Em finais de 1997, Portugal viu o seu primeiro Final Fantasy. Foi a sétima entrada desta franquia que de “final” aparenta ter pouco. Final Fantasy VII foi dos primeiros RPGs a ser publicitado para o jogador comum: um videojogo multi-disco, em 3D, com cinemáticas detalhadas, era um pacote bem atractivo na altura e vendia bem as capacidades da primeira consola da Sony, a PlayStation.
Antes disso, o género era visto pela indústria como algo com um público-alvo mais limitado nas consolas.
Final Fantasy em particular, não era levado muito a sério. Excepto um ou outro derivado, a série nunca tinha sido lançada na Europa. Nos Estados Unidos, apenas três dos seis jogos foram lançados, com a numeração errada, e extremamente censurados.
Já Final Fantasy IV foi completamente massacrado ao ponto de ter mecânicas de jogo essenciais completamente removidas.
Felizmente, essa situação melhorou graças ao sucesso astronómico que a série teve na PlayStation.
Todas as aventuras anteriores foram relançadas, até mesmo aquelas que nunca tinham saído do Japão, e a Europa finalmente apanhou o comboio. Mas nem sempre foi num estado em condições.
Por exemplo: até hoje ainda não tivemos uma versão decente do Final Fantasy III como a da Famicom, mas foi o que se arranjou.
Foi assim que finalmente recebemos a primeira entrada em 2003.
Final Fantasy foi originalmente lançado em 1987 na Famicom, a versão japonesa da NES. O seu nome, que hoje em dia é alvo de chacota devido às inúmeras sequelas que foram lançadas posteriormente, não foi influenciado pela carreira do director Hironobu Sakaguchi estar em risco, como se costuma pensar (apesar de isso também ser verdade).
A verdade é mais simples: o nome foi apenas escolhido por usar as siglas “FF”. Pode parecer uma razão sem grande sentido, mas a realidade é que quando se escreve FF com um número romano à frente sabe-se logo que se está a falar.
Se estás à espera de penteados pontiagudos, espadas gigantes, e metralhadoras num mundo pseudo-futurístico, vais ficar desapontado.
O videojogo foi feito em resposta ao Dragon Quest, numa altura que o “J” de “JRPG” ainda mal se via.
Final Fantasy parece mais, na verdade, uma campanha de roleplay tradicional, daquelas feitas com lápis e papel. Os seus cenários englobam coisas como salvar uma princesa de um cavaleiro renegado chamado Garland, parar um grupo de piratas, acordar um príncipe elfo do sono eterno, etc…
Portanto, não é surpresa nenhuma termos o controlo de quatro personagens diferentes, cada uma com a sua classe.
No início do jogo, podemos escolher qual a composição da nossa party. Temos o Warrior (uma personagem mais conhecida hoje em dia por Dissidia), o Thief e o Monk. Estes três só podem atacar e usar itens, diferenciado-se entre eles apenas pelos seus stats e equipamento que podem usar.
Depois temos os magos: o Black Mage, o White Mage e o Red Mage, que para além dos outros comandos podem fazer… Hum… Magia.
Os Black Mages fazem magia ofensiva, os White Mages defensiva e recuperadora (excepto contra os mortos-vivos) e os Red Mages podem usar ambas as disciplinas e algumas armas das outras classes, mas nunca com a mesma destreza das classes mais focadas. Perto da última parte do jogo existe ainda a opção para fazer upgrade a todas estas classes.
A jogabilidade está dividida em dois segmentos principais.
Um deles é a exploração do mundo vista de cima, onde vamos para as cidades procurar informação, comprar equipamento… Ou para as masmorras em aventuras, pois claro.
O outro são as batalhas. Os inimigos são colocados no lado esquerdo e as nossas personagens do lado direito, e elas atacam-se umas às outras por turnos, depois de inserirmos os comandos pretendidos. Mecânicas da praxe para quem já conhece.
Apesar da sua simplicidade já se começavam a ver alguns traços típicos da série.
Apesar de ser básica e com pouco detalhe, existe uma narrativa global que começa a ter força por volta da segunda metade do jogo, culminando na revelação sobre um dos vilões do início do jogo que aparentava ser apenas uma personagem secundária (novamente, já não é surpresa nenhuma para quem jogou o Dissidia). Algo em linha com outras séries originadas da mesma altura, igualmente complicadas, e que começaram de forma mais pacata. O Metal Gear, por exemplo.
Outro pormenor que se destaca, que na altura era raro mas hoje em dia damos como garantido, é a utilização de veículos para viajar no mapa.
Um deles é a famosa Airship que permite alcançar praticamente qualquer lugar do mapa sem entraves. Claro, não podemos esquecer o génio musical de Nobuo Uematsu, cujas obras são sinónimos da franquia.
Mas a verdade é que o videojogo não envelheceu tão bem quanto isso, principalmente as versões originais: onde só se pode gravar nas estalagens; nas batalhas falhamos o ataque por completo se o comando em espera está sobre um inimigo que já morreu; as magias usam um sistema de cargas mais limitado em vez de usar MP como nas entradas posteriores; etc…
As versões lançadas depois do Game Boy Advance são mais simpáticas nestes aspectos, no entanto.
Se estás farto de filmes atrás de filmes, e de JRPGs com termos sem sentido atirados para o ar, talvez haja algum mérito em voltares para tempos mais simples.
Eu gosto demasiado da série da era da Squaresoft para ter uma opinião totalmente imparcial… Mas eu acho que ainda existe algum mérito em jogar este estilo de RPG mais tradicional, principalmente quando hoje em dia o típico JRPG (sem incluir as excepções óbvias) tem mais luzes e fumo que outra coisa qualquer.