Final Fantasy já teve os seus altos e baixos, mas incrivelmente não me lembro de um mau (mesmo mau) jogo que tenha lançado. Mesmo com todas as desvalorizações (como o antigo desenvolvimento apressado) que a Square Enix vai trazendo à saga, consegue pelo menos trazer uma experiência diferente, e com cabeça tronco e membros.
Com imensos títulos de qualidade nesta franchise com mais de 10(!) jogos, creio que nenhuma experiência é batida pelo rejuvenescimento de Final Fantasy XIV. O trabalho de Naoki Yoshida, veio transformar por completo não só a forma como Final Fantasy se apresenta ao público, como também o panorama dos MMORPG’s. Depois de Endwalker, a expansão de um MMO com a média mais alta de sempre (corrijam-me se estiver enganado), a fasquia estava elevadíssima para Dawntrail, a continuação da história dos Warriors of Light, e até ver, ficou muito abaixo do esperado.
Narrativa
Dawntrail leva-nos à nova região de Tural.
A narrativa centra-se em Wuk Lamat, que procura a nossa ajuda para assegurar o trono de Dawnservant. Ironicamente, Final Fantasy XIV continua a destacar-se dos concorrentes ao trazer temas humanos a um imenso mundo de fantasia. Encontramos dinâmicas familiares como uma rivalidade entre irmãos, entre outras, a contribuírem para um grande apoio emocional no desenvolvimento da história. Embora exista profundidade emocional, a coesão rítmica parece ser deixada de parte, pois tanto estamos a vapor máximo como paramos e estamos só a existir em termos narrativos, o que acaba por cortar a imersão.
A narrativa e exploração também se aprofundam na cultura de Tural. A história e os costumes estão intrinsecamente ligados, e, apesar de algumas inconsistências tonais, a história continua a ser manter-se grounded dentro do espetro fantasioso. Felizmente ou infelizmente, esta expansão veio carregada de controvérsia, onde não acho que faça sentido entrar, apenas refiro que a expansão é self-contained, atando as pontas soltas e preparando o terreno para aventuras futuras.
Tural é uma adição vibrante e rica em detalhes, mais talvez do que qualquer região anterior. Cidades como Hanuhanu e Yok Huy apresentam-se bastante trabalhadas, denotando-se uma clara cultura, história e estética únicas. Já as florestas de Yak’Tel, trazem biomas contrastantes, cada um digno de ser explorado. Tanto interativamente como visualmente, estas novas regiões trazem talvez a maior disparidade entre cada uma, e para com as anteriores. A construção do mundo alonga-se até ao folcore, com lendas e a história de Tural a serem integradas em praticamente todos os aspectos do jogo. Encontramos bastantes e NPCs cada um possui a sua própria história e motivações, tornando a soma das peças num conjunto quase uníssono.
Jogabilidade
Infelizmente, nem todos os aspectos do jogo são igualmente emocionantes, e seguindo a lengua-lengua dos MMOs, várias novas missões caem no poço das fetch quests ou possuem demasiadas cutscenes, contribuindo isto também para a falta de coesão rítmica. É irónico porque Dawntrail é uma expansão de altos altos e de baixos baixos, é raro existir um intermédio.
Para bem desta análise escolhi não falar das missões de ação furtiva que já existiam em Endwalker.
Estou claramente a brincar, mas não estou. As missões de ação furtiva regressam, em menor quantidade e melhor estado, todavia não são necessárias, mas esperamos por uma melhoria contínua. Embora as missões não excedam a necessidade e ritmo narrativo (até porque nem este próprio é muito certo), creio que existe bastante espaço para melhorias, mais concretamente, na variedade.
Como tradição, chega também o aumento do nível máximo, que introduz novas habilidades e mecânicas para as classes existentes, e, claro, para apicaçar o combate, chegam-nos as Pictomancer e Viper, duas novas classes.
A Viper, focada na agilidade e nos ataques rápidos, é ideal para os jogadores que gostam de combates rápidos e de curta distância, já a Pictomancer é cá das minhas, trazendo uma ao Black Mage, tendo uma mecânica de lançamento de feitiços que requer mais estratégia do que o normal, um bom “callback” a Stranger of Paradise. Embora não sejam muito diferentes das classes já existentes, é sempre um ponto positivo refrescar o combate com a profundidade, e neste caso em concreto, Dawntrail cumpriu, embora restasse espaço para superar expetativas.
Cada masmorra apresenta um conjunto diferente de desafios, garantindo que a imersão não é facilmente quebrada com momentos mortos ou constante repetição. Cada boss traz novas mecânicas, mas, embora nos apresentem bastantes desafios, estes vêm equilibrados, ou melhor, de forma faseada. Não só metemos os dodges em prática, como a dada altura encarnamos o nosso Michael Scott e o seu mítico parkour para evitar projéteis ou obstáculos*.* O desafio aumenta, mas mantém-se justo.
Audiovisual
Dawntrail acompanha a tradição da série com o portefólio visual deslumbrante. Tural traz regiões vibrantes e diversificadas, e que não só marcam presença à distância, como também me permitiram deslumbrar com bastante atenção ao detalhe. Destaca-se a paciência e foco nos modelos e animações das personagens, que conseguem comunicar sem parecerem robôs.
Na vertente sonora a Square Enix traz sempre o seu A-game, visto que possuem uma orquestra própria, existindo já continuidade, a banda sonora consegue complementar perfeitamente a atmosfera do jogo. Encontramos uma variação entre peças épicas que reforçam picos da história e faixas suaves para potenciar a sensação de intriga e descoberta. As falas estão também muito bem conseguidas, contudo, não deixo de achar que por vezes foram sobredramáticas.
Já em combate encontramos novo trabalho rigoroso nos pormenores, com cada habilidade e feitiço a apresentarem animações e efeitos que conseguem ser vistosos, mas não atrapalham a luta nem enchem demasiado o ecrã. Fiquei apenas desiludido com a falta de clima dinâmico, talvez possa ser adicionado no futuro mas de momento cada bioma é um bioma, e apenas isso, existindo margem para melhoria. Os efeitos sonoros são bastante nítidos e, tal como os visuais, não atrapalham a experiência, apenas contribuindo para uma maior imersão.
Final Fantasy XIV recebeu uma atualização gráfica com esta expansão, mas como usa o mesmo motor, o port continua extremamente acessível (como assim deve ser num MMO), para qualquer jogador, mas claro, reserva os visuais de alto gabarito para quem tem máquinas da pesada.