O Final Fantasy VII Remake remete até o ano de 2005, onde a Square Enix demonstrou uma tech demo de Final Fantasy VII banhado com o poder da Playstation 3. Desde então, jogadores de todo o mundo não pararam de sonhar, e requisitar à empresa um remake de um dos jogos mais icónicos e célebres de todos os tempos.
Anos passaram, e o sonho parecia esquecido. No entanto, durante a E3 de 2015, na conferência da Sony, o sonho ainda estava vivo e a promessa que separava mais de duas décadas seria finalmente saciada com o anúncio formal que Final Fantasy VII Remake veria a luz do dia. Anos mais tarde, finalmente chegou a altura de pegarmos na nossa Buster Sword, espigarmos o cabelo e partir à aventura na companhia de um grupo de personagens intemporais.
História
Tal como no título clássico, este Remake volta a abrir com Cloud Strife, um mercenário aliado ao grupo Eco-terrorista AVALANCHE. Este é contratado pelo seu líder Barret Wallace para sabotarem um reactor da Corporação Shinra, uma empresa responsável por sugar as fontes de energia do planeta. O que parecia uma simples missão para o Ex-SOLDIER, acaba por se transformar numa atribulada viagem ao seu passado, e ao destino de todas as formas de vida.
Mecânicas
Uma das críticas – ou melhor dizendo – queixas sem contexto em relação a este ponto que mais ouvi falar foram como as missões secundárias, e algumas partes novas da história, não fazem sentido e estão lá apenas para esticar o tempo de Final Fantasy VII.
Na perspectiva do jogo em si, concordo no que toca à maioria das missões secundárias. A maioria não sai muito dos seus moldes mais clássicos: “vai para o ponto X, derrota Y ou apanha o item Z e depois regressa”. Considerando que existem apenas 26 no total, só podemos fazê-las em certos capítulos e, na melhor das hipóteses, não levarão mais de 10 minutos de tempo por missão. Na minha óptica, não chegam a estorvar.
Contudo, estas e as novas partes adicionais à história principal, narrativamente, fazem muito sentido e oferecem muito valor a esta maravilhosa história mesmo nesta nova fase inicial.
Cloud
Cloud, para a maioria dos habitantes de Midgar, é apenas um tipo que não sabe nada sobre si mesmo e sem motivações aparentes a não ser ganhar dinheiro. Portanto, o seu objectivo principal consiste em ser um mercenário e desempenhar funções o melhor que consiga.
No jogo original, não conhecemos muito sobre este aspecto. Este apenas surgiu na cidade na célebre missão da sabotagem do reactor 1, juntamente com Barret, e apenas se uniu à AVALANCHE pelo facto do seu líder possuir o pagamento desta, além do seu desejo de proteger e honrar a promessa que fez à sua amiga de infância Tifa. O que aconteceu já sabemos: durante o curso da seguinte missão foi atirado numa conspiração e acabou por ficar a saber mais sobre si próprio, a própria Shinra e Sephiroth.
O mercenário sofre de PTSD e, em diversas partes da história, é visto a enfrentar os fantasmas do seu passado. De início, achei isto um pouco em demasia mas, gradualmente e com o decorrer dos eventos do jogo, percebi o seu propósito. Ao fazermos uma missão paralela, o jogador, de certa forma, está a salvar o Cloud mas numa vertente narrativa.
É o que tenho a dizer sobre a sua história, sem entrar em maiores desenvolvimentos e estragar muitas surpresas mirabolantes que vos esperam, mesmo para quem jogou o título de 1997.
Personagens Secundárias e NPCs
O jogo original também não estabeleceu nenhum vínculo ou desenvolvimento com as pessoas com quem estava a fazer estas missões e dos outros membros da AVALANCHE: Jessie, Biggs e Wedge. E Final Fantasy VII, descobrimos mais sobre as motivações deste trio, os seus traços de personalidade, etc. Jessie, ´é então uma surpresa. Também o Ex- SOLDIER não entra em grandes detalhes sobre os restantes habitantes da favela do Sector 7 e 5.
Mas aqui, neste remake, as personagens secundárias a que não demos a mínima atenção no jogo original, recebem um desenvolvimento muito maior e uma identidade própria, que os faz sentirem-se como camaradas e, de certa forma, integrantes da nova família de Cloud.
