Um dos meus jogos favoritos na Nintendo Switch é, surpreendentemente, o Fire Emblem: Three Houses, a grande estreia da série clássica de JRPG tácticos na famosa portátil, que teve um sucesso tremendo com a sua excelente qualidade.

A série continuou a ter suporte na consola da Nintendo, com uma série de DLC e um novo jogo na série de ação com Fire Emblem Warriors: Three Hopes, em 2022.

O suporte da série na portátil da Nintendo tem sido constante, e, em 2023, tivemos então mais uma entrada na grande série de JRPG tático, que, por consequência, é o jogo que vos trago hoje, o Fire Emblem Engage.

Uma missão para salvar o mundo

Antes de começares a tua aventura, tens a possibilidade de escolher entre 2 versões do/da protagonista. A primeira escolha é o género, tendo a possibilidade de escolher entre masculino ou feminino, e o outro é o nome, sendo que por defeito é Alear. Para efeitos de coerência, irei tratar o protagonista por “ele”, correlacionando com a escolha que fiz para o meu jogo.

A nossa aventura começa com o nosso protagonista, Alear, a acordar de um sono de 1000 anos. Há 1000 anos atrás, houve uma guerra entre o Fell Dragon e a rainha Lumera, a mãe do protagonista.

O Alear, infelizmente, ao acordar, apercebe-se que não se lembra de nada, tendo um episódio de amnésia que lhe deixa extremamente confuso. Ele é levado pelos seus retentores até à sua mãe, onde lhe é explicado um pouco do que aconteceu. O nosso protagonista apercebe-se que é um ser com bastante poder, chamado de “Divine Dragon“.

Infelizmente, a reunião com Lumera trouxe más notícias, pois os Corrupted, seres que foram corruptos pelo Fell Dragon, voltaram, e estão a atacar os vários territórios de Elyos. O regresso dos Corrupted indica uma grande possibilidade do Fell Dragon voltar, e cabe a nós reunir as forças do continente, juntamente com 12 emblemas (algo que irei explicar melhor mais à frente), de modo a conseguirmos defender Elyos de mais uma inevitável guerra.

Um belo continente com um leque de culturas e estilos de vida

O continente de Elyos apresenta uma variedade de ambientes incrível, desde vilas medievais, a desertos e florestas. Estes cenários são complementados por uma variedade impressionante de personagens. Apesar de ser algo que já se espera da série, sinto que, no que toca a esta entrada, a variedade se destaca.

Esta variedade é complementada por um detalhe exímio em cada personagem, desde as fantásticas renderizações estilo anime já comuns da série, às animações, roupa e acessórios. No que toca aos cenários, estes não apresentam tanto detalhe, sendo geralmente mais simplificados, mas a direção artística e a variedade de cenários mantém o aspeto geral do jogo interessante e fresco.

Algo que achei bastante interessante foi a representação das culturas das personagens apenas pela sua aparência. Houve um especial cuidado com as roupas e as animações de cada personagem, de modo a combinar com a cultura e o estilo de vida que faziam, fazendo com que cada uma se destaque individualmente.

Um combate clássico e intemporal

No que toca à jogabilidade, temos aqui a clássica situação de “não se arranja o que não está estragado”. Temos o combate por turnos clássico da série, onde o posicionamento e a seleção das personagens são cruciais para o teu sucesso.

Cada personagem que se junta à tua aventura começa com uma classe pré-definida, podendo também mudar de classe com um Second Seal ou Master Seal, recursos limitados que poderás comprar ou adquirir nas missões. Cada classe tem requisitos únicos para se poder trocar, como ser proficiente a um ou mais tipos de armas, ou estar a um nível numa classe específica. A variedade de classes, sendo já comum da série, é impressionante, entre classes de infantaria focadas em armas, como o Swordmaster para espadas, e também classes com montadas, como cavalos ou grifos, como por exemplo o Cavalier e o Lance Flier.

A seleção de classes é extremamente importante para o sucesso da tua missão, sendo que o jogo utiliza uma mecânica de “pedra, papel, tesoura” para o combate. Quando tu atacas um inimigo, o inimigo também irá contra atacar, e vice-versa, mas, caso utilizes uma arma que é forte contra a arma do inimigo, este entrará num estado de “Break“, onde irá deixar cair a arma, ficando impossibilitado de contra atacar o resto do teu turno.

