle, que também fez o roteiro do filme, é uma grande produção ocidental (apesar de ser animado por japoneses e russos).
Destaca-se por ter grandes actores no elenco dando suas vozes às personagens, como Jeff Bridges, Mia Farrow, Alan Arkin, e Angela Lansbury, mas também pela sua banda sonora composta por Jimmy Webb com canções da banda America.
[O seguinte artigo contém spoilers de The Last Unicorn]
Um conto mágico… mas também reflectivo
Esta é a história do último dos unicórnios e da sua demanda por terras estranhas no sentido de encontrar outros da sua espécie. É, também, uma belíssima metáfora sobre a imaginação, a criatividade humana, sobre a magia, a literatura e a condição humana.
No decorrer da sua busca, descobre que todos os outros unicórnicos foram capturados pelo Rei Haggard. No caminho para o castelo de Haggard, ela conhece o feiticeiro Schmendrick, que transforma a unicórnio em humana, mais especificamente em Lady Amalthea.
Ser transformada em humana para a Unicórnio, é algo pior do que a morte. Sendo imortal, o maior tormento para ela é tornar-se mortal. Com a sua morte não acabaria só a sua vida, mas também parte da magia do mundo.
Animação além fronteiras, com muito para dar
Uma prática muito comum da Rankin/Bass era contratar estúdios japoneses para fazer as suas animações, talvez por ser mais barato ou porque o serviço era realmente bom (ou ambas).
Tanto stop-motion como animações comuns eram feitas no Japão, por estúdios que mais tarde viriam a ser comprados pela Disney e pela Ghibli.
O estúdio responsável por The Last Unicorn, inclusive, trabalhou em duas adaptações de O Feiticeiro de Oz, em Nausicaä do Vale do Vento, e em séries animadas incluindo a dos Jackson 5, além de adaptar O Hobbit.
Um grupo de antagonistas pouco tradicional
Os dois antagonistas de , Mommy Fortuna e Rei Haggard, contrastam fortemente com os vilões da Disney, pois são moralmente ambíguos.
Mommy Fortuna é uma feiticeira poderosa, e um dos poucos humanos capazes de reconhecer a Unicórnio pelo que ela é, e não apenas como uma linda égua. O unicórnio e a Harpy são as únicas criaturas mágicas reais que ela capturou.
Mommy Fortuna sabe que a Harpy vai matá-la um dia e, ao contrário dos vilões da Disney, está totalmente pronta para abraçar o seu destino, não temendo a morte. O seu único desejo é uma forma pervertida de imortalidade – o seu corpo vai morrer, mas a Harpy vai para sempre lembrar-se de que foi a Mommy Fortuna quem a capturou.
O rei Haggard é ainda mais moralmente ambíguo. Ele não é verdadeiramente mau, mas desesperadamente deprimido ao ponto de o tornar egoísta. A visão dos unicórnios é a única coisa que lhe dá alegria e o faz recapturar a sua juventude perdida.
Incapaz de enfrentar a vida sem saber que sua fonte de alegria lhe estava disponível a qualquer momento, instruiu o seu animal de estimação, The Red Bull, a reunir todos os unicórnios juntos e aprisioná-los no mar ao lado de seu castelo. Não o fez para ser mau mas sim como uma tentativa absolutamente desesperada de curar a sua depressão vitalícia.
Finais felizes… Só na Disney
Os sonhos não se realizam em . Sim, a Unicórnio tem sucesso no seu objectivo de libertar os seus companheiros, mas para isso teve que desistir da sua recém-descoberta, a mortalidade, e viver para sempre, conhecendo o arrependimento, e lembrando o amor que uma vez teve. Essa mancha da humanidade até a separa dos outros unicórnios, já que eles não teriam compreensão de emoções humanas desse género.
Os outros personagens também não realizam os seus sonhos. Schmendrick eventualmente prova que é um mago talentoso, mas claramente nunca terá um verdadeiro controlo sobre a magia. Molly Grue finalmente encontrou o seu unicórnio e o amor com Schmendrick, mas a sua juventude e inocência já se foram há muito tempo.
Mesmo o Rei Haggard nunca realmente realizou os seus sonhos de felicidade genuína, uma vez que nunca ganhou o controlo de todos os unicórnios.
Um filme profundo, que faz pensar
Para crianças? Talvez não
não é um filme feliz. É, na melhor das hipóteses, agridoce, embora as coisas tenham saído tão bem quanto poderiam ser sem haver um deus ex-machina para resolver tudo. Nunca foi destinado a ser um filme para crianças. É um filme para adolescentes e adultos que já ouviram todos os clichés de contos de fadas e querem algo que os faça pensar, em vez de algo que possa causar uma catarse emocional superficial.
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