Ao longo do jogo, este gradualmente importa-se com o bem-estar destas pessoas. Mesmo as das favelas, que foram apenas NPCs com uma ou duas linhas de texto no jogo original, realmente se sentem como mais independentes. A princípio, desconfiam de Cloud, considerando-o um estranho e uma ameaça. Mas, à medida que realizamos missões secundárias e os ajudamos, a opinião destas sobre o Ex- SOLDIER 1st Class muda e fica muito melhor.
Também podemos sentir este efeito no jogo, pois quanto mais missões fizermos, mais opiniões positivas terão sobre Cloud e o seu grupo através de pequenos diálogos enquanto passamos por elas. Alguns até chegam a desejar a Cloud um bom dia e perguntarem como está. Isto faz com que toda a favela do Sector 7 pareça viva e dinâmica, e percebemos que estas pessoas são pessoas com as quais o Cloud interage e sai, não são apenas NPCs genéricos com alguns diálogos como o original. Estão lá porque ajudam o Cloud a recuperar o que ele está a perder, ou seja, a sua humanidade e o seu sentido de justiça.
Estrutura
Todos os capítulos de Final Fantasy VII cobrem apenas umas 5 horas, no máximo, do seu início. Portanto, precisava de ter estas expansões e mudanças. Por acaso, achei as novas mudanças e as coisas expandidas agradáveis e adicionais ao crescimento do Cloud enquanto personagem.
Numa cena muito inicial deste magnifico jogo, Tifa convida Cloud ao seu bar, e oferece-lhe uma bebida. Simplesmente, a maneira como se senta no bar relatou toda a relação vivida destes dois. Cloud esteve ausente demasiado tempo, e Tifa está incrivelmente entusiasmada por reencontrar o seu amigo. Esta, ao invés de permanecer atrás do balcão ou sentar-se ao seu lado, decide sentar-se distante deste, simplesmente por um receio e entusiasmo de ambas partes (ou então tem receio de ficar infectada pelo Covid-19). Também ao invés de, simplesmente, recebermos o nosso pagamento como no jogo original, Tifa decide participar com Cloud em algumas missões secundárias de forma a atribuir um pouco de humildade e oferecer uma dose de realidade ao seu amigo.
Diferenças do Original
Podemos ir mais longe e comparar todos estes desenvolvimentos com o seu título numerado anterior, Final Fantasy XV. Este tem mais missões secundárias e buscas mais tediosas, mas que nada serviram à sua narrativa ou desenvolvimento de personagens. Já em Final Fantasy VII Remake, as missões têm um objetivo mais significativo.
Prestem atenção às pessoas da favela e ouçam as suas falas, embora este possa ser um pequeno detalhe que a maioria ignorará enquanto estão a jogar. Também de sublinhar que Final Fantasy VII possui uma história muito à frente do seu tempo e agora bastante actual. Também estamos a viver uma crise ecológica, envolta em algumas intrigas económicas e sociais.
Visuais
Visualmente, Final Fantasy VII é bastante inconsistente.
Por um lado, apresenta alguns dos grafismos mais surpreendentes que alguma vez vi! As personagens principais foram redesenhadas e apresentam fantásticas expressões faciais, deixando um lado mais cartoon de lado, e passando a ter um contexto e aspectos mais realistas. Alguns dos cenários principais, nomeadamente os reactores e o eclético edifício da Shinra, apresentam sombras e texturas do mais soberbo. É realmente ver para crer!
E mesmo os monstros e eventos mais questionáveis que vimos no jogo clássico, surgem aqui de uma maneira absolutamente genial, original, única e incrivelmente contextualizados.
No entanto, NPCS menores, localizações e alguns cenários menos importantes parecem ter ficado retidos no limbo da Playstation 2. Neste espaço, temos possivelmente as texturas mais básicas e primitivas nesta geração de consolas.
Este efeito causou um efeito incrivelmente artificial quando de um lado vês Cloud e os seus camaradas da AVALANCHE, todos retratados ao seu mais ínfimo pormenor, e do outro cenários e personagens que parece que ficaram retidos num carregamento de texturas. Este desenvolvimento, acredito que seja devido às limitações da máquina da Sony, o que também faz sentido porque a produção decidiu tomar a polémica decisão de fragmentar esta história por partes.