As montadas também afetam a eficácia no combate, sendo que, se tiveres uma personagem com uma montada, ela se irá poder mover mais distância por turno que a infantaria. Se tiveres uma montada que voa, podes até passar por cima de certos obstáculos, dando-te mais flexibilidade e controlo do mapa. No que toca a fraquezas, as personagens que estão num cavalo são vulneráveis a magia. No que toca a personagens numa montada voadora, estas são extremamente vulneráveis a flechas.

Se quiseres aumentar a tua vantagem ainda mais, irás encontrar no cenário pequenas zonas que mudam alguns atributos das personagens, como por exemplo os arbustos, que melhoram a capacidade de se poderem afastar dos ataques. Também existem habilidades ou catapultas que podem deixar pequenas partes do cenário em fogo, que dá um certo número de dano por cada tudo que uma personagem se mantém dentro da área do mesmo.

Estes são os fundamentos básicos do combate, que irás utilizar ao teu critério para poder superar as várias batalhas que irás ter durante a aventura, mas, devido aos Emblems, uma mecânica nova desta nova entrada, a dinâmica do combate é alterada ligeiramente, na minha opinião, para uma jogabilidade mais ativa.

Explicando melhor os Emblems, estes são anéis que irás adquirir ao longo do jogo, que basicamente te deixam invocar um herói dos jogos anteriores e fundires-te com ele. Esta fusão chama-se Engage, e dá uma série de habilidades passivas e ativas à personagem. Dando um exemplo, o Emblem of Beginnings, que pode invocar o grande herói Marth, dá uma série de passivas que fazem da personagem um “monstro” dos duelos, como melhorar as chances de evitar o dano de um ataque quando se inicia o combate com a personagem, ou então poder dar um ataque extra caso o ataque dê break ao inimigo. Estas habilidades passivas vão melhorando e desbloqueando-se quanto mais usares o Emblem em combate, aumentando a bond que tens com o mesmo, tornando-te mais próximo dele.

Para poderes fazer engage com o teu Emblem, terás de encher uma barra, que recuperas ao atacar inimigos, ou a terminares o turno numa zona com uma espécie de um círculo de energia azul.

Obviamente que há muitos mais Emblems que poderás usar e equipar livremente nas personagens que quiseres. Por motivos de querer evitar spoilers, não irei exemplificar, mas tens uma série de heróis adorados pelos fãs que irão estar dispostos a te ajudar na aventura.

Outra mecânica interessante é que também podes usar os bond fragments, um recurso limitado que irás ganhar à medida que vais jogando, para uma série de situações. Podes usar os bond fragments para poder criar aneis básicos de outras personagens secundárias dos vários jogos, que podes equipar em qualquer personagem para melhorar os stats do mesmo. Podes também utilizar estes fragmentos para herdar habilidades de um Emblem em que tenhas um certo nível de bond atingido, podendo manter algumas das suas passivas, mesmo estando desequipado. Podes também melhorar as tuas armas com upgrades únicos que cada anel te dispõe, mudando drasticamente os atributos das mesmas. Este recurso é extremamente útil e dá ao jogador ainda mais flexibilidade para personalizar a sua forma de combater e otimizar as personagens.

Independentemente de como te aproximas do combate do jogo, a qualidade é, tal como esperado da série, excelente. Não há nada mais satisfatório que ter a combinação perfeita de terreno e vantagem de armas para executar um turno de destruição massiva nos adversários.

Tudo isto com animações de ataque excelentes, com todos os ataques a ser satisfatórios e com um impacto espetacular. No que toca a ataques especiais e críticos, os ângulos de câmara e as vozes das personagens dão a sensação de algo épico e grandioso.

Um loop satisfatório, mas pouco variado

Fire Emblem não se rege apenas pelo seu combate, tendo também mecânicas a nível de socialização com as personagens e também atividades e minijogos que podes fazer entre as várias missões. Fire Emblem Engage não é uma exceção e também te dá a hipótese de conhecer as personagens que te acompanham, bem como fazer alguns minijogos e missões secundárias pelo caminho.

Para descansares entre as missões, tens a oportunidade de visitares Solm, o hub principal do jogo, e é aqui que vais fazer maior parte da socialização com as tuas personagens, os minijogos, e também qualquer preparação para futuras missões.

