A magia dos beat ’em up voltou a florescer nos anos recentes. O mercado adaptou-se a uma nova era destes sucessos dos salões arcade dos anos 80 e 90, e abdicando do sistema punitivo propositado para gastar as tuas moedas, continuou a trazer propostas nostálgicas que seguem até aos dias de hoje. Final Vendetta é um desses exemplos ainda que um pouco fora do contexto mais moderno de beat’em up, e tratando-se claramente de uma reprodução do clássico Final Fight.
De volta às origens
Num pequeno exercício cerebral, facilmente imaginei-me a voltar aos anos 90, quando naquelas pequenas idas ao shopping ou às festas populares com os meus pais, arranjava sempre alguma maneira de lhes destruir uns quantos escudos e uns minutos das suas paciências. O exercício a que me propus, passava por saber se facilmente conseguiria distinguir um Final Fight, de um Final Vendetta. Talvez uma continuação directa? Umas pequenas mudanças aqui e acolá faziam distinguir uma série da outra? Seguramente que não. Desde a jogabilidade, aos personagens com as suas características idênticas, os visuais dos inimigos e os cenários, e especialmente a música; tudo aqui é Final Fight.

Existem 3 personagens para escolher, a Claire, que é na realidade a protagonista, já que a pequena temática que move os personagens a bater em tudo que mexe, gira à volta dela. O Duke, um especialista em artes marciais e especialista em pancadaria de pub, e o Miller, um bruta-montes e wrestler reformado. A diferença nas escolhas das personagens vai pesar imenso no teu estilo de jogo, ainda que considere o personagem Miller extremamente infiável e quase de resultados desastrosos em dificuldades mais elevadas mesmo para os mestres do género. O personagem é lento, desequilibrado, e com golpes em corrida menos significativos que os outros dois protagonistas. A Claire e o Duke são bem mais rápidos e equilibrados, e a personagem mais fácil de jogar é a nossa protagonista feminina, já que é a mais veloz dos 3, ideal para lidar com mais facilidade contra grandes grupos de inimigos.
O jogo começa com duas dificuldades, fácil e díficil, sem meio termo. Mesmo na dificuldade mínima, Final Vendetta é extremamente frustrante e desafiante, a fazer lembrar literalmente as arcades. Se jogares no modo fácil, começarás com 5 vidas, mas sem continues, ou seja, perdes as tuas vidas e terás que começar tudo de novo, isto no modo arcade. A diferença entre as duas dificuldades figura-se na quantidade de inimigos, mais habilidades dos chefes finais, e menos vidas ao começar o gameplay.
Mecânicas invulgares e muito desafio
Se o que esperas ao adquirir Final Vendetta é um beat ’em up casual e variado, este título não será para ti. Com 6 arenas apenas, este título pode ser finalizado em cerca de 25 a 30 minutos, daí a compreender perfeitamente a decisão do pequeno estúdio e fazer desta pequena experiência um pouco mais díficil do que seria de esperar para um lançamento do género em 2022.
Arcade é o único modo disponível para começo, e logo depois de o completares, dependendo da dificuldade ou personagem que o fizeres, irás desbloquear os modos restantes: Survival, Boss Rush e Training. Sim, o modo treino que deveria ser a primeira escolha, está bloqueado, algo que considero díficil de entender.

O desafio extremo de Final Vendetta encontra-se curiosamente nos inimigos comuns, devido a falhas nas suas mecânicas mais simples. Como já mencionei acima, a velocidade é tudo neste jogo, e quanto menos rapidez, mais sofres, e o maior exemplo disso é a inutilidade das armas que apanhas do chão, que agravam ainda mais a dificuldade. Um dos exemplos concretos é precisamente na 2ª arena, que te dá a chance de recolher uma espada antes de embarcares num elevador apertado. Logo depois de entrares, começam a chover inimigos, que facilmente te irão cercar. A espada deveria ajudar, mas o sprite tem uma animação tão lenta, que quando estás a levantar a arma para golpear, já te encontras a ser atingido pelo inimigo e a perder o golpe. Fica já agora a dica, que a melhor solução para grupos de inimigos é o grappling e arremesso, ou o uso do ataque especial que ataca em círculo, mas aconselho sempre a encher o medidor, para não usar a própria vida para aplicar o golpe.
Existe também um botão específico de bloqueio que te trava o personagem e o deixa absorver golpes, mas uma vez mais, é extremamente duvidoso. Existem golpes básicos que de facto são bloqueados, e outros quantos que não são. É sempre uma incógnita e até ao final das minhas 4 horas de jogo não consegui perceber essa mecânica.
Os chefes de cada fase podem parecer duros nas primeiras tentativas, mas logo após descobrir os seus padrões, tudo se torna mais fácil, ao contrário dos inimigos mais comuns. Existem alguns exploits fáceis de aplicar, como por exemplo no penúltimo chefe (duas Brasileiras com diálogos muito engraçados, e peritas em capoeira), que me fez encostar a um vértice da arena e aplicar apenas golpes básicos, e foi isto: esperar, e bater, repetidamente. Não fiquei orgulhoso com o resultado, mas foi preciso para finalizar a história.
Animações e banda sonora
O visual retro de Final Vendetta é muito bem conseguido e combina com toda aquela vibe old school do sucesso dos anos 90. As animações em pixel art foram muito bem elaboradas, e ainda poderás adicionar um filtro CRT nas opções, para uma simulação ainda mais vintage.
Como é habitual nos maiores sucessos beat ’em up, a música é o rastilho necessário que muitas vezes te incentiva a continuar, e aqui não é diferente. Sempre com um estilo muito característico dance, techno e umas pitadas de hip-hop de fazer tirar o fôlego, com faixas exclusivas dos Utah Saints e Featurecast. Sem dúvida que a música é um dos pontos mais altos de Final Vendetta.
Final Vendetta já está disponível para Nintendo Switch, PlayStation 5, Playstation 4, Xbox Series e Xbox One.
A equipa Squared Potato agradece à NUMSKULL GAMES LTD por nos ter cedido um código para análise na Playstation 5.