Banda Sonora
Um dos efeitos que, certamente, não sofreu com Final Fantasy VII foi a sua banda-sonora.
A célebre banda-sonora anteriormente produzida através de Midi por Nobuo Uematsu, recebeu um contexto tão próprio e consistente que, através deste, produziu um efeito incrível que jamais experienciei noutro jogo até hoje. Mas, infelizmente, acho que passou ao lado de muitos.
Adorei como as suas faixas souberam contar uma história apenas pela sua sonoridade. Todas as faixas são recorrentes da sua obra clássica. Contudo, algumas como o tema de combate surgem em momentos diferentes da história, quer sejam momentos mais habituais como outros onde estamos a enfrentar algumas das ameaças mais letais criadas pela Shinra, e esta faixa surge de uma maneira épica.
Pequenos detalhes como o eterno tema da Aerith, também aparecem noutros momentos mais dramáticos e algumas vezes fora do seu domínio, mas contextualizados. Existirá um momento onde a vendedora de flores recorda-se da sua infância, simplesmente por conhecer alguém que também esteve sozinho, e muito levemente o seu tema lá aparece. Também algumas destas lendárias faixas souberam ambientar-se a temas de Jazz, hip-hop, techno e dance, mais uma vez num contexto muito próprio e actual.
Jogabilidade
A jogabilidade, naturalmente, também evoluiu mas, ainda assim, enraizada em alguns valores clássicos. Situada entre um misto de combate por turnos e em tempo real, Final Fantasy VII Remake fez o impensável e conseguiu saciar o apetite de fãs mais nostálgicos e de uma nova geração.
Cloud e os seus amigos já não estão confinados a pequenas acções por turnos. Agora podem livremente percorrer espaços, desviar-se ou bloquear ataques enquanto disferem alguns dos seus movimentos mais característicos de uma forma nunca antes vista!
Para assim desempenharem estas funções, necessitam de ATB. Este aumenta conforme a nossa prestação nas batalhas, e cada tem um número específico de ATB para ser realizado. Enquanto esta é alimentada, Cloud e os outros membros da AVALANCHE desferem golpes mais básicos, como golpes de espada, tiros ou artes marciais, que podem ser realizados de duas maneiras distintas, e que oferecem uma enorme profundidade aos seus combates.
O problema é que o CPU não usa estes ataques atribuídos ao botão triângulo. Estas habilidades são supostamente para serem utilizadas em combinação com ataques normais com o botão quadrado, e aqui também se não estivermos a controlar a personagem manualmente estes não existem. Talvez aqui este seja um reflexo da herança Classic, o modo que tenta replicar os combates por turnos de 1997.
Também não podemos depender das outras personagens para curar ou outras actividades relevantes, e mesmo que estas acções possam ser controladas remotamente por nós, o mais certo é controlarmos as restantes personagens, já que a barra da personagem controlada aumenta dramaticamente quando estamos em sua posse.
Modo Combate
O que continua intacto são os Limit Breaks, poderosos ataques exclusivos para cada personagem e que podem mudar o curso do combate. Sim, porque enquanto o jogo clássico apresentava valores modestos de dificuldade, em Final Fantasy VII, mesmo alguns confrontos menores contra monstros comuns podem revelar-se bastante desafiadores.
Isto na dificuldade normal, já que em fácil, conquistar ameaças em combate torna-se numa simples formalidade. Por alto, o combate é bastante refrescante e apresenta bons valores de conteúdo. Contudo, poderia ser ainda mais dinâmico se o CPU actuasse modelarmente ao mesmo.
Specs
O jogo corre a 4K via Checkerboard na Playstation 4 Pro, encontrando-se barrado a 30fps, que não sofrem quebras, nem mesmo perante os cenários mais caóticos nas lutas mais frenéticas. Também pode ser selecionado quer áudio localizado em Inglês, Alemão, Italiano, e Espanhol como o original Japonês. O jogo ainda oferece diverso texto localizado em várias línguas, sendo Português-Brasileiro uma delas.