Começando pelo aspeto social, temos um sistema semelhante aos jogos anteriores, onde todas as personagens têm um sistema de categorias de suporte, entre C a A, onde C é o primeiro nível, e A o nível mais alto. Todas as relações possíveis estão incluídas nesta escala, ou seja, não tens apenas o protagonista com todas as personagens, como também tens as várias personagens entre si. Para poderes melhorar a relação com qualquer personagem, tens de garantir que as utilizas nas missões, e, ao derrotares inimigos com 2 ou mais personagens próximas, as mesmas irão melhorar a sua relação. Também podes utilizar, por exemplo, a cozinha em Solm, onde podes escolher até 2 personagens para tomar uma refeição com o protagonista, melhorando a relação entre os 3. Quando atinges o nível suficiente para passar para uma das categorias seguintes, podes ativar um evento de support, onde podes espectar uma pequena cutscene onde as personagens falam entre elas, correlacionando ou chocando os seus interesses.

Estas cutscenes dão bastante entretenimento, sendo muita vezes focadas em comédia. Penso que é uma boa forma de identificar as personalidades distintas das várias personagens, dando mais ênfase à variedade presente no elenco.

Infelizmente, reparei que eu estava a avançar demasiado depressa nas relações. Quando uma personagem é apresentada na história, é possível chegar ao máximo de suporte da mesma em cerca de 2 a 3 missões. Isto praticamente faz com que, num espaço de cerca de 2 horas, passes de apenas um conhecido com interesses mútuos a partilharem a história das suas vidas como melhores amigos/amigas, o que quebra um pouco da autenticidade das relações entre as mesmas.

Os minijogos são bastante básicos, como uma espécie de Panzer Dragoon com um Shoot’em Up onde voas num dragão a disparar a alvos, ou uma sessão de treino intensa, onde podes fazer, por exemplo, abdominais e flexões, de modo a melhorares um stat à tua escolha para a missão seguinte.

Assim que estiveres pronto, podes dirigir-te ao mapa do continente para selecionar a tua próxima missão. O jogo tem 3 tipos de missões, sendo elas:

  • Chapters: Estas são as missões de história. Cada missão avança um capítulo da história, contendo uma ou mais lutas, juntamente com uma boa dose de diálogo e cutscenes;
  • Paralogues: Missões secundárias referentes aos Emblems. Estas missões são missões secundárias onde irás lutar contra um Emblem que tens, onde irás para uma área que homenageia o jogo pertencente ao Emblem. Estas missões melhoram o nível máximo de bond do teu Emblem, podendo ficar ainda mais forte;
  • Skirmishes: Missões secundárias ilimitadas. Estas missões servem apenas para poderes fazer o teu farm. São missões simples que geralmente envolvem uma luta numa área previamente visitada, com o objetivo de ganhar recursos como experiência, dinheiro e materiais para melhorares o teu equipamento e personagens.

Como veem, a simplicidade foi o principal objetivo da equipa no que toca à estrutura de progresso e missões do jogo, sendo bastante fácil de discernir o que é importante, sem a existência de um mapa cheio de ícones e conceitos confusos. Penso que, no que toca ao aspeto mais casual, este é possivelmente um dos melhores jogos da série, com uma progressão simples, fácil e mais direta.

Uma composição que inspira

Gostaria de desenvolver mais o aspeto musical de Fire Emblem Engage, mas, nesta situação, temos aqui algo que já é comum da série. As inspirações em anime, com o uso de música orquestral, mas com um toque moderno de rock e eletrónica, é algo que penso já estarmos habituados. No entanto, não deixa de ser uma composição de qualidade, com grandes temas que fazem o teu coração bater um pouco mais rápido nos momentos mais intensos. É sem dúvida um OST presente, sendo um fator que melhora a qualidade do combate, dando o ambiente épico que devidamente merece.

Fire Emblem Engage já está pronto para ser invocado para a tua Nintendo Switch.

CONCLUSÃO
Envolvente
8.5
fire-emblem-engage-analiseFire Emblem Engage mostra-se como mais uma entrada de qualidade numa das melhores séries de RPG táticos da indústria. Apesar de ter uns pequenos buracos pelo caminho, a história emocionante e o combate de qualidade intemporal fazem desta viagem uma bastante livre de caminhos atribulados.