Baseado no romance de 1977, de Richard Adams, The Plague Dogs conta-nos as aventuras de Rowf, uma mistura de labrador preto, e Snitter, um fox terrier, depois de fugirem de um laboratório de pesquisa em animais no norte da Inglaterra.
Tais experiências são evidentes a partir das cenas de abertura, quando colocados dentro de um laboratório de pesquisa militar secreto, que executa testes cruéis e sem sentido em animais para fins misteriosos. A instalação é um covil perturbador repleto de gaiolas, equipamento, e descobertas cientificas ameaçadoras. Um incinerador sinistro pode ser a maneira mais humana que os sujeitos de teste têm de morrer.
Quando Rowf e Snitter escapam, estes lutam pela sobrevivência. A comida é escassa nas Terras Altas, e os cães recorrem à matança de ovelhas, chamando a atenção dos habitantes locais. Quando um repórter de televisão adquire a história e conecta os cães ao laboratório, isso leva à especulação de que os caninos tenham uma espécie de peste bubónica. Rowf e Snitter, auxiliados por uma raposa chamada Tod, mal conseguem sobreviver ao inverno rigoroso, quando os militares são chamados para exterminar a “ameaça nacional”.
Há uma “névoa de destruição” que recai sobre os animais desde o seu primeiro momento em liberdade, e sobre as poucas dúvidas sobre a probabilidade de sobrevivência na natureza e a crueldade do homem. Martin Rosen costuma descrevê-los como pouco mais do que pequenos sinais contra o campo, ao passo que absorve a grandeza dos desfiladeiros rochosos e das encostas cobertas de erva, enfatiza uma sensação de desamparo, exposição e perigo.
A saúde mental dos animais é “perturbada” pelas cicatrizes disfuncionais deixadas pelas experiências sofridas no laboratório. Rowf, vítima de estudos de resistência à natação, tem medo da água, e uma desconfiança em relação aos seres humanos, que afecta a sua personalidade, deixando-o rabugento, paranóico e fatalista.
Snitter é mais optimista, tendo vivido uma vida idealista com um dono humano. No entanto, a morte do seu dono num acidente de carro, e as experiências no laboratório feitas ao seu cérebro deixaram-no propenso a ataques de demência e alucinações. Este sofre de sonhos acordados, e às vezes não consegue distinguir o passado do presente.
Ainda na fuga, Snitter encontra um agricultor local, que ao contrário dos outros humanos, parece uma pessoa genuinamente gentil e disposta a adoptá-lo. No entanto o que acontece a seguir só posso descrever como macabro.
Snitter corre para o humano e sem querer mete a pata no gatilho da arma que o humano colocou encostada a si. A bala atinge a cara do homem, este cobre a sua face ensanguentada com as mãos, e cai aparentemente morto no chão. E para amargurar ainda mais as coisas, parece que esta era a única hipótese que ambos os cães tinham de encontrar um lar.
O que deixa mais traumas em Snitter, que já antes se culpava da morte do seu antigo dono, que o salvou de ser atropelado por um carro, morrendo ele no seu lugar, e agora sem querer mata outro humano. Isto tudo só agrava a situação para os cães.
Os media rapidamente assumem que os cães devem ter vindo do laboratório, descobre-se então que o mesmo pratica experiências em animais, e que este fazia testes com a peste bubónica, dai a suspeita de que os animais fugitivos sejam portadoras do vírus.
Um dos residentes localiza os cães e prepara-se para matar um deles com a espingarda, quando é atacado por Tod a raposa. Esta faz com que o humano se desiquilbre e caia ravina abaixo. Quando a polícia descobre o corpo do homem, vê que os cães comeram parte do mesmo. A coisa complica-se, pois agora o exército foi convocado para localizar e aniquilar os animais antes que matem mais pessoas.
Atenção: SPOILERS
Tod faz-se passar por isco para distrair-os humanos enquanto que os cães fogem em direcção à praia. Os cães conseguem fugir e chegar à praia mas Tod não tem a mesma sorte.
Em The Plague Dogs, o foco são os animais. O tempo é todo dedicado a eles, e realmente a produção consegue desenvolver as personagens e testar as suas reacções. Os seres humanos são tratados de forma bastante não convencional, largamente deixados como uma ameaça periférica.
Rosen mantém os seus rostos cobertos ou fora de ângulo, onde a sua presença é necessária; retratando-os de um ponto de vista de um cão. Para manter a acção compreensível, uma narração incomum de trechos de diálogo é usada, com as vozes de pessoas a quilómetros de distância observando os cães.
O final pessimista tem sido fonte de muita controvérsia. Encurralados numa praia pelos militares, os cães nadam para o mar, onde sobrevivem mais do que o esperado devido ao treinamento de resistência. No livro, Adams cria um “Deus ex. Machina” , um barco de pesca que resgata os cães, e descobre-se que o dono de Snitter afinal não estava morto. Uma reunião feliz encerra a fuga, com Rowfl a ser adoptado pelo sr. do barco.
Rosen no entanto toma o caminho mais corajoso, levando a alegoria até à sua conclusão lógica. As nuances espirituais da última imagem nebulosa têm uma dignidade que os animais merecem.
O filme termina como tal começou, com silencio total, sendo interrompido por vezes, com o som da água. Rowfl continua a dar a Snitter esperança que estes chegarão à ilha, pois como a experiência revela, se uma espécie tiver esperanças de ser salva, esta irá continuar a lutar pela sobrevivência.
Atenção: Fim dos SPOILERS
Trivia fact: As experiências que o filme retrata são reais
Uma experiência “interessante” foi feita na década de 1950 por um cientista chamado Curt Richter. Este pegou em meia dúzia de ratos domesticados e os colocou em jarros meio cheios de água. Os ratos ainda nadaram um pouco antes de desistirem e afogarem-se.
“O primeiro rato”, observou Richter, “nadou e morreu dois minutos depois”. Mais dois dos 12 ratos domesticados morreram da mesma maneira. Curiosamente, os nove ratos restantes não sucumbiram com tanta facilidade; eles nadaram por dias antes de finalmente desistirem e morrerem.
Da segunda vez, Richter fez a experiência com ratos selvagens, conhecidos pelas suas habilidades na natação. Um por um, colocou-os na água, e um por um, eles o surpreenderam: poucos minutos depois de entrarem na água, todos se afogaram.
“Porque motivo estes ratos simplesmente desistem e morrem?” ele se interrogou. “Porque é que todos os ratos selvagens morrem imediatamente após a imersão e apenas um pequeno número de ratos domesticados não?” Ritcher voltou a fazer a mesma experiência mas desta vez retirou os ratos da água por uns instantes e voltou a coloca-los de novo na água, estes continuaram a nadar para sobreviver.
A resposta, em uma palavra: esperança
Os ratos que foram salvos pelo cientista por uns minutos, nadaram por muito mais tempo e prevaleceram sobre os ratos que foram deixados sozinhos. Vejamos, os ratos selvagens entenderam claramente que não havia como sair do jarro. Eles entenderam que estavam em uma situação contra a qual não têm defesas. Então “desistiram”.
Ritcher voltou a colocar ratos selvagens no jarro. Mas, pouco antes de morrerem, ele retirou-os da água, segurou-os um pouco e depois colocou-os de novo na água. Ele escreveu, “os ratos aprendem rapidamente que a situação não é realmente desesperadora”.
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